RIO GRANDE DO NORTE

Natal tem a 2ª maior inflação após implantação do real

Uma combinação explosiva de seca, aumento do dólar, reajuste dos combustíveis e realinhamento de tarifas dos transportes de massa levaram a inflação de Natal para a casa de dois dígitos. 2015 chegou ao fim com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) acumulado de 10,05%, segundo a Coordenadoria de Estudos Socioeconômicos, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema/RN). Em dezembro a inflação foi de 0,95%, impulsionada pelo reajuste de preços da margarina, que subiu 13,54%; do açúcar (13,41%), do óleo de cozinha (8,62%) e do feijão (6,57%).

A seca manteve sob pressão os preços de produtos como tomate, batata inglesa, cebola, cenoura, produzidos no Nordeste. A alta do dólar teve impacto nas despesas das famílias de classe média, elevando gastos com transportes, bebidas e alimentação fora de domicílio.

Em julho, a prefeitura do Natal e o Departamento Estadual de Estradas de Rodagens (DER) reajustaram as passagens dos transportes coletivos em 12,7%. O porcentual elevado foi justificado como necessário em função da defasagem provocada pelo congelamento das tarifas após os protestos que ficaram conhecidos como "jornadas de junho de 2013".

Os 10,05% do ano passado são agora a segunda maior taxa de inflação desde a estabilização do real, em 1996, quando a moeda finalmente ficou livre da "contaminação" do processo hiperinflacionário dos governos Sarney e Collor. O recorde foi registrado em 2002, quando o IPC de Natal chegou a 12,74%.

O Índice de Preços ao Consumidor do Idema é composto por dez grupos. O mais importante deles é o de alimentação e bebidas, com participação de 32,4% no orçamento familiar. O grupo habitação vem em segundo lugar com participação de 13,6% e em terceiro Saúde e Cuidados Pessoais (12,7%).

Composta de 13 produtos essenciais para sobrevivência de uma pessoa adulta, a cesta básica subiu 1,6% em dezembro e fechou o ano custando R$ 297. Em relação a janeiro daquele ano, o aumento foi de 14,3%. Na ponta do lápis, isso significa dizer que para comprar em dezembro, os mesmos produtos e as mesmas quantidades adquiridas em janeiro, o consumidor teve de pagar R$ 38 a mais.

Na Ceasa – Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Norte – o preço mais comum da caixa de 24 quilos de tomate longa vida era de R$ 80; a caixa de 30 quilos de tomate Santa Adélia era vendida a R$ 82. A cebola pera ou roxa, 20 quilos, estava cotada a R$ 70, mesmo preço da caixa, também de 20 quilos, da cenoura. “Os preços devem continuar em alta até fevereiro, em função da escassez provocada pela seca”, acredita o subcoordenador de Estudos Socioeconômicos do Idema, Azaías Bezerra de Oliveira.

Mesma opinião tem o especialista em agronegócio Gonzaga Costa, formado pela Universidade Federal do Paraná. Contactado pela TN, ele disse que estava de férias no litoral potiguar e não tinha condições de fazer uma análise mais detalhada do mercado agrícola, no entanto, adiantou que os preços dos alimentos vão continuar em alta porque o Nordeste ainda está na entressafra agrícola.

“No caso específico do Rio Grande do Norte, importamos de outros estados praticamente todos os alimentos. Por conta de El Niño vamos perder safra de milho, soja, arroz e outros produtos na região centro-sul, que é a principal fornecedora desses alimentos para o RN. Ainda não temos certeza se as chuvas serão normais no Semiárido. Portanto, inflação em alta, dólar idem, oferta de alimentos com preços em alta, safras duvidosas, escassez de água, modelos ultrapassados de produção no RN, tudo isso leva acreditar que os preços dos produtos agrícolas – alimentos nos supermercados – continuarão em alta.”

Consumidores e vendedores reclamam de alta de preços

A alta de preços nas gôndolas e o desemprego crescente em todos os setores da economia são os principais motivos da retração nas vendas do setor supermercadista, um dos indicadores do grau de gravidade da crise. Os números de 2015 ainda não foram fechados, mas o acumulado de janeiro a novembro registra um recuou nas vendas de 1,61%, no comparativo com igual período do ano passado.

Nos supermercados é fácil encontrar pessoas reclamando dos preços e admitindo ter mudado o perfil de consumo para se adaptar aos novos tempos. Não só nos supermercados. Nos centros mais populares, como o Alecrim, a reclamação é ainda maior.

"Os preços estão um absurdo. Não sei onde essa inflação vai parar. Estou vendo a hora não ter mais dinheiro nem para comprar comida", disse a dona de casa Leidiane Santos, que reclama da falta de uma política mais eficaz do governo de presidente Dilma no combate à inflação.

A queda na renda em função do aumento do desemprego também afeta ambulantes como Edinor Fagundes da Silva, vendedor de cangica e pamonha no Alecrim. Ele disse que as vendas caíram quase 50% nos últimos tempos. "Antes eu vendia 50 pamonhas e 40 cangicas por dia, mas agora fica entre 25 e 30", disse ele, lembrando que o preço de seus produtos está congelado há cinco ano. "A pamonha é R$ 3. Se eu aumentar, o cliente foge."

Tribuna do Norte 


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