BAHIA

Infiltração é uma das maiores dificuldades nas escolas municipais de Salvador

A Escola Municipal Engenheiro Carlos Batalha fica na Boa Vista de São Caetano. Já a Escola Professor Antônio Carlos Onofre está localizada na Federação. No Uruguai, tem a Escola Carmelita do Menino Jesus. Enquanto isso, o Centro Municipal de Educação de Pirajá fica, como é possível imaginar, em Pirajá. Quatro escolas, quatro diferentes cantos da cidade, e uma dificuldade em comum: infiltração nas salas de aula.

Esse é um dos dez problemas mais frequentes encontrados pela Secretaria Municipal da Educação (Smed) nas instituições de ensino da rede. A essa conta, acrescente a alta temperatura nas salas, o mobiliário que leva falta na chamada, os contratos de terceirizados (como merendeiras e auxiliares de serviços gerais), equipamentos quebrados, material pedagógico inadequado, problemas na rede elétrica antiga, insegurança, falta de acessibilidade e, em último lugar, problemas com a merenda (um item que falta aqui ou ali ou até a inexistência de um responsável para preparar os alimentos).

 

Visita em pé

O diagnóstico vem sendo feito desde março, quando o secretário municipal de Educação, Guilherme Bellintani, começou a visitar as escolas: até agora, já foram cerca de 200 visitas. A meta é visitar todas as 428 escolas, duas vezes, até 2016. 

“A gente tem realidades muito diferentes de escola para escola e é muito difícil resolver de uma forma plena e rápida. Mas diria que as dez questões principais respondem por 70%, 80% das demandas”, afirma o secretário.

Assim, pelo menos duas vezes por semana, Bellintani reserva uma manhã para visitar, em média, dez escolas, sempre acompanhado de um assessor, de um coordenador de manutenção e do gerente de projetos. O roteiro é escolhido na hora de sair mesmo, em meio a três ou quatro opções, e não está livre de sofrer mudanças ao longo do percurso. Com isso, eles esperam ser recebidos na escola sem preparação, nem cafezinho, nem chamada para sentar e conversar na sala da direção.

“É visita em pé mesmo”, explicou à repórter, quando o CORREIO acompanhou uma dessas vistorias: foram nove instituições de ensino na Federação, com duração média de 30 minutos. Além de estreitar a relação com os educadores, ele espera corrigir erros da forma mais imediata possível.

“As primeiras visitas eram mais problemáticas. Hoje, a gente vê uma receptividade melhor, porque conseguimos reagir de maneira mais plena aos problemas, nos últimos quatro ou cinco meses. Agora, correu a notícia de que eu visito as escolas. A diretora já diz ‘Chegou minha vez’. Antes, era ‘Eu não imaginava que o secretário viria aqui’”.

A partir das visitas, 12 escolas da rede municipal já foram demolidas em junho, depois de a prefeitura avaliar que as estruturas não tinham mais condições para funcionar, nem de ser reformadas. As 12 unidades já estão sendo reconstruídas.

 

Respostas

Com relação aos problemas em si, Bellintani avalia que infiltrações, falhas na rede elétrica e de acessibilidade têm origens parecidas — e a resposta demanda tempo e pode depender de reformas ou até de construção de novas escolas. “Decorre da falta de planejamento. As escolas viraram escolas em lugares adaptados, que não têm estrutura para isso”. Em outros casos, como o calor, o mobiliário ou as terceirizadas, a solução é mais imediata. No Centro Municipal de Educação Infantil São Gonçalo, na Federação, por exemplo, falta mobiliário para os alunos, incluindo carteiras e camas para os mais novinhos, que precisam dormir durante o dia, segundo as diretoras.

“Este ano, fizemos um contrato de R$ 5 milhões para compra desse mobiliário. Os lugares que ainda sofrem com isso é porque ainda não chegou. Não é só comprar, mas também temos que distribuir entre todas as escolas. É uma operação complexa”, explica o secretário. Além disso, cerca de 5 mil ventiladores foram comprados e já começaram a ser distribuídos. Garantir pelo menos dois ventiladores em cada sala de aula e instalar ar-condicionado em 20% das salas mais críticas são duas das 112 metas do programa Combinado, lançado pela prefeitura no último dia 30.

Problemas na merenda e violência nas comunidades também estão entre os problemas mais frequentes. “Tenho uma escola que funciona três turnos sem merendeira e só com três auxiliares de serviço geral”, conta Bellintani. No meio disso tudo, ainda tem alunos que não conseguem frequentar todos os dias por conta da violência. “Isso é mais comum na segunda-feira, porque muitos moram em regiões onde existe guerra de tráfico, então fica difícil”.

Para evitar que situações como essas aconteçam, é que, este ano, a Smed começou a designar gerentes regionais das escolas. Ou seja: uma espécie de subsecretário responsável por parte das instituições. Ao todo, são dez – cada um fica com pouco mais de 40 das 428 escolas municipais. Além disso, na semana passada foi lançado o programa de Agentes da Educação — também como parte do Combinado — onde pedagogos acompanharão os alunos faltosos e poderão até ir na casa do estudante para saber por que as faltas estão ocorrendo.

Ainda assim, Bellintani diz que as visitas não servem para encontrar soluções. “O principal objetivo delas é criar formas de ter uma reação estruturada. Não vamos dizer que todas as demandas serão atendidas, mas fundamentar decisões estratégicas de política pública”.


Thais Borges
Correio 24 horas 


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