BRASIL

Paulo Skaf: “O Governo tem que acertar as contas e evitar má aplicação”

Por Paulo Dantas

A Revista NORDESTE entrevistou, com exclusividade, o presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp/Ciesp, do Sesi e Senai/SP e Sebrae. Paulo Skaf, que falou sobre as expectativas de mercado e investimento no Brasil neste ano de 2016.

Revista NORDESTE: 2015 já está chegando no fim. Já é possível dizer como foi o ano para a indústria? 2015 é um daqueles anos que seria melhor que não tivesse existido?

Paulo Skaf: Esse ano foi um ano muito difícil para todos e este momento requer cautela absoluta. É como uma estrada, quando o tempo fecha e há muita neblina. No entanto, é preciso ir atrás das oportunidades que podem surgir em épocas de crise. Não podemos esquecer que quem dá a coragem para o investimento é a carteira de pedidos. Quando a empresa está com a carteira cheia, ela tem bastante coragem e confiança para investir em mão de obra, em equipamento e tecnologia. Quando as vendas estão despencando todo mundo fica receoso. No entanto, não podemos esquecer que há muito dinheiro no mundo que poderia ser investido no Brasil, já que para o investidor estrangeiro os ativos brasileiros ficaram bem baratos. Precisamos ter fé no nosso país e trabalhar pesado que as coisas vão acontecer. O Brasil é maior que a crise, e vamos sair dessa como saímos de outros momentos piores. 
  
NORDESTE: Os números do mercado têm apontado para uma recessão, alguns economistas falam até de estagflação, mas o ex-presidente Bill Clinton afirmou que o Brasil não está afundando, e o futuro é formidável. Há um pessimismo exagerado entre os brasileiros? Qual é o ânimo dos empresários?

Skaf: O Brasil realmente possui alguns pontos diferenciados em relação a outros países semelhantes. A despeito da elevada violência brasileira, nós não temos nenhum conflito interno grave. Além disso, nossas instituições são fortes e isentas e nossa imprensa é livre. Do ponto de vista econômico, possuímos recursos naturais abundantes, uma economia diversificada com um vasto mercado consumidor e empresas competitivas e modernas. No entanto, esses recursos e potenciais são desperdiçados através da nossa burocracia, carga tributária, ineficiência do gasto público e má gestão dos recursos públicos pelo governo.
O pessimismo, tanto dos empresários quanto de toda a sociedade, reside na constatação de que os velhos problemas não são resolvidos e são criados novos problemas que não tínhamos antes. Enquanto isso, as famílias estão sendo sacrificadas por novos aumentos de tributos e a perda dos empregos.

NORDESTE: Em que, de fato, um dólar alto ajuda e também prejudica a indústria brasileira?

Skaf: Durante um longo período de tempo no Brasil, o câmbio foi usado como mecanismo de controle da inflação. O dólar baixo barateia articicialmente as importações e estimula as importações. Essa política desarticulou todas as cadeias produtivas nacionais e foi umas das causas do rápido processo de desindustrialização brasileiro. Este ano, participação da Indústria no PIB brasileiro ficará abaixo dos 10%, algo que nã ocorria desde que se começou a medir o PIB em 1946.
Sendo assim, a desvalorização do Real frente ao dólar traz um ganho para o produtor nacional frente ao produto importado, tanto no mercado interno quanto externo. No entanto, os problemas da indústria vão muito além do câmbio. Não há sinais de avanço como, por exemplo, no caso da elevada carga tributária sobre a produção. Enquanto a Indústria representa algo próximo a 10% do PIB, ela é responsável pela arrecadação de quase 34% de todos os tributos.

NORDESTE: O economista Nelson Rosas, da UFPB, estudioso há mais de 20 anos da crise econômica global, afirmou que a política cambial dos últimos anos destruiu nossa indústria, nosso parque perdeu em modernidade e competitividade? O senhor concorda com essa afirmação, em caso afirmativo ou negativo, por quê?

Skaf: Conforme mencionado anteriormente, não há como discordar que o câmbio teve importante parcela de culpa nas perdas sofridas pela indústria. No entanto, acredito que as empresas brasileiras, em sua grande maioria, são modernas e bastante competitivas, principalmente pelo fato de que sobrevivem em um ambiente de negócios extremamente hostil como o brasileiro, que em nenhum outro lugar no mundo estariam expostas.

NORDESTE: Qual setor é a "bola da vez" em termos de possibilidades de crescimento? Que tipo de empreendimento?

Skaf: É difícil elencar um setor ou outro, afinal todos estão expostos aos problemas da economia brasileira. Na verdade, o país precisa de medidas urgentes que melhorem o ambiente de negócios de maneira geral na economia brasileira, tornando os produtos brasileiros mais competitivos no mercado externo e no mercado interno, beneficiando-se de um câmbio mais favorável e podendo inclusive se tornar o mecanismo de retomada do crescimento econômico do país, tão necessário para a geração dos empregos e para a manutenção do bem estar da população, que é o que interessa a todos.

NORDESTE: Os empresários devem investir em 2016, ou eles vão esperar 2017? Devemos ter mais um ano de dificuldades?

Skaf: Esse ano a economia deve ter um crescimento negativo de 3% a 3,5%, e para o ano que vem, menos 2%. Em 2015, teremos ainda 1,5 milhão de postos de trabalho fechados no país. De fato, da maneira que as coisas estão não consigo ver uma melhora no primeiro semestre de 2016. Esperamos que no ano que vem haja um acerto na arena política e que consigamos construir um pacto de poder e um pacto político de governabilidade e com isso resolver as questões políticas e retomar o crescimento econômico. O Brasil precisa sair do atual círculo vicioso de menos investimento, de menos demanda, de menos emprego, para entrar num círculo virtuoso de mais investimento, mais demanda, mais produção, mais empregos, mais exportação. Esse prejuízo a gente não quer para o Brasil.

NORDESTE: Pela ótica da indústria, qual a receita econômica para o Brasil superar a crise atual?

Skaf: Neste momento a crise econômica e a crise política agravam e paralisam o país. O governo está enfraquecido, não consegue se impor na área da política e com isso gera desconfiança em relação ao futuro. Assim, os agentes econômicos não investem, não contratam, não empregam. E fecha o ciclo negativo. O governo tem que acertar suas contas cortando gastos e desperdícios e evitando a má aplicação de recursos.Ele precisa fazer mais com muito menos. Recursos há, e precisamos urgentemente recuperar o equilíbrio. Se isso não for feito pode custar caro ao Brasil. 

NORDESTE: A crise política atrapalha a retomada do crescimento econômico? O que o governo deve fazer para dar segurança ao mercado?

Skaf: No último ano, o agravamento da crise econômica e da crise política nos atingiu duramente. Mostrou que o Brasil tem que se reorganizar política e economicamente, tem que melhorar seu desempenho, combater a corrupção, superar a instabilidade interna e externa, cortar custos e voltar a crescer. Enquanto não houver o resgate da confiança e da credibilidade no país e no governo, será muito difícil a economia reagir. Sem isso não há investimento e nem consumo.   


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