É possível existir um político que coloca o ideal coletivo acima de seu leque de interesses pessoais? Será que, nesses tempos de competição desvairada, alguém será capaz de entender a política como missão? A resposta carece de pressupostos, a partir de força moral do protagonista e de uma poderosa lupa para enxergar sua alma. A resposta, ademais, tem a ver com retidão de caráter.
Confúcio dizia: “se um homem consegue dirigir com retidão sua própria vida, as tarefas de governo não devem ser um problema para ele. Se ele não consegue dirigir sua própria vida com retidão, como pode dirigir outras pessoas com o espírito de correção?”.
O fato é que os perfis que não usam a política como escada para subir ao pódio do poder são, a cada dia, raros e escassos. A política virou profissão. Altamente rentável. A retidão de caráter tem se transformado em curvas perigosas.
Esta breve apresentação cai bem nesse instante pré-eleitoral. Sugere a inferência de que serão muito poucos aqueles que focarão sua campanha nas demandas populares. Aqui, ali e acolá, a política tem se distanciado do ideal aristotélico que impunha ao cidadão o dever inarredável de servir à polis. Se a utopia ainda sobrevive nos compêndios de sociologia, é, na esteira do tiroteio recíproco entre candidatos, mera promessa.
No Brasil, este fenômeno ganha intensidade. A política virou gigantesco balcão de negócios. Os papéis entre os campos público e privado são facilmente trocados, gerando superposição e invasão, enquanto a res publica se transforma em espaço das vontades pessoais. Essa prática tem ocorrido em praticamente todo o universo institucional, acentuadamente no campo da administração pública – nos níveis federal, estadual e municipal – na esfera parlamentar e até no sagrado recanto do judiciário.
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