NORDESTE

EXCLUSIVO: Wellington Dias revela entendimentos para ampliar vacinação e aponta projetos de superação no Nordeste

A edição de número 170 da Revista Nordeste traz em destaque como capa a atuação do governador do Piauí, Wellington Dias, presidente do Consórcio Nordeste e do Fórum dos Governadores. Ao jornalista Walter Santos, ele fala sobre a pandemia, projetos para o Nordeste e o Governo Bolsonaro.

A nova edição da Revista Nordeste já está no ar no Portal WSCOM, no site da Revista Nordeste, ou no App Revista Nordeste (Google Play e Apple Store).

Veja na íntegra:

Pandemia e conjuntura da crise revelam governador do Piauí como articulador de desempenho de liderança nacional

Na fase mais difícil da COVID no Brasil, Wellington Dias comenta as prioridades e urgências no País, inclusive restrições, mas acha que “Pacto pela Vida” supera interesses políticos

Por Walter santos

Em plena crise da COVID-19 a partir de 2020 eis que ascende na presidência do Consórcio Nordeste, forte articulação política de 9 governos de Estado, o governador do Piauí, Wellington Dias, com tamanho nível de desempenho que o fez também ocupar a liderança do Fórum de Governadores do Brasil. Nesta entrevista, a partir de Live para Revista NORDESTE, ele avalia os problemas e efeitos com o Governo Bolsonaro, garante novos diálogos para ampliar as vacinas e diz que é preciso agir com medidas restritivas para conter o Coronavírus. Ele aborda muitos temas. Eis, na integra, seguir:

 

Revista NORDESTE:  Governador Wellington Dias, como se fosse pouco cuidar do estado do Piauí, o Sr. preside um colégio de líderes de nove governadores do Nordeste e, em várias ocasiões, representa os governadores do Brasil.  Como é que encontra tempo e disposição para tantas tarefas difíceis, sobretudo, nestes tempos em que o Brasil passa por uma das mais graves crises de sua história?

Wellington Dias: Gostaria, inicialmente, de dizer que é um prazer muito grande dialogar com a Revista NORDESTE e demonstrar o carinho e a admiração por você, pelo trabalho que realiza. Temos aqui no Piauí todo o respeito pela Revista NORDESTE. Eu acho que é um sonho, não apenas meu, mas de todos os nordestinos, ter um canal que possa levar o Nordeste para o Brasil, levar para outros países. E a Revista cumpre esse importante papel com muita seriedade, com muito equilíbrio, então é algo realmente muito especial. Quanto à pergunta,  aprendi na vida que a gente tem que, muitas vezes, trocar o pneu com o carro andando. Então, nesse momento, eu recebi a confiança de, no final do ano passado, após uma gestão com muito êxito do nosso querido Rui Costa, governador da Bahia, conduzir essa experiência inovadora do consórcio Nordeste, e, também, fui escolhido pelos 27 governadores, entre eles a Governadora Fátima, para desempenhar essa missão de cuidar das temáticas relacionadas a vacina e a pandemia, o que é um desafio gigante no momento em que a gente tem um problema grave que é a falta de uma coordenação Central. É claro que, junto a isso, a minha missão mais especial foi a confiada pelo povo do Piauí, por isto eu tenho muito zelo por meu estado, pois essa relação com  o povo do Piauí é algo muito especial. Eu tenho o privilégio de estar no quarto mandato de Governador, vencendo a disputa quatro vezes no primeiro turno. Digo isso não por vaidade, mas para realçar o tamanho da confiança do meu povo. Então, eu tenho que cuidar aqui com muito carinho, de um lado, da pandemia, de outro, da gestão e do funcionamento dos serviços, garantindo os avanços de novas ações. E assim, só peço muitas benções a Deus para poder honrar todo esse desafio.

 

NORDESTE: Independentemente da reunião do presidente Jair Bolsonaro com representantes dos 3 poderes, qual o sentimento que os senhores governadores têm por terem que conviver com um presidente que cria fatos e toma atitudes que só geram conflitos com vocês? Lembro aqui que no seu aniversário, o presidente voltou a pauta negativa contra os governadores, mesmo sendo os senhores o sustentáculo ao combate da COVID.

Wellington Dias: No aniversário do presidente, logo cedo da manhã, muito cedo, encaminhei uma mensagem, através do ministro do gabinete civil, Ministro General Ramos. Quando liguei, ele atendeu e eu deixei com ele uma mensagem escrita, em que desejei felicitações ao presidente Jair Bolsonaro, ele que foi meu colega deputado Federal. É evidente que como ele é  presidente do Brasil, a gente trata sempre com o respeito institucional, independente das diferenças, das divergências.

NORDESTE: Mas, como recebem as agressões contra os governadores, a invocação do Estado de Sitio, das Forças Armadas?

Wellington Dias: Sinceramente, temos visto essas situações sem qualquer lógica. A fala, volta e meia, é dirigida aos governadores e se apresenta completamente fora do contexto. É algo realmente impensável. E veja, essa última agenda nasceu também fruto de um trabalho conjunto. Logo que tomaram posse o presidente do Senado, Senador Rodrigo Pacheco, o presidente da Câmara, deputado Artur Lira, você se lembra, a Revista NORDESTE acompanhou, foi solicitada uma agenda com os governadores do Brasil.  Prontamente fomos atendidos e colocamos ali a necessidade de trabalhar essa pauta, de medidas preventivas, da aquisição de vacinas e trabalhar o apoio necessário para atender pacientes na rede hospitalar.

 

NORDESTE: Mas a pauta era mais extensa e envolvia outros aspectos relevantes além do combate à COVID…

Wellington Dias: Sim, também lá atrás, a gente já defendia a importância da urgência do auxílio emergencial financeiro. Inclusive, sustentei a defesa de uma posição do Nordeste, que era a de garantir, inclusive na primeira parcela do auxílio emergencial, uma reposição de Janeiro, Fevereiro, Março. Dizíamos: “olha, a fome não tira férias”. As pessoas até dezembro recebiam R$ 600, por isso não seria lógico diminuir esse valor, pois elas continuaram tendo despesas com alimentação, medicamentos e as mesmas dificuldades de antes.  Infelizmente, não foi aprovado essa reposição, mas insistimos ainda hoje nessa direção.  Junto com o auxílio emergencial, também, deveriam ser adotadas medidas de apoio aos pequenos empresários, pois há milhares de empreendedores que estão cumprindo as regras para proteger a vida e vivem tendo prejuízos.

 

NORDESTE: Como construir meios de adoção com a esfera federal de políticas abrangentes que abriguem uma futura retomada da economia?

Wellington Dias: Além, é claro, de um programa de vacinação, também, há um foco em um plano para a retomada da economia. Já lá atrás nasceu a ideia: se a gente organizar um grupo de trabalho denominado de “Pacto Pela Vida”, independente de diferenças políticas, independente de quem é pequeno, de quem é oposição, independente de quem é empresário ou gestor, município, estado, governo federal, que incluísse os três poderes – esta seria a saída. Esperamos que funcione assim.

 

NORDESTE: Como avançaram os entendimentos para uma coordenação nacional de fato?

Wellington Dias: Foi proposto, inicialmente, organizar um grupo, daí nasceu essa ideia do “Pacto pela Vida”, depois também foi construída uma agenda com o deputado Artur Lira. Ficou estabelecido assim que, na sequência, pudesse haver uma reunião dos três poderes.  Da parte dos governadores do Nordeste, ficou acertado que o representante desse grupo de trabalho seria o governador de Alagoas, Renan Filho, pelo domínio que tem dos problemas da região e pelo compromisso demonstrado com uma pauta que coloca o interesse da população em primeiro lugar. Aqui é a vida em primeiro lugar, eu acredito muito isso.

 

NORDESTE: O Sr. acredita que será construída, a partir dessa reunião, essa agenda que o país aguarda desde 2020?

Wellington Dias: Acredito que a gente tem duas opções no Brasil: será por amor ou pela dor. Já estamos tomando muitas decisões pela dor. Estamos nos aproximando de 300 mil óbitos no Brasil, 300 mil corpos estendidos. A gente imaginar tudo isso é estar diante de 300 mil famílias com a dor de perder um ente querido, um pai, uma mãe, um filho e uma filha, um neto, um ente querido, é perder um amigo, milhões de brasileiros perderam amigos, profissionais. Estamos falando, também, de jornalistas, de líderes, estamos falando de empresários, de cientistas, de artistas, de seres humanos. Aqui não é o número. Todos perdemos amigos e familiares. Portanto, nesse instante, ou a gente vai na pauta por amor ao povo, ou a gente está aqui privilegiando o coronavírus, onde  quem ganha é a morte. Assim, ou vamos para o lado que favorece a morte, o lado que favorece o coronavírus, ou vamos para o lado do povo.

NORDESTE: Objetivamente, o que fazer de imediato?

Wellington Dias: Já estamos agindo pelo lado do povo, que é o lado da ciência e isso já acontece no Nordeste. Graças a Deus, mais Estados no Brasil têm agido assim, também. O que a ciência diz? O que outros países da Europa fizeram, agora mesmo, para impedir a ampliação de uma terceira onda? O que está fazendo a França, o que está fazendo a Holanda, o que está fazendo o Chile? O Chile, aqui ao nosso lado, está adotando medidas para salvar vidas, medidas preventivas, que não agradam, que mexem com a economia, sim, que mexem com o social, mas é a alternativa para evitar isso que aconteceu no Brasil, ou seja, um colapso na rede hospitalar e, agora, com risco de faltar insumos.

 

NORDESTE: Quais as propostas defendidas?

Wellington Dias: Estamos defendendo medidas preventivas, além da urgente necessidade de acelerar a vacinação. Aliás, acabamos  de pactuar com todos os estados e municípios do Brasil, através da Confederação Nacional dos Municípios, com Jonas Donizete da frente nacional e o Aroldi da Confederação Nacional dos Municípios, base do Piauí, assim como com os governadores e as Associações dos prefeitos, para que  a gente tenha um mutirão para ampliar a vacinação.  Acertamos que todas as vacinas recebidas serão usadas na primeira dose porque temos uma reserva para quatro semanas da segunda dose. Estamos precisando agora ampliar a vacinação, então, estamos deixando uma reserva para três semanas e utilizando cerca de 4 milhões de doses na semana, para que a gente possa vacinar 4 milhões, mais ou menos, de pessoas na perspectiva de termos 6,5% da população vacinada.

 

NORDESTE: E a parte federal, como fica?

Wellington Dias: Esperamos uma coordenação nacional há tempos, que integre os diversos poderes, municípios, estados e governo federal, juntamente com o setor dos empresários, dos trabalhadores. Já nos reunimos com as centrais sindicais, com a OAB, recentemente, também, com a CNBB, com os artistas, com a academia, com as Universidades. Esse caminho é para unir todo o Brasil, porque isso não é só um jogo de palavras, mas atitudes para salvar vidas, reduzir mortes e dores, é disso que se trata.

 

NORDESTE: Governador, como o senhor avalia as medidas preventivas?

Wellington Dias: Tudo passa es sencialmente pelo ‘Pacto pela Vida’, ou seja, precisamos juntos ter medidas preventivas.  São 27 estados que completaram 14 dias com restrições e acho que começaremos a ver resultado. Mesmo assim, é importante que essas ações aconteçam de forma integrada com o governo Central. Nós já adotamos medidas, mas temos limites. Estados e municípios, fizeram, mas temos limites.

 

NORDESTE: Como assim?

Wellington Dias: Veja, precisamos de medidas federais. Há a necessidade de uma política de controle do coronavírus nos aeroportos e nos portos. O governo central tem que controlar a entrada e saída de pessoas. Agora mesmo teve uma pessoa amiga que foi ao Canadá e ela ficou 21 dias sem poder botar o pé na calçada. Está certo, é o zelo do governo do Canadá com a vida. O poder central do Canadá adotou essa medida. E o Brasil precisa adotar medidas preventivas definidas nacionalmente, assim como municípios e estados estão fazendo, as quais sabe-se são essenciais.

 

NORDESTE: Então, as restrições são indispensáveis para conter o vírus?

Wellington Dias: Precisamos vacinar muito mais e a todos. Entretanto, precisamos conviver com restrições para resolvermos a pandemia. Quais são as atividades que precisam de serviço presencial? Os hospitais universitários são essenciais e precisam funcionar presencialmente, mas o que que pode ser feito de forma remota? Como faz o Congresso Nacional? Como faz o judiciário ou estão fazendo governos municipais, estaduais para reduzir circulação? Reduzindo a circulação, o coronavírus enfraquece. São necessários 14 dias para que o vírus cumpra seu ciclo, pois o período de transmissibilidade ocorre entre 7 a 14 dias. Se alguém está com coronavírus e ele está isolado, ele não transmite, aquilo desaparece ali, a pessoa não vai contaminar outras pessoas. Estou dizendo que medidas como estas, feitas pela esfera federal, somando com estados e municípios, estabelecendo regras, também, para todo setor privado. É claro que isso diminuiria a tensão entre o poder central, estados e municípios, que, nesse momento, estão adotando medidas seguindo a Ciência.

 

NORDESTE: Governador, há risco de faltar oxigênio?

Wellington Dias: No caso do Piauí, normalmente, a gente consumia cerca de oito mil metros cúbicos por mês de oxigênio, agora fomos para 27 mil. Isso é quantas vezes mais? Mais de três vezes. Isso aconteceu no Brasil inteiro. E o oxigênio em cilindro é uma coisa muito necessária para salvar a vida. Prefeitos, secretários de saúde, governadores, a rede privada, chegamos no limite. Não tem mais profissionais para contratar. Mas não é só oxigênio. Está faltando sedativo. Se você não anestesiar a pessoa para intubar e não der um remédio para dor, ela arranca e intubação e morre no desespero de ter aqueles equipamentos dentro do seu corpo. Já o pulmão, em não estando mais funcionando, precisa do respirador para proporcionar oxigênio ao corpo. Então, são cenas como essa que a gente já viu, pessoas amarradas por falta de um respirador. Imagina o que é que está acontecendo nesse instante em todos os hospitais do Brasil, com pessoas desesperadas porque não tem uma vaga para internação, não tem uma UTI. Pode até ter dinheiro, mas não tem vaga. A realidade é muito grave.

 

NORDESTE: O tratamento ideológico da pandemia tem interferido nas políticas nacionais e, até, na aquisição das vacinas. Como o Sr. analisa tudo isso?

Wellington Dias: Chegamos numa situação que eu gosto de comparar o caso do Brasil com os Estados Unidos da América. Ali também tinha o presidente Trump e ele agia dessa forma, por sequência, meio milhão de americanos perderam a vida, meio milhão de americanos. Uma situação catastrófica. No começo de janeiro, houve cerca de 5 mil óbitos em um dia. O que aconteceu lá? Trump perdeu a eleição. Assumiu o presidente Joe Biden. Ele adotou medidas simples: uso da máscara, o distanciamento, a higienização das mãos. Chamou toda a rede hospitalar, os empresários, adotou medidas de alternância de turnos de trabalho, redução no transporte urbano, controle dos aeroportos etc. Por que brasileiros não estão entrando lá? Para proteger o povo americano, porque o Brasil é visto hoje como um espalhador de vírus em mutação, esse vírus que é mais agressivo. Eles adotaram, como a Europa e vários países do mundo, a medida de não permitir que os brasileiros entrem em seus países. Outra medida importante foi chamar os laboratórios e determinar o aumento da quantidade de fabricação de vacinas.

 

NORDESTE: O Brasil está na contramão das medidas tomadas pelos EUA?

Wellington Dias: De fato está. Resultado, agora o Brasil ultrapassa os 300 mil óbitos, com uma média de 2250 óbitos diários e os Estados Unidos, com média de 1200. Nos EUA caiu o número de óbitos por dia, ampliou-se a vacinação, lá já estão com quase um quarto da população vacinada e querem concluir em maio. Aqui, o presidente estava falando em concluir a vacinação até o ano de 22, depois puxou para dezembro desse ano.

 

NORDESTE: E agora?

Wellington Dias: Estamos numa frente pelo “Pacto pela Vida”, por isso que nós vamos atrás de vacina, comprar vacina, fechar contrato com o Consórcio Nordeste para poder passar vacina para o Ministério da Saúde, ou seja, ter vacina para o povo brasileiro. Agora mesmo, está prevista a compra de 37 milhões de doses. Estamos dialogando com quem tem a vacina no mundo para poder ter mais vacina e poder chegar em julho, pelo menos em julho, com mais de 70% da população brasileira vacinada, para ter imunização. Veja, aqui não há uma disputa entre a saúde e a economia, só tem saída para economia segura com vacinação, então para não perder os operários e não perder os clientes, há necessidade dessa responsabilidade governamental.

 

NORDESTE: Governador, os senhores consolidaram essa quantidade de 37 milhões de vacinas com a Rússia. Depois dessa negociação, quais são os outros países e outros laboratórios que poderão ser contatados para ampliar a quantidade de vacinas no Brasil?

Wellington Dias: Para você ter um cronograma da luta que travamos para a aquisição da vacina, vamos recapitular. Em março os estados adotaram as primeiras medidas para poder evitar óbitos. Lembre que foi no carnaval de 2020 que a gente teve a chegada forte de coronavírus, quando a doença covid-19 se espalhou para todas as regiões do Brasil. Somente em outubro de 2020, a gente teve o Plano Estratégico Nacional de imunização, e foi uma luta para poder a Anvisa dar autorização de uso da primeira vacina, já com a vacina no Brasil. Aí veio aquela estória de que quem tomasse a vacina da China viraria “jacaré” e o povo morrendo. A Anvisa autoriza e vem a luta para poder começar a marcar a vacinação, fomos para São Paulo. Naquele momento começa a vacinação. Queríamos um cronograma e foi ali que o governo federal celebrou o contrato para 46 milhões de doses com o Butantan, que não tinha assinado ainda. Depois de uma luta para celebrar mais 54 milhões de doses, agora nós estamos numa luta para a AstraZeneca ,que ficou devendo 11 milhões de doses, que era para vir da Índia e o país entrou em crise e proibiu a exportação. De 15 milhões de doses que estavam no contrato, que era para janeiro, ainda ficou devendo 11 milhões.

 

NORDESTE: Quais os dados de agora, comparativamente?

Wellington Dias: Além das vacinas russas, estamos agora, pleiteando vacinas que estão estocadas e sem uso nos Estados Unidos, solicitando que sejam liberadas para o Brasil e para outros países que estão precisando. Eu mesmo solicitei pelo fórum dos governadores ao presidente dos Estados Unidos e esperamos ter um posicionamento rápido. Também pedimos ao Congresso Nacional, que está  fazendo contato com o Congresso Americano, aos líderes daqui, independentemente de partido, ao presidente Lula, a presidente Dilma, ao presidente Temer, ao presidente Fernando Henrique, ao presidente Collor, ao presidente Sarney, aos ex-ministros de relações exteriores, aos Empresários Unidos Pela Vacina, outros empresários, aos cientistas, aos artistas, ou seja, a todos que podem ajudar. Estamos trabalhando aqui para conseguirmos 30 milhões de doses extras da China e o governo central, também, fechou com a Sputnik. Ou seja, nós tratamos a vacina como um remédio, eu não quero saber se o remédio vem desse país ou daquele país, se é de um país de um regime liberal, socialista, comunista, quero saber se o remédio é bom, eu quero é curar a minha doença. Eu conto isso para você compreender que, o que estamos fazendo é um gesto que tirar da inércia, para irmos atrás, a vacina está sendo disputada pelo mundo inteiro e o que os países e seus presidentes estão fazendo é correr atrás. Não pense que é fácil para nós governadores! Temos que ir atrás de respirador, de exame, de teste, de monitor, agora, até de medicamentos. Precisamos de uma coordenação central, aliás, como sempre foi no Brasil, infelizmente agora é um ponto fora da curva, mas eu não quero desistir,  vou insistir nessa direção.

 

NORDESTE:  Governador, os Estados Unidos em 2020, no governo Trump,  aprovaram e aplicaram 2 trilhões de dólares no auxílio emergencial, o que significa 11 trilhões de reais.  Na semana retrasada, o Congresso e Joe Biden consolidaram mais um trilhão e 900 bilhões de dólares, o que significa dizer que o estado americano, que é o país que representa a força do mais consistente do capitalismo, do neoliberalismo, não perde a oportunidade de agir para socorrer a sua sociedade. Por que no Brasil há limite e teto de gastos para evitar fome e desemprego?

Wellington Dias: Olha, é uma situação totalmente contrária ao que acontece no mundo. A situação do Brasil no trato da pandemia só não foi pior porque foi liderada, inclusive pela oposição, uma compensação de perda de receita para estados e municípios, um apoio para empresas e liberação de algum crédito e a liberação do auxílio emergencial financeiro. Esse dinheiro que circulou na economia foi essencial para o Brasil não ter fechado com uma queda na economia e 10% como era previsto. Ele ficou na casa de 4%, então valeu a pena. Se a gente olha o que significa não ter uma queda seis pontos, é uma montanha de dinheiro muito maior do que aquela que foi aplicada na economia. Isso ajudou tanto a União para que tivesse de volta o dinheiro que circula na economia, quanto estados e municípios.

 

NORDESTE: Explique o por que da existência do teto no Brasil e a inexistência dele nos EUA?

Wellington Dias: Conto isso para dizer que: não pode sovinar numa necessidade do povo. Aqui também emprego é vida, é saúde. O que nós estamos defendendo, eu disse aqui, nessa pauta, com esse “Pacto pela Vida”, é que, além de definir medidas restritivas em conjunto, seja realizada a aquisição de mais vacinas, estabelecidas medidas de cuidados com a rede de saúde, a rede hospitalar, o atendimento aos doentes. Temos que cuidar do social e do emprego, ter uma espécie de seguro desemprego, como outros países criaram. Isso que você relatou nos Estados Unidos é o que fizeram praticamente todos os países. Você pega os 50 maiores países e todos adotaram medidas semelhantes, países que estão enfrentado muito mais dificuldades do que o Brasil.  Essa hora não tem jeito, é o poder público que tem que dar o primeiro passo, é isso que cria um ambiente de confiança.

 

NORDESTE: O PIB brasileiro já se manifestou…

Wellington Dias: Então, veja que em nota amplamente divulgada, os empresários do setor financeiro falaram muito duro contra nossa realidade e tratamento da pandemia, então o que eu estou dizendo é que não vale jogo de palavras nesse momento, ou se está do lado do coronavírus e da morte ou se está do lado do povo e da vida. É isso, o Brasil só tem dois lados e tem que perguntar qual é o seu. Quando eu vejo alguém protestar a favor da morte, pregar a desobediência, eu fico olhando ali, com todo respeito, mas alguém que tá defendendo o interesse do coronavírus, quem que vai ganhar, vai ter alguém que vai ganhar em sair por aí fazendo festa, aglomerando, descumprindo as regras? Só quem vai ganhar será o coronavírus. Agora, eu sei o lado de quem perde com isso. Basta ir neste instante ao cemitério, basta ir nesse instante aos hospitais da sua cidade, da cidade mais próxima. Eu quero acreditar que a humanidade não está perdida, que o ser humano tem que ter minimamente lá no fundo do coração, da alma, o respeito pela vida, os que são cristãos têm que ter no mínimo aquilo que Jesus Cristo ensinou, amar o próximo, fazer ao próximo, desejar ao próximo aquilo que você quer para você. Nesse caso, é perfeita a atitude de que quando eu me protejo eu estou protegendo o outro, protegendo a minha família, pai e meu avô, meu tio, meu amigo, meus filhos, meus netos e protegendo o outro, colegas de trabalho, a vizinhança. Então eu digo a você que também fico assim, às vezes triste, mas eu sempre me apego em Deus, e, se Deus quiser, nós vamos vencer o coronavírus. Todo trabalho, todo o esforço é para evitar uma tragédia maior do que já é, lá atrás foi avisado, vamos chegar a três milhões de óbitos e tá aí. Agora nós estamos dizendo, tem que reduzir pelo amor de Deus.

 

NORDESTE: Os estados e municípios vão vencer o descaso federal?

Wellington Dias: O que os estados e os municípios estão fazendo com 27 decretos nacionais é um grande esforço em busca de superação. Agora mesmo, existem municípios organizando um consórcio com quase 2000 municípios para compra de vacina. Há um esforço gigante. No Piauí, foi feito uma pesquisa agora: 74% da população apoia as medidas que estamos adotando, enquanto governador. Apenas 9% não apoia. Em nível Nacional, 69% está apoiando, 11% não está apoiando. Então, eu acho que isso que a gente tá trabalhando começa a despertar, começa surtir efeito.

 

NORDESTE: Como não existe espaço vazio, inclusive na política, o Consórcio Nordeste terminou ocupando o papel que foi, durante anos, da Sudene. Fora da urgência da Covid, qual é o tempo que resta para apontar projetos estruturantes que simbolizem uma superação ou retomada de desenvolvimento com perspectiva de futuro?

Wellington Dias: Temos no Nordeste brasileiro, a partir do Consórcio, uma integração independente de partidos, que tem demonstrado uma maturidade extraordinária. Os nove estados, com suas equipes, têm gerado um fortalecimento da coordenação da bancada do Nordeste, Câmara, Senado, estabelecendo uma frente que trabalha de modo integrado na defesa dos interesses e, também, junto com outras regiões, tem atuado na frente dos Municípios do Nordeste, a frente os empresários do Nordeste, a frente da academia do Nordeste, e isso permite uma vitalidade extraordinária nas várias áreas. NORDESTE: Que politicas estão em curso?

Wellington Dias: Estamos todos os dias, além de cuidar da pandemia, cuidando da educação, da segurança, de obras na área relacionada aos avanços na inovação e da tecnologia e, aí, o consórcio permite trabalhar com as chamadas câmaras técnicas, que são as equipes de técnicos de pessoas especializadas em cada estado, Por exemplo, na área da Agricultura Familiar instalamos a câmara técnica. O Nordeste tem metade dos Agricultores familiares do Brasil, que é uma área que precisamos melhorar a capacidade de produção e o objetivo é garantir que tenhamos as câmaras técnicas em 18 áreas. A câmara técnica da Agricultura Familiar está investindo na produção de agricultura saudável e introduzindo tecnologias avançadas. Estamos trabalhando com vários organismos internacionais, com um investimento de 1,6 bilhões de reais para um fundo voltado para a Educação do Ceará, um modelo para acelerar a educação na idade certa e melhorar a qualidade na educação que deu certo. Pernambuco, também está desenvolvendo projeto na área de educação. Então, por que que a gente não adota esse caminho para todo Nordeste? A Paraíba investindo na área de saneamento, o Estado do Rio Grande do Norte no turismo, a Bahia na estruturação da saúde, a gente tem lá uma das mais baixas mortalidades para cada 100.000 do Brasil. Assim, naquilo que é um projeto de sucesso de cada estado, a gente está trabalhando de forma integrada.

 

NORDESTE: Os 9 estados têm vastidão..

Wellington Dias: Estamos valorizando o que cada estado tem de potencial para compartilhar com toda a região. E, com isso, a gente ao ter um projeto de educação que está dando certo, que não seja desse ou daquele estado, mas que seja um projeto de Educação Nordeste, de Saúde Nordeste, de Segurança Nordeste, de Turismo Nordeste, de Litoral Nordeste, de Serras Nordeste. Que os eventos do calendário dos estados, sejam de Eventos Nordeste, a Cultura do Nordeste. Que possamos trabalhar a área da infraestrutura integrada, etc, identificando quais os portos de alta profundidade, quais os portos intermediários, os aeroportos serão os hubs do Nordeste, de Fortaleza, do Recife, Salvador, como é que a gente faz essa integração Nordeste  Brasil e o Nordeste com o mundo. Essa área de Nordeste Conectado, por exemplo, temos uma experiência aqui no Piauí que é o Piauí Conectado, agora estamos trabalhando com a ideia do Nordeste Conectado, implantar uma rede de fibra óptica em todos os municípios do Nordeste, energias limpas Nordeste, o Brasil planeja chegar a 50 GB para agora para 2030, 40gb será produzido no Nordeste, então vamos trabalhar de forma integrada ter um marco regulatório que potencialize isso. Assim, será na fruticultura, na mineração, no cais, no petróleo.

 

NORDESTE: Tudo isto lembra politicamente quem?

Wellington Dias: Como sempre disse o presidente Lula, o Nordeste é a solução, o Nordeste não é problema. Então, nós queremos de forma integrada, fazer nosso dever de casa para avançar no social, na educação, na renda, para melhorar uma estrutura unificada de saúde e segurança de Defesa Civil, de todas as áreas e integrado com o setor privado e, também, ter uma relação internacional bem organizada e bem planejada. Como a gente foi na Europa, lá chegamos com uma região de 55 milhões de habitantes e um PIB de 1 trilhão, ou seja, com o respeito de algo que desperta pela inovação, pelo marco regulatório, pela segurança o respeito do mundo. Esse caminho, eu acredito, vai fazer a diferença e nós queremos avançar a passos largos, mesmo durante a pandemia, como já foi em 2020, liderado pelo Rui Costa e ainda avançando mais pós-pandemia, se Deus quiser.

 

NORDESTE: Governador, o senhor tem sido chamado pelo ex-presidente Lula para construir pontes para uma grande aliança político–partidária, envolvendo muitos líderes adversários, como FHC, Doria, Ciro, etc. Como está essa articulação na direção de 2022?

Wellington Dias: Quando olhamos todos os preconceitos que se tem em relação aos partidos políticos, às vezes esquecemos da razão de ser dos partidos. Os partidos são a parte da sociedade organizada em torno de uma ideia, de um projeto, de um ideal. Então, veja, nesse instante, estamos dialogando com vários líderes de diferentes partidos e com quem nós temos em comum alguns pontos essenciais na pauta de interesse do povo, da saúde, dos empreendedores, como essa da retomada da economia, na pauta dos trabalhadores, dos mais pobres, na pauta social, da defesa da Democracia, fortalecimento da defesa das instituições. Vou citar dois líderes, o ex-presidente Michel Temer, a forma como ele foi atacado, eu lembro daquele espetáculo envolvendo o ex-presidente Temer, independente das posições políticas, não é correto. Ou o que fizeram com o ex-presidente Lula e lá na frente essa decisão é anulada. E agora como é que se vai voltar atrás, quem vai reparar os danos? Aquilo que sofreu a família, os amigos, as pessoas. Nós temos muitas vezes disputas eleitorais, mas nós não somos inimigos, podemos ser adversários, mas não inimigos.  Fiquei feliz em ver hoje a declaração por parte do PSDB e de outros líderes. Nesse momento o objetivo é defender a vida, a pauta é em defesa do povo, da democracia e do respeito à constituição, existe aqui algo maior de interesse do povo brasileiro que está acima das nossas diferenças.

 

NORDESTE: E as diferenças e/ou enormes vaidades?

Wellington Dias: Existem diferenças, mas muitas coisas nos unem, por isso vamos nos unir em torno delas. Sou da geração que foi parte do movimento que fez a transição da ditadura para democracia e eu me lembro de Marco Maciel, Aureliano Chaves, Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Lula, Fernando Henrique Cardoso, José Sarney, líderes de diferentes partidos e ideologias que se uniram em torno de algumas bandeiras, do combate à fome, diretas-já,  liberdade de imprensa, liberdade sindical, e foi isso que gerou impacto na elaboração da Constituição de 1988, a mais avançada da nossa história. Não podemos dar passos para trás, esse momento é um momento semelhante àquele e eu quero, de forma muito modesta, dar a minha contribuição, é claro que lá na frente quando for tratar de aliança e de decisões sobre as eleições de 2022, no ano da eleição, os partidos é que vão tomar as decisões. Eu aqui, nessa fase, quero contribuir para que a gente tenha um espaço que pense os interesses do Brasil, acima do interesse individual de cada um, de cada partido, ou acima mesmo das coisas que temos em cada município, em cada estado, seja no setor próprio dos partidos, como também no setor laboral, empresarial, das igrejas, enfim é esse o objetivo e eu recebo a missão com muita alegria.

 

NORDESTE: Ao que parece, aquele ato no sindicato, em que Lula falou para o Brasil e para o mundo, mudou o cenário político brasileiro. Quando é que os senhores vão resolver o imbróglio que envolve Ciro Gomes e tratar de articulação política com ele?

Wellington Dias: Ciro Gomes é um grande brasileiro, tem uma história extraordinária e muitos serviços prestados a Sobral, ao Ceará, ao Brasil. É um líder que tem hoje um respeito muito grande de amplos setores, por isso, temos que buscar o Ciro e dialogar, conversar, ouvir, esse é o caminho que eu defendo. É um amigo pessoal de longas datas, sempre que precisei dele, ele esteve lá, é uma pessoa que tem um destaque nacional, um grande brasileiro e é assim que todos nós temos que trata-lo.

 

NORDESTE: Fique à vontade para concluir…

Wellington Dias: Estou me sentindo privilegiado, agradecido e honrado com esse momento. Quero aqui dar o meu abraço no povo do Piauí, em todos que nos acompanharam e externar o orgulho que temos, de realizar um trabalho sério, correto, ético, em cima do lance, como você diz aí, usando a expressão no futebol na revista NORDESTE, além de reiterar que acreditamos do Nordeste, que o Nordeste é solução, não é problema. Ao mesmo tempo, dizer que acreditamos no Brasil. O Brasil é um país que, com pandemia ou no pós-pandemia, gera oportunidades muito grandes, que tem um olhar para esta geração de 18 a 30 anos, e um olhar especial para cuidar dela, que se esforçou, estudou, no ensino médio, no ensino técnico, no ensino superior, mas que, no momento, está enfrentando dificuldade em conseguir emprego ou se firmar como empreendedor, então eu quero aqui me despedir pedindo que Deus possa abençoar a cada um dos que leitores, a todo Brasil e que possamos assim acreditar que nós vamos vencer o coronavírus e vamos sim vencer grandes desafios no Nordeste no Brasil.


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