BRASIL

Relação comercial Brasil-Colômbia está aquém do potencial, diz especialista

A presidenta Dilma Rousseff faz hoje (9) visita à Colômbia para estreitar as relações comerciais entre os países. O Palácio do Planalto reconhece que o comércio e os investimentos entre o Brasil e a Colômbia têm aumentado nos últimos anos, mas ainda estão aquém do seu potencial. Embora seja a terceira maior economia da América do Sul, a Colômbia é apenas o sétimo parceiro comercial do Brasil no Continente Americano.

A corrente de comércio bilateral totalizou US$ 4,1 bilhões em 2014, registrando crescimento de 165% desde 2005. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no caso da Colômbia, as exportações brasileiras somaram US$ 2,38 bilhões em 2014 e as importações, US$ 1,7 bilhão.

Mais de 90% da pauta de exportações brasileiras para a Colômbia são de industrializados, sobretudo produtos químicos, automóveis, peças automotivas e semimanufaturados de ferro e aço. A Colômbia exporta principalmente carvão e petróleo para o Brasil. A nação vizinha está na lista de 32 países considerados estratégicos pelo governo brasileiro no Plano Nacional de Exportações, lançado em junho.

De acordo com o Planalto, o panorama dos investimentos teve crescimento de 2010 a 2014, com destaque nos setores petrolífero, bancário, de construção civil e siderúrgico. Entre os investimentos do país vizinho no Brasil, destaca-se a presença de capitais colombianos no setor de energia.

Para o consultor e ex-secretário de comércio exterior do ministério Welber Barral, a Colômbia é um mercado promissor, com a classe média em expansão, sendo o segundo país mais populoso da América do Sul. “É uma visita muito oportuna, que pode abrir boas oportunidades para vários setores da economia brasileira. Nós demoramos nessa aproximação”.

Barral ressaltou que a Colômbia tem registrado crescimento muito importante nos últimos anos, principalmente depois que o governo começou a negociar o processo de paz com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

“O processo de paz trouxe maior estabilidade e deu confiança aos investidores. A Colômbia assinou acordos de livre comércio com países como os Estados Unidos, o Japão e a China, e os produtos brasileiros perderam competitividade tarifária no mercado colombiano. Esses acordos levaram muitos investimentos ao país”.

Barral também atribui o crescimento econômico colombiano constante à sua economia diversificada nos setores industrial, de serviços e de commodities.

Desde 1999, a Colômbia vem registrando taxas positivas de crescimento econômico. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) colombiano deverá ter aumento de 2,5% neste ano. Em relação a 2016, as projeções mostram expansão de 2,8%. No ano passado, a Colômbia cresceu 4,6%.

Segundo o consultor, os acordos que poderão ser firmados entre o Brasil e a Colômbia são importantes para aumentar o fluxo bilateral de investimentos e o acesso a mercados. Um dos objetivos dessa visita, conforme o Itamaraty, é acelerar o cronograma da desgravação [redução] tarifária do Acordo de Complementação Econômica, o ACE 59, e concluir um acordo automotivo. “Há um efeito imediato na aceleração da desgravação porque reduz as tarifas dos produtos”, disse Barral.

O diretor do Escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, Carlos Mussi, também destaca que as relações entre o Brasil e a Colômbia estão aquém das suas possibilidades. “O Brasil olha mais para a parte Sul da América do Sul e para a Venezuela, mas a Colômbia pode ser um parceiro importante para nós, em termos de possíveis complementaridades, em cadeias de produção semelhantes”.

Para Mussi, a Colômbia é um parceiro com o qual o Brasil deveria consolidar a aproximação no âmbito da integração regional e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). “Brasil e Colômbia têm uma história de boas relações, mas por vários motivos nunca incrementam essas relações. É um país vizinho, mas não temos tanto contato por causa das barreiras de infraestrutura e da geografia com a Floresta Amazônica. A Colômbia tem um histórico na região de estabilidade econômica, com tendência a crescer 4% ao ano”.

O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB) Argemiro Procópio Filho também acredita que as relações bilaterais poderiam ser mais próximas. “Essa visita é um gesto de aproximação da presidenta Dilma com o país vizinho, em um momento de grande dificuldade interna no Brasil. A Colômbia é uma democracia madura. Mesmo com a presença das Farc, a guerrilha não impediu seu crescimento”.

 

Processo de paz

O governo colombiano e as Farc anunciaram, no dia 23 de setembro, um importante acordo de transição jurídica para acabar com mais de meio século de conflito armado, que contempla a entrega das armas pelas Farc num prazo de 60 dias. O presidente colombiano afirmou que o acordo de paz definitivo vai ser assinado no máximo “dentro de seis meses”. Ele prevê a criação de um tribunal especial para a paz, conforme anunciaram, em Havana, representantes de Cuba e da Noruega, países mediadores das negociações.

O Estado colombiano concederá ampla anistia aos delitos políticos, ficando de fora os crimes que, na legislação colombiana, estejam tipificados como de lesa-humanidade, genocídio ou graves crimes de guerra.

 

Visita de Estado

A agenda da presidenta Dilma Rousseff em Bogotá inclui um encontro com lideranças empresariais brasileiras. Em seguida, ela participa de cerimônia de deposição de flores na Quinta de Bolívar.

Dilma será recebida pelo presidente Juan Manuel Santos no Palácio de Governo, onde haverá assinatura de atos e declaração à imprensa. A presidenta também vai visitar o Congresso Nacional e a Corte Suprema colombianos, e participará, ao lado de Santos, do encerramento de um fórum com empresários dos dois países. A previsão é que ela embarque de volta a Brasília às 17h45.

 

Ana Cristina Campos
Agência Brasil


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