POLÍTICA

NOVA EDIÇÃO DA NORDESTE: O futuro do tabuleiro nas eleições municipais pelo Nordeste

 

Por Luciana Leão e Walter Santos 

 

Já circula nacionalmente a nova edição da Revista NORDESTE avaliando as disputas nas nove capitais. Faltando um pouco menos de um ano do primeiro turno das eleições municipais,  os partidos e suas lideranças políticas começam a mexer no jogo das peças.

 

No Nordeste, segundo análise do cientista político e membro do Instituto Histórico de Olinda, Hely Ferreira, partidos que saíram fragilizados em todo o Brasil nas eleições de 2019, como o PT,  a depender da força de seu principal cabo eleitoral, o presidente Lula, podem retomar o bastão em algumas capitais.

 

 

Por outro lado, até que ponto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderá exercer influência naqueles candidatos que terá, a sua benção, pelo Nordeste? Fica a pergunta.

 

 

Embora ainda falte alguns meses para a disputa eleitoral que elegerá chefes do Executivo Municipal em 5.568 cidades, além de cerca de 58 mil vereadores, nesta pré-corrida eleitoral , com o início de formação das alianças e apoios políticos para o pleito municipal, alguns pré-candidatos já despontam como favoritos.

 

 

A Revista NORDESTE traz um balanço e análise, ainda sem resultados definidos, pois muitas negociações ainda estão no campo do diálogo, e constata que, nas nove capitais nordestinas, prefeitos candidatos à reeleição como João Campos (PSB), no Recife, e JHC, em Maceió,  despontam como favoritos. 

 

 

Em outras cidades, como Salvador, a pré-disputa está, como diz o nordestino “enrolada”, assim como em Fortaleza, onde a crise interna do PDT, pode arrefecer forças para o retorno de Luizianne Lins (PT), ou mesmo, o capitão Wagner, da União Brasil. 

 

 

“Quando nós pensamos nas capitais, elas são sempre vistas como um termômetro para as eleições que irão ocorrer dois anos depois, no caso as eleições para governo do estado. Com algumas exceções, em alguns estados brasileiros, quem é prefeito de uma capital tem sérias chances ou reais chances de ser candidato ao governo do estado”, acrescenta Hely Ferreira. 

 

 

Ferreira acrescenta também que no caso de eleições municipais um fator é considerado relevante, pois trata-se do pleito onde o eleitor mais participa.

 

 

“O eleitor geralmente esquece os apoios que são recebidos no âmbito estadual ou no âmbito federal e tem mais uma leitura local, independente de quem seja o candidato. A análise é muito mais local. Até porque, principalmente nas eleições proporcionais, os vereadores, em tese, são os políticos mais próximos do povo. Esse é um cenário que deve ser levado em consideração”.

 

 

Vejamos separadamente cada capital do Nordeste, até o momento:

 

 

Recife 

 

Na capital pernambucana, o atual prefeito João Campos (PSB) é tido como favorito, até pela avaliação positiva de sua gestão apresentada por meio de pesquisas. A pergunta que se faz nos bastidores é quem será o (a) companheiro (a) de chapa do socialista, já que o PT , PSOL, PDT, REDE caminham para ter suas próprias candidaturas.

 

No campo da oposição, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB) se optar por apoiar duas candidaturas, pelo menos é o que vem sendo noticiado nas entrelinhas, o favoritismo de Campos ainda permanece.

 

Redução de danos

 

Para minimizar a redução dos danos nas eleições frente ao PSB, candidatos oposicionistas devem lançar mais opções para que a votação do atual majoritário do Recife não seja estupenda. 

 

Para tanto, uma possível candidatura do atual secretário de Turismo,  ex-deputado federal Daniel Coelho vem sendo cogitada, além da própria vice-governadora Priscila Krause, do Cidadania, apesar de nada oficial.

 

Representando o bolsonarismo histórico seria o ex- ministro do Turismo e ex- candidato ao Senado, Gilson Machado. E, pela extrema esquerda, a candidatura da deputada estadual Dani Portela, do PSOL.  “Aí também tem uma disputa dentro da federação, onde seria Dani Portela pelo PSOL ou Túlio Gadelha pela Rede”, avalia Ferreira.

 

É bom a gente lembrar que política é como uma nuvem. Nós temos um cenário, como dizia Magalhães Pinto: ‘ olhamos para o céu, quando baixamos os olhos e olhamos de novo. Tudo muda’, reforça o cientista político Hely Ferreira.

 

Maceió

 

O atual prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC,  candidato à reeleição e do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) , é favorito em Maceió. No entanto, outros nomes aparecem como o Alfredo Gaspar, pelo União Brasil ou o delegado Fábio Costa, ambos disputam o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

 

“Apesar do favoritismo do JHC e o fato de ter migrado para o PL, muitos não vêem com bons olhos essa filiação dele, porque historicamente o atual prefeito sempre esteve ligado ao PSB”. A capital alagoana, aliás, foi a única cidade do Nordeste que deu maioria ao candidato à Presidência Jair Messias Bolsonaro em 2022.

 

Aracaju

 

Em Aracaju, o  atual prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), ainda não definiu se irá compor uma aliança com o PT. 

 

Entretanto, no cenário pré-eleitoral da capital sergipana, o número de candidaturas já somam 18. “É muita gente tentando disputar a prefeitura”, comenta o cientista político.

 

Nomes como a vereadora Emília Corrêa, do Patriotas, Valmir de Francisquinho, do PL, a secretaria estadual e delegada Danielle Garcia, a deputada estadual Linda Brasil (Psol), primeira mulher trans a se eleger para o Legislativo Municipal,  a deputada federal Yandra Moura (União) além do ex-governador Belivaldo Chagas,  e outros com baixa perfomance como Rodrigo Valadares, Luís Roberto (PDT), e Márcio Macedo, do PT. 

 

Salvador

 

Para o cientista político Hely Ferreira, Salvador, talvez seja, neste momento,  a capital do Nordeste que mais tenha pré-candidaturas. Bruno Reis, que é o atual prefeito, tem o apoio de ACM Neto e pode ser candidato à reeleição. 

 

O emedebista Geraldo Júnior (MDB) é outro nome cotado para disputar a Prefeitura de Salvador, porém ele é o vice-governador do Estado da Bahia, o que complicaria a situação do governador Jerônimo Rodrigues (PT), pois o partido já colocou o nome do deputado estadual, Robinson Almeida, como pré-candidato.

 

Correndo por fora, a deputada estadual do PCdoB,  Olívia Santana, que compõe a federação com PT e PV, além de Kleber Rosa, do Psol.

 

Do lado bolsonarista, o ex-ministro da Cidadania, João Roma, também pleiteia a entrada à disputa. Ele é filiado ao PL.

 

Teresina

 

O atual prefeito do Republicanos, Doutor Pessoa, é candidato à reeleição.  Outros na disputa seriam Sílvio Mendes, que aparece liderando as pesquisas pelo União Brasil, Fábio Novo, pelo PT,  Luciano Nunes (PSDB), Paulo Márcio (MDB), e Tonny Kerley (Novo).

 

São Luís

 

Além do atual prefeito Eduardo Braide (PSD), candidato à reeleição, aparecem no páreo o deputado estadual Neto Evangelista, do União Brasil, e o deputado federal Duarte Júnior, do PSB. 

 

Pelo PT e partidos da federação, ainda não há um nome de consenso, mas o ex-prefeito, por duas vezes,  Edivaldo Holanda Júnior, seria uma das alternativas para um palanque com apoio do presidente Lula.

 

Natal

 

Apesar de o estado ser liderado pela governadora do PT, Fátima Bezerra, alguns pré-candidatos já aparecem com boa desenvoltura nas pesquisas, como o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD), à frente da deputada federal Natália Bonavides, pelo PT. 

 

Carlos Eduardo já foi prefeito de Natal por quatro mandatos (2002, 2004, 2012 e 2016), mas em 2018 renunciou ao cargo para disputar a eleição contra Fátima Bezerra e saiu derrotado.

 

À época, quem assumiu o cargo foi o então vice-prefeito, Álvaro Dias, atual prefeito da cidade potiguar. Nos bastidores, fala-se em uma possível aliança de Álvaro Dias (Republicanos) com o ex-deputado Rafael Motta, do PSB.

 

Paraíba

 

Para João Pessoa, o atual prefeito Cícero Lucena (PP) tem o apoio do governador João Azevedo (PSB) e é candidato à reeleição. 

 

Na capital paraibana,  o processo de apoio do governador se faz necessário acompanhar as manifestações de aliados de João Azevedo, querendo participar do processo, mas há dados de hoje que o líder do PSB ratifica apoio à reeleição de Cícero.

 

Também na corrida pré-eleitoral  aparece  Ruy Carneiro, que já  por duas vezes disputou a prefeitura da capital paraibana, e Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde de Jair Bolsonaro e, certamente terá apoio de Bolsonaro. Nesse campo da Direita surge ainda o nome de Nilvan Ferreira. 

 

Há ainda movimentos do PT insinuando lançar candidatura própria. Os deputados Luciano Cartaxo, ex-prefeito, e Cida Ramos se apresentam como pré-candidatos.

 

Fortaleza

 

O atual prefeito da capital cearense, José Sarto, pelo PDT, é candidato à reeleição, porém com a crise interna que passa o partido no Estado, muitas conversas ainda devem ser feitas.  

 

“Do lado do PDT ainda teria o nome de Evandro Leitão, atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará e não o atual prefeito”, pontua Hely Ferreira.

 

Há quem também aposte no retorno da ex-prefeita e atual deputada federal Luizianne Lins (PT) para disputar as eleições em 2024. 

 

Pelo campo conservador, aparecem na disputa o Capitão Wagner pela União Brasil, o deputado federal André Fernandes (PL) e o senador Eduardo Girão, pelo Novo.

 

Saiba Mais:

 

Como ficou o tabuleiro nas últimas eleições municipais 

 

O MDB foi a legenda com maior domínio nas cidades brasileiras, com 797 prefeituras. A sigla, no entanto, perdeu comandos na comparação com a última eleição (em 2016, havia eleito 1.044). Na sequência do ranking, aparecem PP (701) e PSD (662).

 

Em 2020, o PT conseguiu eleger 183 prefeitos, no seu pior desempenho, desde 2000. Perdeu o comando de 71 prefeituras no comparativo com o pleito anterior.

 

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), vice-presidente nacional da sigla e coordenador nacional do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do partido, a meta é ampliar o número de prefeituras e de vereadores em todo o país.

 

“O governo Lula vem avançando a passos largos na reconstrução do Brasil. É claro que isso vai ter repercussão na disputa. Nós temos o maior e melhor cabo eleitoral do Brasil”, disse Costa, após reunião com o presidente Lula, no dia 8 de novembro, no Palácio do Planalto.

 

Diálogos

 

O senador Humberto Costa tem dialogado com os diretórios municipais e estaduais em busca de entendimentos para construção e fortalecimento da sigla, que obteve um desempenho pequeno nas últimas eleições. 

 

“Nós assistimos um quadro de polarização constante na política brasileira já há bastante tempo e que parece não ter fim. E como o eleitor brasileiro tem uma tendência a votar não em partidos, mas em nomes, é bem verdade que existem exceções, mas o que estará sendo olhado nessas eleições, principalmente na região Nordeste, é até que ponto o ex-presidente Jair Bolsonaro poderá exercer influência naqueles candidatos que terá, a sua benção, a Prefeitura das Capitais e, por outro lado, o presidente Lula, nós sabemos que na eleição passada o Nordeste deu uma votação expressiva ao atual presidente. Agora, nessas eleições de 2024, vamos ver até que ponto essa força do atual presidente ainda existe na região Nordeste”, opina Hely Ferreira.

 

Um país de práticas ainda oligárquicas

 

Mesmo estando em pleno século XXI, no Brasil ainda predomina uma “república monarquista”, na opinião do cientista político Hely Ferreira. “Se é que a gente pode usar essa expressão”, acrescenta. 

 

Ferreira explica que, embora o País seja uma República, as tradições familiares na política são desenvolvidas ao longo dos anos. “De modo que o Brasil é um país oligárquico, e a prática do velho coronelismo, ela não se encerrou. Ela saiu do interior e veio para os chamados coronéis do asfalto”, pontua.

 

 

*Conteúdo publicado na edição 202 da REVISTA NORDESTE, edição digital e impressa.

 


Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Recomendamos pra você


Receba Notícias no WhatsApp