BAHIA

Mais de 2.200 pessoas estão na fila por um transplante de órgãos no estado

No último final de semana três crianças, internadas nos hospitais Ana Nery, em Salvador, e em um hospital em Belo Horizonte, Minas Gerais, foram salvas graças ao transplante de rins e fígado, doados com consentimento da família de um garoto de quatro anos, diagnosticado no último dia 4 com morte encefálica, no Hospital Roberto Santos.

O gesto de altruísmo, contudo, não é acompanhado por aproximadamente 60% das famílias de pacientes que são diagnosticados como potenciais doadores de órgãos, que por diversos motivos, entre os quais o religioso, se recusam a permitir quaisquer doações. A Bahia é o quinto estado com maior percentual de recusa de doações de órgãos, e tem mais de 2.200 pacientes na lista de espera para transplantes, principalmente de córneas, rins e fígado.

No dia em que comemora a realização de 300 transplantes de rins, na última sexta-feira, no Hospital Ana Nery, a Bahia ostenta uma fila de 1.018 pacientes à espera desse tipo de transplante, para apenas 68 doadores de múltiplos órgãos, nos quais os rins estão incluídos. Este ano, contudo, 11 famílias de potenciais doadores de órgãos se recusaram a permitir as doações.

“Um dos maiores entraves é a posição da família de potenciais doadores, que mesmo sabendo da importância do ato, se recusam a permitir quaisquer doações, alegando que não desejam qualquer forma de mutilação no corpo da vítima de morte encefálica”, diz a coordenadora da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos da Secretaria Estadual da Saúde, Carolina Sodré.

De janeiro até julho deste ano, a Central de Captação de Órgãos da Sesab recebeu 231 doações de córneas e 68 de múltiplos órgãos. No ano passado, a Secretaria da Saúde recebeu 420 doações, das quais 319 foram de córneas e 101 de múltiplos órgãos.

Vida nova

A coordenadora explicou que normalmente os pacientes que recebem órgãos de doadores têm acompanhamento psicológico pré-transplante e depois continuam esse tipo de tratamento para evitar traumas de rejeição do novo órgão. No caso do garoto de quatro anos, cujos rins e fígado salvaram a vida de três pessoas, ele ainda pode restituir a visão de outros pacientes, uma vez que as córneas doadas permanecem no Banco de Olhos do Hospital Geral Roberto Santos e serão liberadas para transplante após avaliações detalhadas. O procedimento deve ser concluído ao longo desta semana.

A lista de espera na Bahia tem casos de diferentes tempo de atendimento. No caso dos transplantes de fígado, a demora vai depender do diagnóstico de gravidade do doente. Nos transplantes de córneas, que tem o maior número de pacientes na lista de espera, o tempo varia de um a um ano e meio, podendo chegar a até cinco anos, em caso de incompatibilidade de órgãos. Em todos os casos, prevalece a gravidade dos doentes que estão na lista de espera.

No Hospital Roberto Santos, onde todo o procedimento de captação foi feito, houve um aumento de 40% na captação em Salvador. A Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott), aumentou o número de familiares entrevistados, como forma de proporcionar maior esclarecimento sobre a importância das doações de órgãos. “O desconhecimento do processo é um dos fatores que inibe o ato de autorização das famílias”, esclarece Carolina Sodré.

Para se tornar um doador de órgãos, o paciente não precisa registrar tal vontade em documento. Basta manifestar sua vontade para a família e depois comunicar a equipe médica. No entanto, somente quando constatada a morte encefálica do paciente, a equipe médica realiza entrevista com os acompanhantes.

A coordenadora da Central de Captação de órgãos explica que após o consentimento do paciente em vida, e do assentimento dos familiares, em caso de morte do potencial doador. A retirada dos órgãos que serão doados é seguida da recomposição do corpo, para evitar quaisquer sinais de mutilação. “É um procedimento padrão e permite aos familiares do doador realize os velórios sem quaisquer constrangimentos”, disse.

Critério básico

Excetuando-se o diagnóstico de gravidade do paciente, que pode determinar a antecipação da operação de transplante de órgãos, não há privilégios na lista de espera para quem estar a espera de um doador de órgão. Para tanto, quando necessário, o próprio Ministério da Saúde indica onde se encontra o paciente para ser operado, fazendo a transferência de órgãos entre os estados.

A cada vez que surge um doador a Central Estadual de Captação, ou o órgão similar do Ministério da Saúde, é informada e processa a seleção dos possíveis receptores para os vários órgãos. Esta seleção leva em conta o tempo de espera para o transplante, o grupo sanguíneo, o peso e altura do doador, com nuanças próprias para cada órgão. Isso faz com que com que nem sempre o mais antigo da fila seja o primeiro a ser operado.

 Além disso leva-se em conta alguns exames feitos no doador para ver se ele é portador de infecções, como por exemplo, as hepatites por vírus B ou C. Caso um desses exames seja positivo as equipes não aceitam os órgãos para transplantar receptores negativos para a tal infeção pois isto representa um risco de contaminar o receptor com uma doença que colocará em risco sua saúde. Outras vezes o receptor que foi selecionado em primeiro lugar pode não estar momentaneamente em condições de receber um transplante em conseqüência de complicações clínicas ou não pode ser localizado.

A lista de espera para transplantes de órgãos tem ao todo, até o final de julho deste anp, 2.298 pacientes, conforme os dados da Central de Captação e Distribuição de Órgãos da secretaria estadual da Saúde.

Na Bahia, conforme avaliações da Central de Captação de Órgãos da Sesab, 24% das recusas tiveram como motivo o desejo de se manter o corpo do doador em condições integrais, sem qualquer mutilação na retirada de órgãos.

Outros 21% dos doadores não tiveram causa de morte registrada. Já 15% das famílias manifestaram contrárias a qualquer forma de doação, enquanto 19% foram os próprios doadores que se recusaram. A pesquisa mostrou ainda que 3% dos casos foram por falta de consenso familiar e 1% apenas por convicções religiosas.

Tribuna da Bahia


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