INTERNACIONAL

Empresas do Ceará já sofrem com bloqueio do Canal de Suez; produtos devem ficar mais caros

Aumento do valor dos produtos pode acontecer devido ao encarecimento do frete marítimo

 

O encalhe do navio Ever Given no Canal de Suez, principal passagem marítima entre a Europa e a Ásia, está afetando cerca de 12% do comércio mundial desde terça-feira (23) e já causa reflexos no Ceará. Associada a outros problemas causados pela pandemia, a situação deve onerar o custo do frete marítimo, podendo elevar o preço de produtos transportados em navios, desde combustíveis a frutas.

O alerta é do mestre em Direito Marítimo, Larry Carvalho, que lembra do já abalado cenário do comércio internacional. “Em torno de 50 navios passam por lá todo dia. Então já são cerca de 100 aguardando passagem. A estimativa é de prejuízo de US$ 400 milhões por hora“, ressalta.

https://youtu.be/77WobPYAF5A

 

Ele explica que, com os navios parados aguardando a desobstrução do canal, os atrasos elevam os custos, além de diminuir a oferta de embarcações disponíveis. Esses fatores devem pressionar o frete marítimo, encarecendo de forma generalizada o preço dos produtos transportados pelo mar.

“O comércio internacional já está sendo muito afetado pela Covid. Há alguns meses, sofremos com a alta de contêineres no mercado asiático, o que encareceu o mercado e o frete marítimo disparou. No Canal de Suez, não são só os contêineres afetados, mas também navios de granel líquido e sólido”, detalha.

 

PRESSÃO NOS PREÇOS

Para os consumidores, isso se traduz em produtos mais caros e consequente maior pressão da inflação. Segundo o especialista, empresas exportadoras cearenses também já estão com dificuldade de conseguir navios para escoar a produção.

Carvalho ainda lembra que a restrição de mão de obra nos portos por conta da segunda e terceira ondas de contaminação de Covid-19 também é um desafio extra para o transporte marítimo.

“Nas duas costas dos Estados Unidos já estamos tendo congestionamento de navios. Processos que antes duravam horas estão demorando dias e até semanas”, pontua.

ATRASO NAS ENTREGAS

O presidente do Conselho Temático de Infraestrutura, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Heitor Studart, indica algumas entregas podem atrasar até 60 dias por conta do bloqueio do Canal de Suez. Isso porque a passagem é a ligação mais rápida entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, permitindo a ida da Europa para a Ásia sem precisar contornar a África.

“Algumas rotas vão ter impacto de 30 dias, mas outras podem chegar a 60 dias. Todos os fechamentos de tarifas e contratos estão sendo repactuados momentaneamente por conta desse bloqueio”, avalia. Ele acrescenta que poderá haver um desabastecimento temporário de alguns produtos por conta dos atrasos.

Studart afirma que todos os setores em geral serão prejudicados, mas em especial o petroquímico, metalmecânico, automobilístico e até mesmo de frutas e grãos.

CONSEQUÊNCIAS GENERALIZADAS

O economista Alcântara Macêdo ressalta que o encalhe e a obstrução da passagem é uma situação incômoda que trava a articulação da economia mundial.

“É uma artéria que funciona há muitos anos e já é consolidada na transferência de mercadorias. Cabe agora a quem pode ajudar nessa situação, líderes políticos e, principalmente, quem está no foco, interferir e garantir que os interesses maiores sejam preservados, aqueles que podem dar retorno a sociedade, com emprego, renda, impostos”, destaca.

Ele lembra que os impactos serão sentidos no mundo inteiro, mas que devem chegar ao Brasil e à América do Sul com menos força. “Não é uma situação extremamente vexatória, que vai afetar mais ainda a dificuldade em que estamos. O petróleo pode aumentar e mercadorias elevações podem sofrer pelo atraso, custo que deve gerar inflação, mas não é uma consequência direta com peso grande. Ainda assim, não deixa de acender uma luz amarela”.

IMPORTÂNCIA DO CANAL DE SUEZ PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL 

O Canal de Suez é uma via artificial navegável localizada no Egito entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho. Por reduzir a rota entre a Europa e a Ásia em cerca de 7 mil quilômetros, se tornou uma das principais vias marítimas do mundo, pela qual trafegam 12% de todo o comércio internacional.

Em 2019, cerca de 50 navios passaram por dia pelo canal, representando quase um terço do tráfego mundial de navios de contêineres. A rota ainda concentra grande parte do petróleo transportado por mar.

Segundo a Bloomberg, aproximadamente US$ 9,6 bilhões em tráfego marítimo por dia foram interrompidos com o encalhe.

 

*DN


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