SÃO PAULO (Reuters) – O sistema elétrico do Brasil pode estar atravessando o que seria um “novo período crítico” para a produção das hidrelétricas, principal fonte de geração do país, com os reservatórios das usinas mostrando tantas dificuldades para se recuperar quanto nos piores anos já registrados até então, de 1948 a 1955.
A avaliação consta de estudo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e levanta dúvidas sobre os eventuais efeitos da mudança climática global sobre a indústria de energia do Brasil, que por décadas baseou-se principalmente na geração hídrica.
As hidrelétricas representam mais de 60% da capacidade instalada em energia do Brasil, um percentual que chegou a ser bem maior, de cerca de 80% até o final dos anos 90, a partir de quando o país passou a investir mais em termelétricas e depois em novas fontes renováveis, como usinas eólicas e solares.
“Desde 2012 para cá, tivemos uma redução muito forte nas precipitações na região Nordeste, e de 2013, 2014 para cá, também se deu isso no Sudeste/Centro-Oeste… então essa é uma provocação que estamos lançando”, disse à Reuters o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata.
A conclusão preliminar do órgão do setor de energia leva em conta o fato de que os reservatórios hidrelétricos não conseguiram recuperar seus níveis desde meados de 2012.
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“Tudo indica que o sistema interligado nacional (SIN) estaria em um novo período crítico face ao longo horizonte de meses (79) a partir do qual saiu do armazenamento máximo e não houve mais reenchimento pleno”, apontou o ONS no chamado Plano da Operação Energética 2019-2023 (PEN), divulgado nesta semana.
Entre as décadas de 40 e 50, o sistema ficou 89 meses sem atingir essa recuperação.
O diretor-geral do ONS disse que ainda é preciso maior interação com meteorologistas para entender o cenário, destacando também a dificuldade de se tirar conclusões sobre as repercussões futuras do atual momento de crise hidrológica.
“Há uma dúvida nesse ponto também sobre se teríamos um período crítico e depois voltamos para a média ou se isso é fruto de mudanças climáticas… se essa é a nova média de longo prazo (MLT), o novo normal. Pode acontecer”, afirmou Barata.
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