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Revista NORDESTE: Confira avanços da ciência na conexão mente e máquina

Na edição 116 da Revista NORDESTE, que trouxe na capa e como entrevista principal o neurocientista Miguel Nicolelis, apresentou também uma matéria especial focada nos avanços tecnológicos na área da neurociência. O trabalho realizado pelo cientista já conectou mentes de macacos à computadores e atingiu muitos avanços na reabilitação de pessoas que sofrem amputações ou perdem os movimentos dos membros.

 

Homem e Máquina: uma mistura real

Tecnologia pode suprir deficiências e promover melhorias em pessoas comuns. Miguel Nicolelis é um dos principais nomes da neurociência e estuda a possibilidade de controlar máquinas com a força do pensamento

Por Jhonattan Rodrigues

Em 2014, o mundo estava à espera da Copa do Mundo, que neste ano iria acontecer no Brasil. A data do início do evento chegou e com ele veio sua tradicional abertura, que quase sempre reserva algumas surpresas. Nesta em questão, os mais avisados esperavam por algo que até então parecia coisa de ficção científica: um paraplégico iria controlar um exoesqueleto conectado ao seu cérebro e dar o chute inicial da Copa.

Miguel Nicolelis, se tornou um nome conhecido para muitas pessoas nessa época. Neurocientista, brasileiro e eleito pela Scientific American como um dos vinte maiores cientistas do mundo no início da década passada, ele coordena o projeto “Andar de Novo”, cooperativa entre cientistas e estudantes da europa, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, onde é professor, e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra (IINN – ELS), no Rio Grande do Norte, que ajudou a conceber em 2003.

O foco de estudo da equipe é a interação do cérebro com dispositivos eletrônicos. Como se sabe, pensamentos são impulsos elétricos transmitidos de um neurônio a outro e para o resto do corpo. O que Nicolelis e os envolvidos buscam é ler esses impulsos e transmiti-los para máquinas, possibilitando o controle da mais variada sorte de equipamentos. Os beneficiários diretos do Andar de Novo, como o nome sugere, são pessoas que sofreram alguma lesão na medula espinhal e sofrem de para ou tetraplegia. Em palestra de 2012, no TED, Nicolelis explica que o projeto busca driblar esse bloqueio entre o cérebro e membros do corpo causado pela lesão na medula, conectando os impulsos cerebrais a um exoesqueleto. Mas as implicações não param por aí. Estabelecer uma conexão cérebro-máquina abre um leque enorme de possibilidades para o ser humano. 

Planeta dos Macacos

Em 2003, Nicolelis e sua equipe conseguiram fazer uma macaca mover um braço robótico por meio de seus pensamentos. Em outra experiência realizada em 2013, a os testes com equipamentos físicos foram dispensados, e passaram para um nível totalmente virtual. Um macaco deveria controlar um avatar seu em um jogo que interagia com objetos virtuais. A grande diferença era que agora impulsos eram devolvidos ao cérebro, de forma que o animal, ao passar a mão na superfície dos objetos, podia senti-los. Nesses, e em outros testes realizados pela equipe, foi constatado que o cérebro não apenas controla, mas assimila o que for conectado a ele, como se fosse um novo membro.

Mais pesquisa: Ciborgues na vida

Em 2012, o sul-africano Oscar Pistorius era um dos corredores na prova de 400 metros, nas Olimpíadas de Londres. Com bom desempenho, conseguiu avançar até as semi-finais. Tudo bem até aí, não fosse o fato de Pistorius ter ambas as pernas amputadas, se tornando o primeiro atleta a competir a nível paraolímpico e olímpico. As suas pernas de fibra de carbono – que o renderam o apelido de Blade Runner – foram projetadas pela equipe de Hugh Herr, professor em Harvard e do MIT, onde estuda melhorias em membros biônicos. Seu lema é de que “não existem pessoas deficientes; a ciência que é ainda inadequada”. O próprio Herr utiliza próteses, devido a um acidente de montanhismo que lhe custou as duas pernas, ainda com 17 anos. Hoje no MIT desenvolve próteses avançadas que são projetadas a partir de uma leitura do membro orgânico e se adapta confortavelmente ao músculo do usuário, possibilitando movimentos complexos e suaves como subir escadas e até dançar.

O termo ciborgue se refere a indivíduos que utilizem dispositivos mecânicos que lhe confiram habilidades ou supram alguma deficiência. Também chamados biônicos, o uso da tecnologia integrada ao corpo humano é figura comum em obras de ficção científica. Pode parecer algo distante, mas a verdade é que já existem verdadeiros ciborgues entre nós, utilizando próteses com eficiência impressionante.

Em 2012 Zack Vawter subiu 103 degraus da Willis Tower, em Chicago, usando uma perna mecânica que respondia a estímulos de seus nervos, podendo movê-la conforme sua vontade. O equipamento, que foi desenvolvido pela Rehabilitation Center of Chicago’s Center for Bionic Medicine e tinha o custo de US$ 8 milhões, não pertencia a Vawter, sendo posteriormente devolvido para mais testes.


Existem ainda equipamentos avançados de uso pessoal. Nigel Ackland, ex-metalúrgico, sofreu um acidente de trabalho e perdeu o braço direito. Agora ele usa o BeBionic, um braço biônico projetado pela RSL Steeper, que é considerado o mais avançado membro protético no mercado. Pensado para ser discreto e arrojado, o Bebionic é composto por microestruturas que leem os impulsos gerados pelo membro orgânico do usuário que possibilitam movimentos delicados como segurar um ovo ou digitar em um teclado.
Já Neil Harbisson se tornou o primeiro ciborgue reconhecido por um governo ao instalar uma câmera em sua cabeça. Harbinsson nasceu com acromatopsia, o que lhe fazia ver o mundo apenas em preto e branco. O Eyeborg, aparelho instalado em sua cabeça, lhe permitiu ver as cores a partir dos sons. Ele criou a Fundação Cyborg, para promover os direitos dos ciborgues e promover a melhoria humana através da tecnologia.

As pesquisas sobre o assunto se dividem ao redor do mundo e promovem avanços que vêm de todas as direções. De um lado, se buscam melhorias no design e mecânica das próteses, proporcionando conforto e melhor desempenho para seus usuários; de outro, pesquisas como as de Nicolelis prometem uma integração melhor do cérebro com membros mecânicos, capazes até mesmo de se tornarem sensíveis. Há ainda pesquisa para a construção de exoesqueletos sem ligação neural e que possibilitam que simples humanos possam fazer tarefas antes só possíveis com máquinas, como levantamento de pesos extremos. Provavelmente, no futuro, esses estudos venham a se encontrar e produzir próteses que reproduzam 100% membros orgânicos, ou que sejam até melhores.

E se agora os custos são para poucos, em acordo com a frase de William Gibson, autor de Neuromancer, “o futuro chegou, mas não para todos”, em breve, tecnologias como impressoras 3D podem produzir membros biônicos em larga escala e a preços muito mais acessíveis. Recentemente Nicolelis conseguiu fazer um macaco movimentar uma cadeira de rodas com o pensamento. O neurocientista deve divulgar ainda este ano avanços nas pesquisas com uso de exoesqueleto em tetraplégicos.  

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