PERNAMBUCO

FUNDAJ anuncia série de atividades para reverenciar Gilberto Freyre

Às vésperas do seu aniversário, escrita e faces de Gilberto Freyre em pauta ##
Confluências do sociólogo na América do Norte também será apresentada por professor da USP. Pela programação,  Seminário ocupa Sala Calouste Gulbenkian, no campus Casa Forte da Fundação Joaquim Nabuco

Gilberto Freyre (1900-1987) está no gerúndio e continua sendo. A afirmação da antropóloga Fátima Quintas ilustra bem a sequência de homenagens ao sociólogo pernambucano, que no dia 15 de março celebraria 120 anos de vida. Na semana da comemoração, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) promove, nos dias 11 e 12 de março, o seminário Gilberto Freyre: 120 anos de pioneirismo. Mesas-redondas e conferência marcam a iniciativa, que ocupa, sempre a partir das 14h30, a Sala Calouste Gulbenkian, no campus Casa Forte, bairro da Zona Norte do Recife.

“A Fundação tem o dever para com o ‘mestre de Apipucos’, que foi fundador dessa Instituição. Dele, esta Casa herdou a vocação para a pesquisa cultural, a preservação da memória, a valorização das ideias e a difusão do conhecimento. Com a celebração à figura, mas, sobretudo, à obra de Freyre estamos cumprindo nossa missão”, afirma o presidente da Fundaj, Antônio Campos, que assume a abertura na quarta-feira (11). “Gilberto foi inquieto. É preciso reconhecer suas contribuições para a compreensão da identidade do homem dos trópicos. Foi graças ao seu pioneirismo”, conclui Campos.

Encerrada a abertura, às 15h, tem início a mesa-redonda “As várias faces de um escritor”, sob a coordenação do ensaísta Lucilo Varejão Neto, presidente da Academia Pernambucana de Letras (APL). A relação do sociólogo com a escrita literária em seu processo de pesquisa acadêmico-científica, bem como a diversidade de seus estudos serão analisadas por especialistas. Membros da APL, os escritores Alvacir Raposo, José Nivaldo Júnior e Lourival Holanda também dividem o debate com o gestor da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundaj, Mário Hélio Gomes.

Na quinta-feira (12), Fátima Quintas coordena a mesa-redonda “Memória e Contemporaneidade”. Responsável pela curadoria do evento, a antropóloga reflete a longevidade da obra freyriana. “Uma das grandes façanhas de Gilberto, é que ele se prolonga. Os grandes escritores, aliás, têm essa virtude. Suas ideias ultrapassam seu tempo. O pensamento do sociólogo acerca do mundo é absolutamente atual”, destaca Quintas. Para o debate, ela recebe o secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto; o presidente da Fundaj, Antônio Campos; e os professores Anco Márcio e André de Sena.

Gilberto na América do Norte
A obra Brazil (Alfred A. Knopf, 1945), primeira publicada por Gilberto Freyre nos Estados Unidos, só seria adaptada ao seu País natal anos depois, com o título Interpretação do Brasil (José Olympio, 1947). Na contramão, seu título consagrado Casa-Grande & Senzala (1933) só seria traduzido para a língua inglesa em 1946 — 13 anos depois. Os apontamentos feitos pelo professor Antonio Dimas, especialista em Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo (USP), dão indício da relação do sociólogo com o país estrangeiro. Os detalhes serão apresentados em conferência na quinta (12), às 17h.

Segundo Antonio Dimas, a vivência naquele lugar fora importante para o escritor decidir, por exemplo, dedicar-se à antropologia.

“Gilberto sai do Recife em 1918, aos 18 anos, para estudar nos EUA por quatro anos. Nos primeiros dois, fica em Wako, uma cidadezinha provinciana do Texas, cercada pelo racismo. Em seguida, no início dos anos 1920, muda para Nova Iorque, um centro migratório e extremamente cosmopolita. Nas duas passagens, convive com professores em Ciências Sociais de alto calibre e se encanta pela literatura inglesa”, revela o professor.

Ele conta, ainda, do grande acervo documental de correspondências do editor Alfred A. Knopf e de sua editora conservado pela Universidade do Texas. “Alfred A. Knopf foi um dos maiores editores daquela época. Quero mostrar a convivência do sociólogo com todo o circuito de intelectuais, escritores e editores, a exemplo da sua relação com o próprio Alfred, das disputas e brigas aos afagos e carinhos. O editor e a esposa Blanche Knopf são os responsáveis pela publicação dos títulos de Freyre, a partir da década de 1940 na língua inglesa”, destaca.

Estudioso das obras do sociólogo pernambucano, Dimas esteve no Texas para ministrar aulas quando soube do acervo. “A obra de Gilberto teve uma recepção rigorosamente acadêmica nos EUA. Professores importantes nas áreas de Ciências Sociais recomendam constantemente sua leitura, mas não em vão ou por acaso. É importante observar a atenção do próprio escritor para a tradução de sua obra na língua inglesa. Casa-Grande & Senzala já contava com tradução em francês, mas é em inglês que ela ganha ainda mais notoriedade. Gilberto sabia disso.”

HOMENAGENS – As celebrações ao aniversário de Gilberto começaram, aliás, em dezembro do ano passado, com o Seminário Internacional Casa-Grande Severina: 120 anos Gilberto Freyre, 100 anos João Cabral de Melo Neto.

O evento reuniu centenas de estudiosos e pesquisadores interessados na obra dos autores pernambucanos. Como resultado, a Editora Massangana publicou em fevereiro deste ano um título de mesmo nome, com ensaios e artigos escritos por nomes como Antonio Maura, Xico Sá, José Castello e outros.

MAIS ATIVIDADES – Nos dias 25 e 26 de fevereiro, Freyre e sua obra também foram o centro do Congresso Internacional de Ciências e Humanas, promovido pela Universidade de Salamanca, na Espanha, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.

Com o tema “A Obra de Gilberto Freyre nas Ciências Sociais e Humanas na contemporaneidade”, o encontro discutiu a relação do pernambucano com o país europeu e as relações entre o Brasil e a Espanha, explorada pelo sociólogo que desenvolveu o conceito hispanotropicologia. O evento contou com a produção do diretor da Dimeca, Mário Hélio Gomes.


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