PARAÍBA

Marcélia Cartaxo fala sobre a novela “Velho Chico” e o cinema na Paraíba

Por Pedro Callado

A atriz paraibana Marcélia Cartaxo concedeu uma entrevista exclusiva a Revista NORDESTE onde falou sobre a sua participação na novela de Benedito Ruy Barbosa, Velho Chico, o trabalho com o diretor Luiz Fernando Carvalho e sobre o cinema nordestino e paraibano. Na edição 110 da Revista Nordeste, você encontra toda a matéria sobre a novela Velho Chico.

Revista NORDESTE: Como será sua personagem em Velho Chico?

Marcélia Cartaxo: Fui convidada por Luiz Fernando Carvalho e Benedito Ruy Barbosa, junto com José Dumont. Eles estão fazendo uma homenagem para gente. O personagem de Zé Dumont é um pescador, eu faço a esposa dele, que é uma lavadeira e a gente representa os ribeirinhos que moram no entorno do rio e vivem dali, da água, da pesca, de lava roupa, são sobreviventes ali do rio. Um ajuda o outro, não tem trabalhos fixos, vivem da pesca e do trabalho que fazem para sustentar a família, ainda tem 3 filhos. Então a gente representa essa classe pobre no qual as pessoas não tem muito acesso a essas coisas que estão acontecendo aqui fora, mídia, internet, essas coisas.

NORDESTE: Os ribeirinhos são contra a Transposição do Rio São Francisco?

Cartaxo: O ribeirinho defende a transposição, mas ele não sabe que essas terras todas vão ser manipuladas, eles não sabem como vão sair dessa ali. É a realidade, é o que tá acontecendo agora. Para os ribeirinhos essa transposição deve ser muito boa se aparecer uma pessoa, comprar as terras baratas, pegar essas pessoas de calça curta. Por conta da necessidade, chegam os tempos difíceis, aí eles não conseguem sobreviver, então, na minha opinião pessoal, por um lado é bom e ao mesmo tempo não é bom, porque a gente sabe que essa transposição só vai favorecer realmente aquele que tem dinheiro para poder irrigar, não é o caso por exemplo dos ribeirinhos. Eu acredito que a gente é contra a questão da transposição. Eu acho que a novela vai dizer isso também, eu acho que é para abrir os olhos, tanto de um lado quanto do outro, por um lado é bom e por outro lado vai mexer com muita gente que não tem condição.

NORDESTE: Os atores do sudeste irão interpretar nordestinos?

Cartaxo: Eu creio que um bocado deles sim, porque tambem tem os filhos que estudam fora, estudam francês, inglês, filhos desses fazendeiros que foram embora para o mundo e que retomam as questões das heranças.

NORDESTE: Deveriam ter mais atores do Nordeste no elenco?

Cartaxo: Não, acho que a gente está bem servido nesse trabalho. Porque fora seis da Paraíba, são quarenta nordestinos, gente da Bahia, de Sergipe, de Alagoas, da Paraíba, Ceará, acho que a gente tá bem servido mesmo.

NORDESTE: Mas, só nessa novela.

Cartaxo: Nessa novela sim, mas é uma coisa de cada vez. Acho também que a coisa do cinema, se regionalizou. A gente vê que hoje em dia os cineastas de Recife estão indo de vento em popa, em Fortaleza também, e essa questão também do espaço que abriu na televisão… Aos poucos a gente percebe que, inevitavelmente, as produções regionais vão ter que invadir esse mercado. A gente tá produzindo muito aqui em João Pessoa, se você abrir uma página (na internet) e for pesquisar o trabalho que Torquato Joel faz pelos interiores, servindo esses novos cineastas, novos diretores, essa geração nova que quer trabalhar no audiovisual. Tem um trabalho bem interessante que Torquat Joel faz nos interiores, não só levando filme da Paraíba, mas levando filme do Brasil inteiro. E a gente manter essa coisa de ir nos festivais, mostrar o lugar, mostra que a Paraíba também é um lugar para filmar…

NORDESTE: Quais são os novos projetos em vista?

Cartaxo: Eu trabalho na secretaria de cultura da cidade de João Pessoa, na Funjope, sou diretora de Audiovisual e a gente tá com um edital que está sendo pago, foi lançado no final do ano passado, termina de pagar agora em fevereiro. E vai começar uma ótima produção de cinema paraibano, são 3 longas, 1 documentário, 3 séries para TV e 10 curtas. Um edital pequeno mas já é um ganho maravilhoso para a gente. São R$ 3 milhões para todos. 700 mil para longas, 500 mil para o documentário, 70 mil para os curtas, 250 mil para cada série. Todos são de João Pessoa, tem muitos veteranos e tem muita gente nova também. É a primeira vez que a gente tem empresa agora de verdade, houve muita concorrência, a gente está muito feliz, a gente sabe que em outro edital, vai ter procura.

NORDESTE: São bons tempos para o cinema na Paraíba

Cartaxo: Não tem tempo ruim, depois que você aprende o caminho, você consegue entrar em todas as áreas que tem aberta para gente. Logo logo quero aprender outras coisas, entra no teatro também.

NORDESTE: Voltando ao Velho Chico, como é trabalhar com Luiz Fernando Carvalho?

Cartaxo: É um trabalho que a gente faz uma faculdade. Quando a gente entra em um projeto desses, a gente tem um tempo de preparação que é fundamental para o trabalho, de interpretação, concentração, observação, voz, corpo, memória da emoção, então, quem entra em um esquema desse, de Luiz Fernando Carvalho, já sai praticamente um ator formado. Tanto na “Pedra do Reino” como em “Alexandre e Outros Heróis” e nesse, “Velho Chico”, são trabalhos extremamente intensos e muito necessário, é como se fosse um ritual, e a gente tem que estar de prontidão. Mesmo para um astro consagrado, é uma escola. Lá tem Christiane Torloni, Irandhir Santos, Dira Paes, Antonio Fagundes, que já teve essa experiência com ele no “Pedacinho de Chão”, Tarcísio Meira, e é o que todo ator quer, tá no meio disso. Estar fazendo o que gosta. Eu acho que é a coisa mais importante, para que a gente amadureça, e se aceite, se ame, goste de fazer o que faz, eu acho que tudo isso é remédio para vida. E trabalhar com Ze Dumont também, eu amei demais fazer essa parceria de novo, eu to amando, adorando.


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