BRASIL

Reportagem mostra legado do plano real na história econômica do Brasil

Quem viveu plenamente o final da década de 1980 e o início da década de 1990, não se esquece de um item comum em supermercados e estabelecimentos comerciais: a etiquetadora de preços. Com a inflação diária atingindo índices altos, os produtos eram recadastrados várias vezes por dia, e a escalada de aumento nos preços parecia não ter fim. Mas teve. Com a implantação do Plano Real, há exatos 20 anos, os altos e baixos constantes da inflação foram contidos e a economia brasileira se estabilizou para a arrancada de crescimento dos anos subsequentes.

A artesã Neusa Terezinha, 50 anos, moradora de São Paulo (SP), lembra bem deste período. Na época, era casada e mãe de três filhos e sentiu na pele as dificuldades enfrentadas pela maioria da população do país. “Quem tinha uma condição de vida melhor fazia suas compras, não para as necessidades do mês, mas para estocar o que poderia ser guardado, desde arroz, feijão até produtos de higiene pessoal e limpeza”, relembra.

Os hábitos de consumo criados pela inflação impulsionavam inclusive a venda de freezers, eletrodoméstico usado para congelar alimentos. A praticidade, entretanto, não estava à disposição de todos, por conta dos preços elevados. A alimentação também era diferente. Com as comprar sendo feitas uma vez por mês, o consumo de carne e de outros produtos perecíveis era menor, já que havia a dificuldade de armazenamento de grandes quantidades.

“O povão era quem sofria, eu me enquadro neste grupo. Tínhamos que fazer malabarismos para conseguir fazer com que o dinheiro chegasse ao final do mês, como não comer carne todo dia e fazer a macarronada com frango, aos domingos”, explica Neusa.

Em 1993, época de implantação do real e da URV (e consequentemente do Plano Real), o cenário econômico brasileiro não era dos melhores. Em meio à troca de moedas, planos, medidas como controle de preços e outras mal sucedidas, o país enfrentou quatro mudanças no Ministério da Fazenda em menos de sete meses. A credibilidade com os credores externos estava afetada por conta de uma recente moratória e os consumidores não conseguiam planejar suas finanças pessoais, já que os preços dos produtos aumentavam mais uma vez no mesmo dia, de uma inflação que chegou a 2.400 % ao ano.

O cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC), Valmir Lopes, conta que a economia brasileira na década de 1980 havia entrado em colapso. O modelo de desenvolvimento baseado na herança de Getúlio Vargas, expressa pela forte presença do Estado na economia, já não conseguia assegurar nenhum crescimento significativo e planos econômicos foram tentados sem sucesso, sendo o mais famoso de todos eles o Cruzado. “Sem sucesso para voltar ao crescimento econômico, planos econômicos se sucederam sem atingir o objetivo que era acabar com a inflação. Na verdade, o problema brasileiro da década de 1980 não era apenas de natureza inflacionária, o modelo de desenvolvimento nacional varguista havia se esgotado e o Estado passou a ser visto como muito pesado, sufocando as iniciativas da sociedade”, explica Valmir.

(Leia matéria completa na edição nº89 da Revista NORDESTE, já em todas as bancas do país)
 


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