BRASIL

Otto Alencar diz que o potencial de crescimento de Rui Costa “é forte”

Recém-egresso da Secretaria de Infraestrutura do Estado, Otto Alencar diz que tem procurado conciliar suas atividades de vice-governador com a atuação de pré-candidato ao Senado. Em entrevista exclusiva à Tribuna, Otto diz ser muito forte o potencial de crescimento do pré-candidato do PT ao governo, Rui Costa, e que a receptividade nas plenárias de debate do futuro plano de governo tem surpreendido positivamente.
Para ele, a boa avaliação do governo Wagner vai dar fôlego para que o governador possa transferir votos e prestígio para seu candidato. O presidente do PSD enfatiza ainda que além do postulante petista, a única novidade desta eleição para o governo é a presença da senadora Lídice da Mata, que era aliada e agora será adversária. “Os outros três candidatos (Souto, Geddel e Marcos Mendes) disputaram conosco em 2010 e eu não vejo nenhuma novidade nisso. Juntos ou separados, não altera em nada”. Vale a pena conferir.

Tribuna da Bahia – Otto, fora da secretaria, agora só vice-governador. Está sobrando tempo para fazer campanha?
Otto Alencar – Eu assumi a vice-governadoria recentemente e tive poucos dias para arrumar as gavetas e as coisas. Eu estou me movimentando normalmente, participando das reuniões partidárias e do programa participativo do governo, junto com o nosso pré-candidato Rui Costa. Faço algumas viagens ao interior para visitar algumas cidades. Hoje estou em Lajedinho, vim ver as ações depois daquela tragédia que aconteceu em 8 de dezembro. Ao todo, 40 casas já foram construídas e outras vão começar as obras. Neste sábado, 05/04, vamos a Itaberaba e domingo em Ipirá, sempre dentro das restrições da Lei.

Tribuna – Você é um candidato que chega como favorito na disputa para o Senado. Qual a sua principal estratégia para conseguir a vitória?
Otto – Eu tenho muita humildade e consciência de que eleição não se ganha de véspera. Eu tenho que apresentar aquilo que eu acho que posso defender como interesse do meu Estado, do meu País, mas a eleição começa no horário eleitoral gratuito e também quando são permitidas as manifestações. Eu busco as coisas com os pés no chão e tenho consciência de que sou um político que tenho uma história de trabalho e, sobretudo, de muitas realizações em favor do povo da Bahia, mas em nenhum momento da campanha vou desqualificar a imagem do meu adversário. Vou procurar defender aquilo que eu acho importante para o Brasil e meu Estado.

Tribuna – Você teria dito, certa vez, que gostava muito de fazer política na Bahia e que preferia ficar no estado a ir para Brasília, para o Senado. O que mudou para aceitar esse desafio?
Otto – Eu nunca me pronunciei dessa forma tão incisiva. É que a vida política me trouxe opções de ficar no Estado. Fui deputado estadual três vezes, presidente da assembleia, fui convidado para ser secretário de saúde do governo Antonio Carlos e vice-governador de Luis Eduardo Magalhães em 1998. Infelizmente, com a morte de Luis Eduardo, que me chocou profundamente, foi muito doloroso porque ele me convidou para ser vice dele em 16 de abril e morreu em 21 de abril. Eu já estava chamado por ele, quem estava no governo era César Borges, e terminei sendo vice do César Borges. Depois disso, coordenei o programa Sertão Forte e, em 2002, o então senador Antônio Carlos me pediu para que eu fizesse a transição de governo. Como ele tinha boa relação pessoal e política comigo, eu aceitei. Eu fiz a transição do governo, apoiei a candidatura de Paulo Souto, fui ser secretário da Indústria e Comércio de Paulo Souto, depois fui para o Tribunal de Contas, mas não me adaptei à atividade de conselheiro e voltei à política. Eu nunca fui radical de dizer que “não faço isso” e “dessa água não beberei”. Eu acho que o ser humano pode, de uma hora para a outra, desejar alcançar aquilo que considera útil a seu estado ou país. É uma experiência que tenho e que posso contribuir para meu Estado e meu País, se por acaso chegar ao Senado da República.

Tribuna – Como está vendo essa fase de pré-campanha? Como está a receptividade a você e a Rui Costa?
Otto – Ainda é muito cedo, o eleitor não entrou na campanha. Nas pesquisas internas que estamos fazendo, na espontânea, por exemplo, o eleitor se manifesta muito pouco, e na estimulada os nomes mais conhecidos são pontuados. Na verdade, a eleição começa quando a lei permite que você possa se manifestar na televisão ou com publicidade. Ainda estamos distantes da eleição, até porque, hoje, qualquer pessoa que você pergunte, ela vai dizer que está interessada em resolver a vida dela do que pensar na política fora de tempo. Eu estou visitando esses ambientes fechados, as militâncias e lideranças, aqueles que se interessam em participar da construção do programa de governo proposto pelo nosso grupo. Na verdade, as coisas começam a despertar o interesse do eleitor quando a lei permite a publicidade. Tantas são as eleições, na Bahia, que quem saiu na frente terminou atrás, não foi?

Tribuna – Qual o patamar de crescimento que o senhor acredita que o candidato Rui Costa pode alcançar?
Otto – Nas pesquisas internas que fizemos, não posso divulgar muito porque a lei não permite, mas me surpreende a densidade eleitoral dele em várias regiões. Ele foi vereador, deputado federal, secretário da Casa Civil, mas nunca teve exposição em mídia grande. Nunca disputou eleição majoritária para governador e nem para senador. Essa exposição em mídia que ele não teve, eu também não tive. Eu ocupei muitos cargos, mas nunca fui para a televisão em horário eleitoral. Sou conhecido, mas ainda não tive essa oportunidade de ter uma mídia forte. Rui, por não ter também, me surpreendeu muito positivamente.

Tribuna – Qual o fôlego que o governador Jaques Wagner vai ter para transferir votos e prestígio para Rui?
Otto – A avaliação do governador, hoje, é muito boa. O ótimo e bom dele está em um nível que nós consideramos bom e vai melhorar. Obras que estão em curso serão concluídas, como os dois viadutos da Avenida Paralela e outros investimentos em andamento, e no interior da mesma forma. Os programas estão avançando muito, mas claro que terão problemas aqui ou ali. Eu participei de um grupo que governou a Bahia por 30 anos, mas eu só participei efetivamente por 19 anos. Fez muito pela Bahia, mas também não fez tudo, tanto que até hoje tem demanda em várias áreas: saúde, educação, segurança pública, infraestrutura e outras atividades. O que vai se mostrar na televisão, no programa eleitoral, é o que foi feito em sete anos e não o que todos os baianos precisavam que fosse feito pelo governador Wagner.

Tribuna – Como o senhor avaliou o processo de escolha do vice? Foi traumático ou os ânimos acalmaram?
Otto – De certa forma foi traumático porque eram dois concorrentes, o Mário e o Nilo, e terminou com a indicação do PT para João Leão. Queríamos um nome que agregasse como agregaria se fosse o Mário ou o Nilo. O João também agrega, mas eu creio que o governador conversou com o Marcelo, do PDT, que tem espírito público, que já vem na aliança há muito, e ele vai compreender o momento dele como tive que compreender o meu por várias vezes quando participei do grupo do senador Antonio Carlos Magalhães, em 1994. Em 1998, fui candidato a vice de Luis Eduardo, fiquei. Em 2002, apoiei a candidatura do senador Antonio Carlos, do César ao Senado e de Paulo Souto. Nem por isso deixei de ter em minha consciência a certeza de tudo que ocupei em minha vida, eu trabalhei para o meu povo. Fui útil em qualquer atividade, como médico que fui, não exerço mais a atividade médica, como secretário de saúde, como governador, mesmo sendo nove meses, secretário da Indústria e Comércio. A consciência do político é que ele, sendo vereador ou presidente da República ou o prefeito que for, possa agir em benefício da população. Eu tenho essa consciência, e o Marcelo também tem. Ele vai entender que não foi o momento dele, mas ele é jovem e tem todas as condições de pleitear um cargo majoritário, e densidade eleitoral para isso ele também tem. É uma pessoa que tenho admiração e respeito, e sei que ele vai continuar na aliança com a gente.

Tribuna – O deputado João Leão agrega? Qual a sua avaliação?
Otto – Agrega, ele teve mais de 200 mil votos, foi muito bem votado para prefeito, é muito forte no oeste da Bahia e em outras regiões também. Os eleitores dele o seguem muito e ele transfere votos, porque tem político que não consegue transferir votos.

Tribuna – O senhor acredita que a candidata e ex-ministra Eliana Calmon pode dar trabalho na campanha ao Senado?
Otto – Não sei. Ela é uma pessoa que tem toda respeitabilidade no exercício dos cargos que ela ocupou. É uma coisa que só a eleição vai dizer. Eu não tenho como fazer previsão a respeito do desempenho dos meus adversários, respeito todos eles, inclusive ela também. É uma pessoa que contribuiu muito para o Poder Judiciário, e os eleitores terão liberdade para escolher aquele que vai representá-los no Senado. Eu vou propor no programa eleitoral as coisas que eu acho que precisam ser modificadas no Brasil. Vou trabalhar com muita intensidade, como sempre fiz, com muita militância, buscar o voto aonde ele estiver e respeitar os meus adversários.

Tribuna – Se Geddel for confirmado ao Senado, a eleição fica mais dura?
Otto – Eu não posso fazer essa avaliação. Quem tem maior densidade eleitoral é uma coisa que só o processo eleitoral vai definir. Ou ex-ministro Geddel ou Eliana Calmon. Eu não posso fazer previsão futurista, mas nós vamos ter uma eleição mais ou menos parecida com a de 2010. Se formos olhar para o governo, em 2010, eu fiz aliança com Wagner e enfrentamos Paulo Souto em uma articulação, Geddel em outra e Marco Mendes em outra. Só eram três candidatos e nós ganhamos no primeiro turno com 64% dos votos. A única novidade dessa eleição é a presença da senadora Lídice da Mata, que era do nosso campo político e agora é candidata. Os outros três candidatos disputaram conosco em 2010 e eu não vejo nenhuma novidade nisso. Juntos ou separados, não altera em nada.

Tribuna – Como você avalia o cenário da oposição? Essa demora deles em definir o candidato está ajudando o PT, já que Rui Costa está se movimentando desde dezembro?
Otto – Todos estão se movimentando. O candidato do DEM tem se movimentado, participado de inaugurações com o prefeito ACM Neto, Geddel da mesma forma, pois ele fez uma reunião com vários prefeitos, vários partidos menores. Todos os candidatos, os eleitores sabem quem são definidos. Se vão sair unidos ou separados, não vejo muita alteração nisso, não posso avaliar. O único que teve dúvidas se seria candidato ou não e resolveu, agora, foi o ex-governador, e Geddel há muito tempo queria ser candidato. Lídice, também, há muito queria ser candidata.

Tribuna – Falando em Lídice, ela vai tirar votos do PT, já que eles transitam pela mesma faixa do eleitorado?
Otto – Ela tem a densidade eleitoral dela e vai tirar votos não só do PT, mas deve tirar de outros grupos também. Ela tem simpatizantes em vários setores das classes sociais que compõem o conjunto dos eleitores. Mas isso é uma coisa de previsão e eu não sou muito adivinho. Eu vivo o meu presente, a escala de futuro tem variantes, depende do cenário nacional, do nosso candidato, do candidato dela, é uma coisa ainda embrionária. Tem várias eleições que o candidato começou na frente e terminou atrás.

Tribuna – Como você, que está dentro do governo Wagner, avalia a gestão atual? Qual o principal erro e o principal acerto?
Otto – O governo tem muitas obras espalhadas pela Bahia inteira. Se olharmos o Programa Luz Para Todos, no estado da Bahia, é um programa vitorioso. São mais de 500 mil ligações em domicílios rurais. Não é na sede do município, é na zona rural. A casinha da roça que recebeu energia. O Programa Água Para Todos já tem mais de três milhões de baianos. Mais de sete mil e quinhentos quilômetros de estradas comprovados. Eu tenho acompanhado e posso apresentar um relatório a qualquer hora. As intervenções urbanas na capital foram muito grandes. A Via Expressa, o Complexo Dois de Julho, os dois viadutos da paralela, o metrô que começa a funcionar em junho, e outras cidades de grande porte da mesma forma. A Ferrovia Oeste-Leste, que, às vezes, as pessoas não se apercebem do valor dela, é uma obra monumental. É uma ligação do oeste da Bahia com o litoral. Vai ligar Barreiras a Ilhéus. Eu posso chamar de ferrovia da integração porque pode acabar com o sentimento separatista do oeste da Bahia, que fica longe dos centros das decisões. Quem está perto do poder consegue muito mais do que quem está longe. Essa é uma realidade. O Estaleiro do Paraguaçu é um investimento grande. Muitas empresas chegaram à Bahia nesse período e não há como negar que o governo Wagner é altamente positivo, tanto é que a última pesquisa de avaliação mostrou que o ótimo e bom dele estavam em uma situação que nunca estiveram.

Tribuna – Como avalia o governo de ACM Neto?
Otto – Em relação ao que passou, está muito bem porque o que passou foi um fantoche governando uma cidade da dimensão de Salvador. Foi um despreparado, alguém que não tinha condição de ser prefeito de nenhuma cidade da Bahia, quanto mais de Salvador. O Neto está arrumando a casa, tomou atitudes necessárias e está fazendo um esforço grande para consertar o que estava numa situação de descalabro administrativo. Medidas duras tiveram que ser tomadas. Agora, o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo, preparou isso, mas exagerou na dose. Ele fez coisa semelhante em São Paulo e prejudicou muito o ex-governador José Serra. Tanto é que o Serra não teve uma eleição vitoriosa nas últimas tentativas. O imposto aflige todos os brasileiros, não só o IPTU, mas todos os impostos. A carga tributária é muito grande. A prefeitura já cobra o ISS, que na minha avaliação é o imposto mais injusto. Ele é cobrado em cima do faturamento bruto. Não existe isso, é um absurdo! Você monta qualquer negócio, em qualquer cidade do Brasil, e a prefeitura passa a ser sua sócia porque cobra 5% em cima do faturamento bruto. No Brasil, a politributação vem de uma regra geral. A carga tributária ninguém suporta mais e as prefeituras fazem isso porque a distribuição do bolo tributário é injusta. Como está posto o capítulo da distribuição tributária, para resumir, colocaram os prefeitos junto dos problemas do Brasil e distantes do dinheiro, que está em Brasília. Não tem problema em Brasília, a não ser quando acontece corrupção, que é falha humana. Colocam os prefeitos para resolver os problemas da saúde, educação e até da segurança pública, da habitação, assistência social. Deram muitas atribuições aos prefeitos e os colocaram perto do povo, longe dos recursos. O mais injusto é a questão das contribuições que representam 48% da arrecadação do governo federal. As contribuições que vão para o governo federal, não volta um centavo para os municípios ou estados. A reforma tributária diz que parte das contribuições arrecadadas pelos municípios e estados devem voltar para infraestrutura, para investimentos. E Embasa, em 2013, de PIS e Cofins, pagou R$258 milhões. A Embasa, que é uma empresa de saneamento e alto alcance social. Não voltou um real para a Embasa aplicar em água e saneamento. Isso está errado, a distribuição está completamente errada.

Tribuna – E o que Otto Alencar espera para essa fase de pré-campanha? O que falar para a população?
Otto – Que podem confiar. Nós vamos seguir com nossas ideias, nossas ações programadas, tanto para o governo quanto para o Senado e outras atividades. Vamos respeitar a legislação que prevê as eleições. Eu sempre sou muito legalista, gosto de seguir a legalidade da lei e estou preparado para enfrentar as eleições.

Tribuna – E Lajedinho… Você não acha que foi feito muito pouco, diante do que a cidade precisa?
Otto – Os projetos já estão bem encaminhados, tem 40 casas, estão quase prontas e os projetos já estão em licitação para as novas casas, para fazer o canal e os prédios públicos. Esses prédios, prefeitura, mercados, creches e escolas foram todos destruídos pela tromba d’água. Para nós, que somos dessa região, foi muito doloroso ver essa tragédia, nos deixou chocados pelo sofrimento dos nossos amigos que perderam a vida aqui. Até hoje venho aqui com consternação.  

(Tribuna da Bahia)


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