BRASIL

Legado dos protestos de junho de 2013 sobrevive nas greves

 junho de 2013 o Brasil parou. Movimentos populares, incensados pelas redes sociais e uma sensação difusa de frustração com a classe política, eclodiram em protestos por centenas de cidades do País. Diariamente, milhares tomaram as ruas por um Brasil melhor. A onda de manifestações culminou com a tomada da parte externa do Congresso Nacional em Brasília no início da noite do dia 17 de junho. A imagem dos manifestantes, às dezenas, com bandeiras e faixas no teto do legislativo se tornaria uma das cenas mais emblemáticas daquele movimentado mês de junho.

Esta, porém, não foi a única nem a primeira grande imagem do movimento. Nos dias que antecederam a apoteose em Brasília, gigantescas manifestações tomaram conta do País. No dia 13 de junho, por exemplo, a avenida Paulista, uma das principais da capital, desapareceu sob milhares de manifestantes. Simultaneamente, protestos semelhantes aconteciam no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Florianópolis, Recife e dezenas de outras cidades. Ninguém, nem os especialistas continuamente consultados por jornais, revistas e portais, conseguiam explicar por que o movimento tinha crescido tanto.

O que se sabia era que boa parte das manifestações começara meses antes para protestar o aumento no valor das passagens de ônibus. Logo, porém, ficou claro que os manifestantes que vinham engrossando fileiras nos atos não estavam lá apenas pelo aumento das passagens. Subitamente, o que se viu foi uma onda de manifestações que rivalizou e por vezes superou, em tamanho, as dos caras pintadas, pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, e até as pelas eleições diretas em 1983. Em São Paulo o slogan “Não é pelos 20 centavos” cristalizou a ideia de que os protestos haviam se ampliado.

Embora distintos em cada uma das cidades, boa parte dos protestos seguiam um roteiro similar. Os atos começavam no final do dia com o encontro dos manifestantes, a maioria inteirada sobre local, horário e causa do protesto pelas redes sociais. Quando um bom número estava reunido, começava uma marcha, muitas vezes sem destino, com muitos empunhando bandeiras e entoando gritos de ordem. Não raro os atos terminavam em confrontos com as forças de segurança, instadas a evitar depredações e manter a ordem. Não foram poucas as imagens de abuso policial ou de vandalismo. Muitos jornalistas acabaram sendo alvo de violência, mais frequentemente, das forças policiais.

Diante do caos que vinha se instalando sempre que caía a tarde nas grandes cidades, o governo deu sinais de que começava a entender o recado quando exatos sete dias depois da ocupação do Congresso, anunciou um conjunto de cinco medidas para atender ou pelo menos fingir atender algumas das demandas das ruas. Os chamados pactos da Dilma trataram de responsabilidade fiscal, reforma política, mobilidade, saúde e educação.

Em retrospecto, pode-se dizer pouco do que foi prometido pelos pactos foi cumprido. Talvez o grande objetivo deles tenha sido o de conter as manifestações e dar alguma satisfação – qualquer uma – à população. Hoje, é sabido que nem todo o discurso do governo em 2013 se tornou realidade. Ainda assim, junho de 2013 ficará marcado na história do Brasil. E um ano depois dos protestos, já dá para avaliar parte do impacto que eles tiveram no caminhar do País. A seguir, um resgate dos principais acontecimentos e os seus desdobramentos na história brasileira.

Os protestos mudaram o Brasil

As manifestações foram organizadas, inicialmente, por movimentos ligados à luta pela melhoria no transporte público, entre eles o Movimento Passe Livre (MPL), de São Paulo, o Bloco de Lutas pelo Transporte, de Porto Alegre e o Fórum de Luta pelo Passe Livre (FLPL), do Rio de Janeiro. Com a ajuda das redes sociais, em especial de ferramentas do Facebook, eles conseguiram convidar verdadeiras hordas de manifestantes de uma vez sem precisar expor ninguém.

E o que começou pequeno na internet, logo se tornou um fenômeno. Quase que de um dia para o outro, os atos ganharam peso e escopo muito maiores que os idealizados em um primeiro momento. Hoje, não são poucos os que teorizam que o Brasil mudou depois do que aconteceu em junho de 2013, mesmo que muitos dos objetivos das marchas não tenham sido plenamente atingidos. 

“A população reaprendeu que com mobilização é possível conseguir mudar algumas coisas”, diz o estudante Matheus Gomes, integrante do Bloco de Lutas pelo Transporte de Porto Alegre. “As pessoas chamaram para si a responsabilidade pelas mudanças, em vez de se limitarem sua participação política ao voto”. Para a representante do Movimento Passe Livre em São Paulo (MPL-SP) Mayara Vivian, os protestos foram o resultado de um processo de insatisfação popular crescente que até aquele momento não encontrava voz e espaço para aflorar. “Junho foi o ápice da insatisfação – o que aconteceu naquele mês mudou o País”, afirma.

(Terra)


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