BRASIL

Nordestinos que receberam nota máxima na redação do Enem contam experiência

Por Pedro Callado

Entre os 5,8 milhões de candidatos que escreveram a redação do Exame Nacional do Ensino Médio 2015 (Enem), com o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, apenas 104 obtiveram 1.000 pontos, que é a nota máxima. Muitas vezes a redação parece um bicho de sete cabeças para muitos estudantes brasileiros, e eles até tem motivos para isso. 53 mil candidatos receberam nota zero. Já a quantidade de concorrentes que receberam notas entre 900 e 999 foi de aproximadamente 47 mil. Ou seja, é mais fácil zerar do que receber uma nota alta.

Candidatos que tiraram a nota máxima falaram sobre suas experiências e explicaram como alcançaram os mil pontos na dissertação. Uma potiguar, uma paraibana, um cearense, uma piauense e uma pernambucana se dedicaram aos estudos e foram alguns dos que alcançaram o feito. Valéria Alves, a piauense de 21 anos, sonhava em fazer medicina e estudava até 12 horas por dia em 2010. A rotina intensa e a cobrança excessiva que ela mesma se fazia se agravaram e ela largou os estudos. Quatro anos depois decidiu voltar aos livros e, pensando que o vestibular para medicina seria mais concorrido e difícil, decidiu optar pelas ciências sociais. Aconteceu que a proximidade com a sociologia deu a Valéria embasamento para realizar uma boa redação. “Muita coisa contribuiu para eu ter uma ideia, poder argumentar e, praticamente, me basear em tudo que eu pude dissertar no Enem”, contou. Agora ela tem uma nota boa o suficiente para concorrer para um curso de medicina.

O potiguar Fábio Constantino, de 19 anos, é motivo de orgulho para a família. Do município de Assu, filho de empregada doméstica e comerciante, Fábio cursou o ensino médio no Instituto Federal do Rio Grande do Norte e em 2015 fez cursinho com bolsa integral e estudava também em casa. Na redação ele usou exemplos machistas que estão inseridos na sociedade. “Está tão impregnado no imaginário da sociedade, que a gente nem percebe que músicas de sucesso incitam o ódio contra a mulher”.

 

Já formada em jornalismo, a paraibana Cecília Lima de 25 anos, teve que se desacostumar do texto jornalistico para escrever a redação escolar exigida pelo Enem. “Passei cerca de 30 dias escrevendo uma redação por dia. Treinei muito. Fiz um planejamento anual apenas para me preparar para a redação”. Cecília pontuou que não foi só prática. “É fundamental que o candidato tenha domínio dos critérios que são cobrados nesta etapa do exame. É preciso escrever aquilo que os corretores querem ler: as conjunções, tese, proposta de intervenção e os demais critérios”.

A pernambucana Andreza Cavalcanti, de 17 anos, em sua primeira redação, recebeu a pontuação de 680. Em 2015 ela entrou em um cursinho que a ajudou a se preparar, mas teve outro fator decisivo. A dedicação a um projeto social na escola chamado Rosa e Lilás lhe ajudou a conhecer de perto o combate à violência contra a mulher e favoreceu na construção do argumento. Andreza escreveu sobre a exploração da mulher em comerciais de cerveja, ilustradas como produto.

A professora de Andreza Tereza Albuquerque, afirma que existe uma forma própria do Enem exigir a produção textual do aluno. Segundo ela, seguindo um ciclo que aborda quatro pontos a nota do aluno será alto. Os pontos são: Ética, Cidadania, Capitalismo e Luta contra o preconceito. Todo esse discurso voltado para a importância do “excluído”. “Quando eu digo excluído, não quero dizer o mais pobre, mas é aquele que tem os seus direitos censurados”.

O cearense Carlos Felipe Bezerra, de 18 anos, sonha em fazer o curso de Direito e enfiou a cara nos livros. Ele conta que o segredo é se manter bem informado. “Estar sempre lendo sobre variados assuntos, a fim de garantir repertório sociocultural. Sabendo relacionar esse 'conhecimento extra' à escrita correta, você tem grandes chances de garantir uma nota boa”. Mas não é porque ficou estudando que Carlos deixou de se divertir ao longo do ano. “Gosto de sair com os amigos, ir ao cinema, ir a festas. Gosto, também, de ficar em casa ouvindo música, assistindo a filmes ou a séries.”.

Pela experiência dos candidatos Notal Mil, dá para perceber que não precisa se matar de estudar para chegar no topo. Mas é evidente que precisa de estudo e dedicação. Valéria, Natália, Cecília, Andreza e Carlos suaram a camisa, mas foram recompensados justamente por isso.

 

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