CEARÁ

Jovens da periferia mudam suas vidas através da arte

A fotografia era para Valber Firmino, 26 anos, uma curiosidade. Ele queria saber mais sobre como armazenar o tempo, colecioná-lo. Aos poucos, os primeiros cliques deixaram de ser ensaio e se transformaram em expressão artística. O que era interesse virou um jeito de dizer com as imagens. Na mira de Valber, está a Barra do Ceará de mar e asfalto. Ele registra o cotidiano do bairro do surfe, das caminhadas pela Vila do Mar e das cadeiras na calçada. Funciona, por assim dizer, como um cronista, registrando um bairro por outro ângulo, às vezes, anuviado pelo estigma e preconceito.

“As pessoas falam muito mal dos bairros humildes, mas aqui tem coisa bonita. Não é toda criança na rua da periferia que é ‘avião’ do tráfico. Elas ainda soltam o pião, correm, brincam…”, ele protesta. É justamente essas imagens que tendem a atrair o olhar de Valber – ele também foi um dos meninos a brincar pelas veredas da Barra do Ceará.

Natural de Maracanaú, quando chegou por ali, descobriu o mar como vizinho. O surfe veio mais tarde como uma maré de esperança. Valber participava de um projeto social que ensinava meninas e meninos do bairro a deslizar nas águas do mar. Foi nesse tempo que ele começou a praticar a fotografia, guardando em uma câmera digital as manobras dos colegas.

Um dia, a câmera profissional de um voluntário holandês de passagem pelo projeto lhe chamou a atenção. O jovem teve a ousadia de pedir o equipamento emprestado por alguns dias – queria descobrir outras possibilidades com a fotografia. Qual não foi a surpresa de Valber quando, de malas prontas para retornar ao país de origem, o voluntário disse a ele: “Estou indo embora, mas vou deixar a câmera com você”.

Foi assim que o interesse se alongou: fez curso no Cuca Barra, começou a receber encomendas de fotos, percebeu na fotografia uma arte e também meio de vida. “Eu não sei falar das imagens senão como algo essencial para mim. Faço várias coisas no meu dia a dia, mas não consigo viver sem a fotografia”, insiste.

 

Trajetória

Para Wilbert Santos, 18, a arte nunca foi uma desconhecida. Ele cresceu ouvindo a família tocando instrumentos musicais. Assim, a música sempre teve espaço importante na vida dele. Mas o jovem, nascido e criado no Bom Jardim, queria mais. Também inserido em um projeto social da comunidade, percebeu a capoeira como esporte, mas também notou como a arte podia se apropriar daqueles movimentos.

“Tinha ali algo da performance. Não era só uma dança ou uma simulação de luta. Tinha uma parte cênica muito forte”, diz. Na capoeira, Wilbert encontrou o teatro, linguagem que até hoje o conduz pelas praças dos bairros de periferia, pelos palcos e também pela rua. Para ele, o lugar do ator é em todos os lugares e, principalmente, naquele perto do povo.


Wilbert defende a arte como elemento de transformação social e usa da própria história para justificar a assertiva. “A maior prova disso sou eu mesmo. A arte modificou meu caminho, me fez cidadão”, sustenta. Hoje, Wilbert é diretor da companhia Viv’Arte, que ensina a outros jovens do Bom Jardim sobre o teatro e transformações de trajetórias.


Rômulo Costa
O Povo
 


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