CEARÁ

Refugiados abrem food truck árabe em Fortaleza

Quando o sírio Samer Al Badeen chegou no Brasil para concluir o curso de Economia, no dia 19 de março de 2014, ele não imaginou que a vida profissional lhe apontaria novos rumos. Agora aos 26 anos, conciliar o trabalho em uma empresa de implante dentário com os estudos para entrar no ramo bancário não seria um desafio tão grande até ele decidir começar o próprio negócio. Assim mesmo, tudo ao mesmo tempo.
Na última sexta-feira, 8, o complexo gastronômico Imprensa Food Square, no bairro Dionísio Torres, recebeu um novo trailer de comida árabe, o Laziz Arabic Food. O estabelecimento é uma sociedade com o empresário libanês Tony Moussa, de 45 anos, de quem Samer é amigo desde quando chegou no País.
“Eu estava terminando a faculdade e tinha que ir para o exército, para a guerra. Não quis e resolvi sair”, conta. “Tentei outros países, mas nenhum me aceitou. Na Embaixada do Brasil foi mais fácil conseguir o visto”. Badeen estudava na Universidade de Damasco, instituição pública na capital síria, e concluiu o curso na Universidade de Fortaleza (Unifor).
A decisão de deixar Damasco para buscar refúgio em outro país não é incomum na região dominada pelos conflitos. Badeen tem familiares e amigos nos Estados Unidos, França, Suécia, Austrália, Canadá e nos Emirados Árabes. De acordo com a ONG britânica Observatório Sírio de Direitos Humanos, mais de 76 mil pessoas morreram na Síria em 2014, três mil a mais que no ano anterior.
“Senti muito a violência quando cheguei aqui. Fui assaltado depois de dois meses”, lembra. “Eu estava em um país em guerra há anos e ninguém nunca apontou uma arma na minha cara. Eu nunca vi a guerra. Aqui fui aborbado por duas pessoas armadas em uma moto. Na Síria não tem isso”.
As situações foram diferentes com o sócio Tony Moussa, no Brasil desde 1992. “Era coisa violenta no Líbano. Vi gente morrendo na minha frente. Foi brabo”, diz. Tony morou em São Paulo e comenta que conheceu o Carnaval brasileiro e nunca mais quis sair. De lá pra cá, trabalhou com vidros automotivos, colocou uma empresa na área, casou com uma brasileira e virou pai. Em 2000, chegou em Fortaleza. De “família unida”, trouxe os irmãos e a mãe.
Comida árabe
O Laziz (gostoso, em árabe) surgiu após os asiáticos sentirem falta de comida verdadeiramente árabe na Capital cearense, conta Samer. Até que Tony resolveu conhecer o complexo gastronômico localizado na avenida Desembargador Moreira, próximo à Praça da Imprensa. Lá, o amigo sírio também cumpria jornada, em outro trailer, aos fins de semana.

“Comecei a mastigar a ideia”, diz Tony. Das primeiras conversas, passando pelo projeto e fila de espera para conseguir espaço no complexo, foram apenas três meses. “Não foi difícil. Foi planejado”, garante o libanês. “Eu já era autônomo. A experiência me ajudou”.

“Às vezes dá saudade do nosso povo, da nossa comida. Já procurei muita comida árabe aqui, mas é muito diferente. Não tem nada a ver”, dispara Samer. “Comecei a conversar com o Tony que a gente tinha que fazer comida de verdade”. O tempero, dizem os sócios que preparam todos os alimentos diariamente, vem do Líbano. O pão árabe chega toda semana de São Paulo.
O Laziz Arabic Food abre de terça-feira a domingo, sempre das 18h às 22 horas. De segunda-feira a sábado, Samer continua com o outro emprego. O desafio agora é conseguir encaixar de volta os estudos. Os sócios cuidam da comida e contam com um garçom para o atendimento, mas com o movimento crescente, a dupla já procura um novo colaborador.

“Estou há três meses sem folga”, continua o sírio. “Alimentação demanda muito da gente, mas não tenho outra escolha. Eu cheguei aqui e comecei tudo do zero. Se não for assim, não dá certo. É preciso se esforçar muito no Brasil para dar certo. Mas eu vejo que o País tá sofrendo, não posso reclamar”.

Serviço
Laziz Arabic Food
De terça a domingo, das 18h às 22 horas
Imprensa Food Square – Av. Desembargador Moreira, 2355.
Pratos principais:
Shwarma de frango – R$ 20
Kebab de kafta – R$ 20
Sanduíche falafel – R$ 17
O Povo


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