BRASIL

OPINIÃO: Mariana, Brumadinho, Maceió e outras tragédias; uma abordagem sobre a dura realidade

Por José Natal

Em janeiro próximo, e em fevereiro e março também, com certeza as imagens da TV e as páginas dos jornais vão varrer Brasil afora, mostrando quedas de barreiras nas favelas do Rio, enchentes e inundações nos Estados do Sul e ruas alagadas nas periferias de Minas e São Paulo.

 

Nenhum País do mundo é tão competente como o Brasil para advertir e alertar as comunidades sobre os perigos e ameaças da natureza e as intempéries do tempo. Como nenhum País do mundo é tão incompetente como o Brasil para evitar as tragédias que anuncia.

 

As comunidades tocam sirenes, a Defesa Civil faz boletins, a Polícia Militar
permanece em prontidão, e o Corpo de Bombeiros cancela folgas e aumenta plantões.

 

Mas chegam as chuvas, o vento sopra forte, as árvores despencam do solo e lá se vão as famílias desamparadas buscando abrigos e recorrendo a escolas e ginásios, num drama triste que se repete anos após ano. De nada adianta esnobar planos de prevenção, sem corrigir os evidentes pontos sabidamente conhecidos como frágeis e perigosos.

 

Somos campeões das tragédias anunciadas, uma vez que todos os governantes sabem onde moram os problemas, conhecem as fraturas expostas das áreas de riscos mas todos eles, estranhamente se revelam fracos e sem habilidade alguma para que as fatalidades diminuam.

 

Na memória de todos nós estão gravadas as imagens da lama de Mariana e Brumadinho, dos desmanches das encostas do Rio e das águas invadindo até berços de crianças no Sul.

 

Depois que tudo acontece, Ministros vestem capas de chuva, sobem em helicópteros e fazem sobrevoos rasantes nas chamadas áreas afetadas pela tragédia. Anunciam verbas, prometem asfalto e redes de águas pluviais, muros de arrimo, reparos imediatos aos danos causados e não se fala mais nisso. Pelo menos até a próxima temporada de chuvas.

 

Entra governo e sai governo, nada muda quando o problema é relacionado a política de prevenção, medidas efetivas para se evitar as tragédias. E tudo acontece, quase sempre, com o mesmo enredo.

Há sempre uma empresa de grande porte envolvida nas obras vizinhas ao acidente, um ou dois políticos de ocasião que sobem num banquinho e fazem discurso jurando amor eterno aos desabrigados, e o Nada Acontece Futebol Clube se espalha numa eterna demagogia que não leva nada a lugar nenhum.

 

Esse caso de agora, que acontece em Maceió, onde a terra afunda e leva com ela um bairro inteiro, é o exemplo típico e verdadeiro da total desatenção e falta de interesse das pessoas responsáveis pelo que está acontecendo.

 

É evidente que para que a situação de colapso dessa área esteja hoje como está, esse fenômeno está ali instalado com certeza há anos, muitos anos. Fácil deduzir que trata-se de um fato há muito identificado pela empresa mineradora, e que providências devidas não foram adotadas, como deveria acontecer.

 

Hoje, com 60 mil pessoas fora de casa e sem rumo na vida, resvalam no absurdo as explicações que se ouve sobre o fato. Indenizações são anunciadas a longo prazo, e quase todas elas bem distante da real necessidade das famílias prejudicadas.

 

Em Mariana e Brumadinho foi assim, e em outras regiões de tragédias também. Os processos são longos, as investigações são lentas e a justiça não se emociona com as causas, como tem que ser. Agora a providência que se anuncia para apontar os culpados é a instalação de uma CPI que jura ser isenta e atuar com presteza para punir os algozes e incautos.

 

Uma vez mais vamos assistir pela TV uma longa temporada de ofensas e agressões, troca de gestos de deselegância e desprezo por quem assiste. E ao final um relatório de mil páginas deve anunciar providências que o País nunca fica sabendo de fato se foram adotadas ou não.

 

Por mais que os integrantes da Comissão Parlamentar de inquérito se dediquem às investigações, e cobrem explicações das autoridades envolvidas nesse evento, nenhum resultado alcançado será em benefício das famílias atingidas.

 

A sociedade não é tola, e facilmente vai perceber que o que de fato motiva CPIs como essa, está bem longe de ser uma atitude que vise compensar ou melhorar a triste condição de vida dos atingidos pela terra arrasada.

Tudo isso muito triste e lamentável, e nos leva a uma dose de desânimo e descrença sem fim. Difícil achar os culpados, difícil crer que há inocentes. Sabemos apenas das vítimas, que somos todos nós.

José Natal
Jornalista


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