BRASIL

Mercado em favela fatura R$ 30 milhões por ano

A informalidade e o tráfico de drogas afastam as grandes redes do comércio das comunidades brasileiras. A brecha virou uma oportunidade ao comércio local, que prospera nas ruas e vielas de Paraisópolis, em São Paulo, por exemplo. Com mais de 100 mil habitantes, a 2ª maior favela da capital paulista tem suas próprias redes de supermercado, açougues e farmácias. E os números de faturamento acompanham a dimensão da favela.

Aos 28 anos, o empresário Clayton Medina viu seu investimento inicial de R$ 70 mil multiplicar 35 vezes. Após cinco anos, o mercado Nova Central conta com cinco filiais e vende aproximadamente R$ 2,5 milhões por mês ou R$ 30 milhões por ano, segundo o empresário. Diariamente, Medina visita as lojas falando em seu iPhone 6, com óculos escuros e com uma carteira Louis Vuitton na mão.

A trajetória de Medina na comunidade Paraisópolis serve de exemplo para muitos moradores de comunidades do País. Pesquisa inédita do Data Favela, divulgada na terça-feira (3), revelou que ter o próprio negócio é o sonho de quatro em cada dez moradores. Além disso, 55% pretendem abrir o negócio em até três anos.

Após trabalhar em Paraisópolis como vendedor, em 2010, Medina percebeu deficiência na região de mercados e produtos de primeira linha. “Os moradores são humildes, sim, mas gostam de coisa boa. Antes, você só encontrava produtos de segunda ou terceira linha por aqui.” Ele comprou a primeira loja por R$ 70 mil, “dinheiro emprestado de um amigo”, e apostou em marcas líderes para conquistar a preferência dos moradores.

“Já nos primeiros 30 dias tive lucro. Sete meses depois, contratava dez funcionários e comprava uma segunda loja. Continuei crescendo e comprei uma nova loja a cada ano”, explica o empresário, que é formado em matemática e gerencia aproximadamente cem funcionários – quase todos moradores de Paraisópolis.

Para ele, o comércio local poderia expandir ainda mais se não encontrasse as barreiras da favela: informalidade, logística e a presença do tráfico de drogas. As apertadas e sinuosas ruas afastam fornecedores. Além disso, como são ocupações irregulares, as construções não têm documentação. “Esse prédio aqui eu comprei por R$ 1,2 milhão, no ano passado, mas não tenho documento. Só tenho uma declaração do antigo dono registrada em cartório."

Em cinco anos, os mercados de Medina sofreram dois assaltos. Um número pequeno diante da má fama da comunidade, garante ele. E a presença do tráfico de drogas e suas leis têm influência direta na atuação dos ladrões pequenos. “Se você roubar um desodorante no meu supermercado, não posso encostar. Te seguro e chamo um deles [do tráfico]. Aí eles levam para longe e quebram os seus braços. É assim que funciona.”

Em quatro anos, três filiais

O comerciante Milton Ferreira, de 52 anos, deixou a Paraíba há mais de uma década e decidiu aplicar em Paraisópolis os seus conhecimentos da rotina de uma farmácia. Trabalhando desde os 13 anos atrás do balcão, Ferreira criou a MTN Drogaria & Farmácia, em 2011. O plano era simples: trabalharia apenas com os filhos para recuperar o investimento inicial de R$ 15 mil.

“Depois dos primeiros anos, consegui recuperar essa quantia e contratei alguns funcionários. Mas nunca deixei de ser o principal funcionário daqui. Sou o primeiro a chegar e o último a sair”, conta Ferreira, que hoje administra três farmácias MTN nas ruas da favela com visitas diárias e monitoramento por câmeras.

Para ele, moradores não querem deixar a comunidade para comprar coisas básicas e isso incentiva o comércio local. A ausência de grandes investidores é um ponto positivo aos pequenos empreendedores. Ferreira reconhece, no entanto, que os clientes da comunidade ficaram mais exigentes nos últimos anos. E cruzam as fronteiras da favela para buscar “roupas de marcas e restaurantes bacanas”.

Hoje, cada filial da MTN rende um lucro de R$ 6 mil ao mês, segundo o dono. Questionado se os lucros nunca o motivaram a sair da favela, Ferreira explica que não vive pensando no conceito “dentro e fora” da comunidade. “Aqui é um recorte do Brasil. Essa vida de fora [da comunidade] que falam não é tão melhor assim. Não trabalho pensando em ficar ou sair. Só quero melhorar Paraisópolis”, conclui.

 

 

(Do iG)


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