INTERNACIONAL

Korybko: viagem surpresa de Kissinger a Pequim mostra gravidade das tensões entre China e EUA

Nenhuma das partes vazou a notícia sobre a viagem de Kissinger. Ao manterem esse segredo, as lideranças chinesa e dos EUA mostraram que desejavam que esse diálogo acontecesse

 

Por Andrew Korybko, em seu SubstackAs tensões entre China e EUA permanecem muito sérias, como prova a surpresa da viagem de Kissinger a Pequim. A Xinhua divulgou detalhes sobre a viagem posteriormente, relatando que esse “cardeal cinza” pediu aos dois países para “eliminar mal-entendidos, coexistir pacificamente e evitar confrontos” durante sua reunião com o Ministro da Defesa Li Shangfu, que é sancionado pelos EUA por comprar armas russas. O fato de Kissinger, com 100 anos de idade, não ter feito essa viagem se não considerasse a situação entre eles crítica.

Suas guerras comerciais e tecnológicas interconectadas continuam a se intensificar, em paralelo com os EUA reunindo aliados regionais por meio do AUKUS+. Essa segunda tendência aumenta as chances de um incidente aéreo e/ou marítimo no disputado Mar do Leste e do Sul da China, o que poderia desencadear uma guerra mutuamente destrutiva por erro de cálculo. Ao mesmo tempo, o mundo todo agora sabe que os estoques dos EUA estão esgotados após a admissão franca de Biden no início de julho, sugerindo assim que se tornou muito mais fraco desde fevereiro de 2022.

 

Os extremistas anti-chineses na burocracia de formulação de políticas dos EUA podem temer que Pequim possa se aproveitar disso e do foco de seu país na guerra por procuração da OTAN com a Rússia na Ucrânia para agir contra Taiwan, cenário que pode apelar aos extremistas anti-EUA na burocracia de formulação de políticas da China. Essa observação não tem a intenção de dar credibilidade a tal sequência de eventos ou contradizer a abordagem oficial de Beijing de reunificação pacífica com Taiwan, apenas descrever o contexto possível de formulação de políticas.

Diante do cenário apresentado nos dois últimos parágrafos, pode-se argumentar que Kissinger sentiu-se obrigado a intervir em caráter privado na tentativa de desescalar as tensões, devido ao papel de liderança que desempenhou na mediação da histórica reaproximação entre os dois países há meio século. Afinal, se ele não se sentisse fortemente sobre isso pessoalmente, não arriscaria sua saúde viajando pelo Pacífico para conversar com o Ministro da Defesa chinês.

O Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, lamentou a falta de comunicação com seu homólogo no início deste verão, o que a maioria dos observadores atribui a Beijing ter auto-respeito suficiente para não ceder às repetidas solicitações de Washington até que este levante as sanções impostas a seu chefe militar. A aparência de retornar aos “negócios como de costume” sem que isso aconteça pode levar alguns a pensar que a China se subordinou tacitamente a se tornar o “parceiro júnior” dos EUA, e é por isso que é improvável que isso ocorra.


Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Recomendamos pra você


Receba Notícias no WhatsApp