NORDESTE

João Pessoa se prepara para homenagear 90 anos em vida do menestrel Zé Katimba no I Encontro das Escolas de Samba do Nordeste

Por Walter Santos

 

É uma questão apenas de contagem regressiva. Nesta quarta-feira quem desembarca em João Pessoa para ser homenageado pelos seus 90 anos de Samba no pé e na alma é o fundador da Escola de Samba Imperatriz Leolpodinense, do Rio de Janeiro, conhecido no Brasil e no mundo como Zé Katimba, adorado em Angola.

 

Esta é a principal atração do I ENCONTRO DAS ESCOLAS DE SAMBA DO NORDESTE, em João Pessoa, discutindo o futuro da cultura popular e do Carnaval brasileiro comandado pela Liga Carnavalesca de João Pessoa e Fenasamba nas pessoas dos presidentes Pedro Cândido e Kaxitu Campos.

 

Natural de Guarabira/Paraiba, Zé Katimba é um dos mais importantes compositores e líderes das escolas de samba do Rio de Janeiro onde consta em vida com amizade dos maiores autores e intérpretes do samba brasileiro.

 

SHOW MEMORÁVEL

 

Com apoio especial da FUNESC e na mesma dimensão da  FUNJOPE, SEBRAE, FECOMERCIO, Secretaria de Educação e Revista NORDESTE, o I ENCONTRO terá abertura na noite da sexta-feira no Teatro José Siqueira, no Espaço Cultural encerrando a noite com show de Zé Katimba acompanhado de Mirandinha, Polyana Rezende, Potyzinho e músicos renomados.

QUEM É KATIMBA

Filho único de Josefa e João, ele nasceu na pequena Guarabira, no brejo da Paraíba. Começo de vida difícil, onde, para matar a sede, tinha que dividir o dique seco com o gado esquálido. Chegou ao Rio de Janeiro de navio, saído de Cabedelo. Ele, o pai e a mãe vieram como clandestinos – o pequeno dormia na cozinha da embarcação.

 

A primeira lembrança que tem do samba é do tempo no Morro do Adeus, em Bonsucesso, quando tinha 10 anos de idade. Carregava lata d’água na cabeça. Na ida até a fonte, junto com outros meninos, se divertia batucando na lata. Ali na Zona da Leopoldina, em 1959, foi um dos fundadores do Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense. No início, era puxador de corda. Passou a ser compositor que mais ganhou sambas de enredo na escola, até hoje.

 

Aos 17 anos, fez uma música em homenagem ao velho João Inácio – cordelista, peão de obra e seu pai: “Conviveu com madrugada/como qualquer um de nós/Hoje, está desafinada/sem ninguém, abandonada/sem ilusões, sem amores/A viola, que foi bonita, que o braço só era fita, como qualquer um de nós”. Pura poesia, pura emoção.

 

Na época da ditadura militar, seu talento, junto com  Martinho da Vila – seu principal parceiro -, prestou grande contribuição à música de protesto contra as restrições democráticas. E aí escreveu: “Vamos levantar a bandeira da fé/vamos nos unir que dá jeito/e mostrar que nós temos direito/ pelo menos, à composição/para lutar pelos nossos direitos/temos que organizar um mutirão”. A música ficou censurada por uns 10 anos, até que Luiz Carlos da Vila gravou.

CARREIRA

Com mais de 800 composições gravadas, figuram como seus parceiros, Martinho da Vila seu parceiro mais constante há mais de 40 anos, João Nogueira, João Donato, Jorge Aragão, Alceu Maia, Roque Ferreira, Preto Jóia, Toninho Geraes, Paulinho Rezende, Carlos Colla, Agepê e muitos outros.

 

Entre os maiores sucessos estão Martin Cererê (Zé Katimba e Gibi), O teu cabelo não nega – Só dá Lala (Zé Katimba/Gibi/Serjão), Do jeito que o rei mandou (Zé Katimba e João Nogueira), Tá delícia, tá gostoso (ZéKatimba/Alceu Maia), Minha e tua (Zé Katimba/Martinho da Vila/Alceu Maia), Recriando a criação (Zé Katimba/Martinho da Vila), Me faz um dengo (Zé Katimba/Martinho da Vila), Me beija, me beija (Zé Katimba/Martinho da Vila), Danadinho, danado (Zé Katimba/Martinho da Vila), Me ama mô (Zé Katimba/Martinho da Vila), Café com leite (Zé Katimba/Martinho da Vila), Jaguatirica (Zé Katimba/Martinho da Vila), Me curei (Zé Katimba e Martinho da Vila) e Festa pros olhos (Zé Katimba/Martinho da Vila).

 

As músicas de Katimba ganharam voz com: Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Emílio Santiago, Elimar Santos, Demônios da Garoa, João Nogueira, Agepê, Simone, Julio Iglesias, Alcione, Leci Brandão, Elza Soares, Jorge Aragão, além lógico, dele próprio.

.Na década de 70, virou personagem da novela Bandeira Dois, escrita por Dias Gomes para a Rede Globo, num Katimba interpretado por ninguém menos que Grande Otelo. Seu samba Martin Cererê, tema da trama, gravado pela Som Livre, vendeu 700 mil cópias.

 

Katimba continua em plena atividade poética.

Em 2007, em música ainda inédita, ele filosofa “O que marca ponto é o momento do encanto/do encontro marcado/exorcizar os demônios/juntar os hormônios/na mão que afaga”.

Em 2008, retornou à Imperatriz Leopoldinense, da qual havia se afastado há alguns anos.

Em dezembro de 2009 o Zé Katimba  foi homenageado com a medalha Pedro Ernesto. A entrega da Medalha de Mérito Pedro Ernesto, partiu da iniciativa do vereador Eliomar Coelho, é uma honraria concebida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro àqueles personagens que se destacam na sociedade brasileira. A homenagem vem fazer o devido reconhecimento ao sambista Zé Katimba por todo seu empenho na valorização da cultura popular brasileira, seja através do seu trabalho desenvolvido na Imperatriz Leopoldinense há mais de 50 anos ou na composição de clássicos atemporais do samba.

 

Compôs em parceria com Martinho da Vila, a música “Na Minha Veia “que deu nome ao CD da Simone “Na Veia” lançada 2009 e também faz parte do DVD “Em boa companhia”. “Na Minha Veia” foi gravada também pelo Martinho da Vila no seu CD e DVD “Lambendo a Cria”. Compôs também em parceria com o Martinho da Vila uma música em homenagem a Dona Ivone Lara, que teve como título “Lara”. Este samba foi gravado pelo próprio Zé Katimba, Martinho da Vila e Martinália.

 

No Carnaval de 2013, Katimba foi eleito Cidadão Samba do Rio, numa votação pela internet da qual participaram mais de 30 mil pessoas. Na disputa, tinham monstros sagrados do samba como Nelson Sargento, Martinho da Vila, Monarco, Neguinho da Beija-Flor, entre outros. O concurso teve o apoio oficial do Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, sob organização do jornal Extra. Já durante o desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio, Katimba foi eleito Personalidade do Ano, pelo júri do prêmio Estandarte de Ouro, organizado pelo jornal O Globo.

 

 

Ainda em 2013 – Zé Katimba a convite da Prefeitura de Guarabira/PB retornou a sua terra natal após 70 anos. Foi homenageado pela Câmara Municipal de Guarabira – PB, com a medalha honorífica “Osmar de Araújo Aquino” pela sua magnífica e exemplar história.

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A Secretaria de Cultura de Niterói, na pessoa do seu secretario, o músico Arthur Maia, iniciou a produção de um CD comemorativo aos seus 80 anos de vida, com o título Minha Raiz,  Minha História. Foram selecionadas 10 composições, com participação de Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Diogo Nogueira e Monica Mac.

Em 2014  – Zé Katimba foi escolhido para ser tema da terceira edição do Projeto Memória do Samba, de responsabilidade da ONG Oficina do Parque, com DVD, CD e um novo livro.

.A primeira edição, em 2011, homenageou Monarco, monstro sagrado da Portela; na segunda edição, em 2012, todas as homenagens foram prestadas a Nelson Sargento, orgulho da Mangueira. Agora, é a vez de Zé Katimba, um dos fundadores da Imperatriz Leopoldinense.

Katimba continua colhendo vitórias e mais vitórias no mundo do samba. Dessa vez, ganhou em parceria com, Adriano Ganso, Aldir Senna, Jorge do Finge e Marquinho Lessa. O enredo 2015 da Imperatriz é “Axé, Nkenda! Um ritual de liberdade – e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz”. Vitória do Katimba é vitória do próprio samba.

 

 

Em 20 de novembro de 2014, dia que se celebra o Dia da Consciência Negra, Katimba foi homenageado no Quilombo dos Palmares com a Medalha Zumbi dos Palmares, aprovada pela Camara Municipal de Niteroi.

Ainda em 2014, Zé Katimba foi homenageado no evento “Um Rio de Samba” criado pela Secretaria Municipal de Turismo e realizado pela Riotur , com o diploma Baluarte do Samba Carioca.

Em 2015, durante o desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio, o samba de enredo composto por Katimba e parceiros foi eleito como o melhor samba de enredo, pelo júri do prêmio Estandarte de Ouro, organizado pelo jornal O Globo.

Este compositor merece muito ser lembrado.

 

.O verso que melhor descreve a sua vida foi feito por ele mesmo, no samba de enredo Martin Cererê:

“Que grande destino reservaram pra você!”..


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