Olhavam para Dom Phillips com o mesmo pensamento que Bolsonaro havia explicitado diretamente ao jornalista britânico, em reunião transmitida pela televisão: “A Amazônia não é de vocês (estrangeiros), é nossa”. Avisando para não se meterem nos nossos assuntos de queimada de florestas, poluição de rios, pesca insustentável, derrubada de árvores. Ao usarem suas armas, os irmãos viam Dom como um invasor estrangeiro, e Bruno como cúmplice traidor da pátria. Além de invasor e cúmplice, os dois eram inimigos dos pescadores, dos garimpeiros, dos madeireiros, daqueles que desejam o progresso.
Os assassinos não precisavam de ordem direta, ela estava dada pelo clima social criado por um governo que incentiva o crime contra a mídia
Para completar o clima moral, os irmãos têm a confirmação ao verem a impunidade dos que antes mataram índios, seringueiros, agricultores, ecologistas na guerra amazônica.
Não se sentiam assassinos, eram apenas parte visível do sonho moral do Presidente da República, que se controla para não elogiar assassinos que ele vê como soldados. Tanto que ele facilita o acesso às armas pelos particulares e desarticula o sistema público de segurança.
Fez parte da criação do clima moral corromper as Forças Armadas, com gabinetes no lugar dos quarteis, menos tarefas de defesa das fronteiras, de desarmamento do crime organizado, proteção do patrimônio natural e dos direitos dos povos indígenas, e mais tarefas políticas relacionadas às urnas eletrônicas.
Os assassinos não precisavam de ordem direta, ela estava dada pelo clima social criado por um governo que incentiva o crime contra jornalistas, meio ambiente, povos indígenas, dando armas e argumentos, por um presidente que concluirá seu mandato como um farrapo moral diante do mundo.
Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
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