PERNAMBUCO

Falta de acessibilidade na UFPE prejudica estudantes com deficiências

Elevadores que não funcionam, rampas inexistentes, pisos inadequados. Quando a cadeirante Bárbara Buim, 18 anos, foi aprovada para o curso de arquitetura e urbanismo da Univerisade Federal de Pernambuco (UFPE), no início deste ano, imaginava que ao menos ali, por onde circulam educadores e arquitetos diariamente, estaria livre dos problemas de mobilidade. Ao chegar no Centro de Artes e Comunicação (CAC), no entanto, a surpresa: O campus é despreparado para receber pessoas com deficiência e as dificuldades enfrentadas na UFPE não são diferentes das encontradas na maioria dos espaços públicos.

Quase três meses desde o início das aulas, em março, Bárbara nunca usou o banheiro do CAC. Ela também nunca foi à cantina, ao Diretório Acadêmico do curso, que fica em um mezanino entre o primeiro e o segundo andar e se deparou, quatro vezes, com a plataforma de cargas, que faz as vezes de elevador, sem funcionar. Todos os dias a rotina é a mesma: Bárbara desce do carro com destino ao CAC e enfrenta um trajeto difícil de pisos irregulares e ausência de rampas de acesso sem saber se chegará ou não até a sala de aula, localizada no segundo andar do prédio.

Nos dias em que o elevador não funciona, a turma de Bárbara procura a coordenação do curso e solicita a transferência da aula para outra sala, no térreo. "Já procurei o Núcleo de Acessibilidade mas, ironicamente, ele não é nada acessível. Apesar de dizer que sim, a universidade também não tem ninguém que dê apoio", conta a estudante do primeiro período que, graças ao engajamento da turma, nunca perdeu nenhuma aula.

O estudante Fernando Barbosa, 54, não tem a mesma sorte. O aluno do primeiro período de gestão da informação teve os dedos de um dos pés amputados e precisa da ajuda de muletas para se locomover. Desde o início do ano letivo ele já perdeu pelo menos 15 aulas. "A UFPE não é preparada para deficientes. O CAC não ter rampas, elevador é absurdo. E eu me recuso a chamar aquilo de elevador. Aquilo não é feito para pessoas com dificuldades de movimentação, é uma vergonha para a universidade", conta o estudante, que pensou em desistir do curso. "A primeira vez que entrei na UFPE foi em 1979 e desde então já fiz vários cursos, em vários prédios. Já fiquei preso no CFCH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas) um dia inteiro esperando a energia elétrica voltar, já briguei com professor que achava que eu deveria subir dois andares de escada, mas nada se compara ao que passo no CAC. Se eu não tivesse uma turma maravilhosa, já teria desistido", confessa.

Em uma das vezes que procurou a universidade, Bárbara chegou a ouvir que a instalação de rampas poderia descaracterizar o modelo arquitetônico do edifício, o que a revoltou. "Eles dizem isso depois de fazer um banheiro de shopping dentro do prédio. Como se justifica?", questiona, sem esconder a decepção.

Revoltada com a situação, a turma de Bárbara chegou a realizar um protesto na universidade, espalhando cartazes e fechando o acesso às escadas do prédio, mas não houve resultado. Para Felipe Conguides, 17, colega de turma de Bárbara, é preciso que todos se manifestem. "Não é só por ela, é por todos. Se o prédio não oferece acessibilidade, é porque ele é o deficiente. É um direito de todos que estudam aqui, as pessoas não têm que passar por esse constrangimento", critica o aluno do primeiro período.

Um ano de espera
Diretor do CAC desde 2012, Walter Franklin também recusa-se a chamar de elevador a plataforma de carga usada para transportar os alunos deficientes do prédio. "O que começa errado, não pode terminar certo", dispara, criticando a instalação da estrutura. Segundo Franklin, um termo de referência foi elaborado e o processo de licitação para a compra de um novo equipamento, com capacidade para oito pessoas, já está em andamento. Em uma perspectiva otimista, porém, somente dentro de um ano o novo elevador começará a funcionar.

"Eu acredito que até janeiro estaremos com um elevador de verdade funcionando, porque, além da licitação, leva um período de seis meses para a fabricação", explica. Sobre a construção de rampas, o diretor admite: É um grande desafio. "O CAC é uma das poucas obras do mundo representantes do brutalismo e sofro com isso porque é um entrave do ponto de vista da arquitetura. Claro que sabemos que é possível fazer, mas isso iria comprometer a estrutura, já cheguei inclsuive a pedir ajuda ao próprio departamento de arquitetura", justifica o diretor. Enquanto o plano de instalação de um novo elevador não se concretiza, Franklin garante que as aulas serão transferidas para o térreo do prédio, para facilitar o acesso de todos os estudantes.

Enquanto isso, Bárbara se segura na paixão que tem pela profissão que escolheu para não abandonar a UFPE. "Isso acaba se tornando uma motivação, mas se eu não amasse tanto o curso, já teria desistido. Mais do que nunca quero me formar como arquiteta para fazer projetos realmente acessíveis."

Diario de Pernambuco 


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