BRASIL

Revista NORDESTE: direita cresce com grande derrota do PT nas urnas

Os Novos conceitos do Poder

Resultado das eleições no 1º turno mostra derrota do PT e ampliação de partidos mais à direita na política brasileira

Por Pedro Callado

Com o fim do primeiro turno, o PT saiu de 630 prefeituras que tinha conquistado em 2012, para 256 em 2016, o que representa uma queda de 59%, com pouquíssimas chances desse número aumentar nas disputas de 2º turno. Com isso, partidos mais conservadores tiveram espaço para crescer, como foi o caso do PSDB, que cresceu mais de 15% no número de Prefeituras. Outras legendas que cresceram foram PP, PSD, PP, PR e PRB. Já PMDB e PSB tiveram pouca alteração mantendo praticamente o mesmo número de prefeituras.

Mesmo que o grande destaque das eleições tenha sido a grande derrota do Partido dos Trabalhadores, vale ressaltar o crescimento quase que oportunista do PSDB. O partido dos tucanos saltou de 686 para 793 prefeituras em todo o país, foi o que obteve o maior crescimento. A legenda de direita foi beneficiada pelo desgaste da esquerda e do PT e também pela desconfiança com o PMDB, do presidente Michel Temer.

A Revista NORDESTE conversou com o cientista político, José Henrique Artigas, professor na Universidade Federal da Paraíba, que afirmou que o crescimento do PSDB e, principalmente, do PMDB não foram muito significantes. “O PMDB ficou praticamente no mesmo patamar que vinha demonstrando nas últimas eleições, teve pouco crescimento e em algumas regiões teve derrota bastante pronunciada”. Entre as capitais do país, o partido só conquistou Boa Vista, no estado de Roraima. A eleita Teresa Surita vai governar a cidade pela quinta vez.

Já o PSDB venceu no 1º turno em duas capitais, São Paulo e Teresina, no Piauí, e lidera a disputa para o segundo turno em outras seis capitais. Artigas aponta que o crescimento dos tucanos não é grande como foi a derrota da esquerda, mas ressalta algumas conquistas do partido. “O PSDB teve um crescimento pequeno, mas teve ganhos de algumas cidades que, simbolicamente representa muito, como São Paulo no primeiro turno, a cidade mais importante do país”.

São Paulo elegeu em 2012 o petista Fernando Haddad contra o tucano José Serra, que já havia sido prefeito de São Paulo e também governador do Estado. Muitos consideram que Haddad fez uma boa gestão, mas o cenário geral no qual se encontra o partido contribuiu para minar a candidatura do petista. João Dória (PSDB) foi eleito no primeiro turno, fato inédito para a maior cidade do país. “Isso é uma demonstração que o PSDB em São Paulo realmente avançou muito e o PT foi praticamente varrido do estado, a maior base histórica do PT, no ABC, foi varrido”.

Já no Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral do país, o resultado foi um pouco diferente. Os tucanos não têm muita força no estado e a capital atualmente é governada por Eduardo Paes (PMDB), em seu segundo mandato. O Governo é de Luiz Fernando Pezão, também do PMDB. Mesmo com o apoio das duas máquinas, o candidato Pedro Paulo (PMDB) não conseguiu ir para o segundo turno e perdeu a vaga para o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) que vai disputar a Prefeitura com Marcelo Crivella (PR).

O primeiro turno no Rio teve um fato curioso que foi o número de candidaturas: 12. A esquerda tinha dois nomes fortes, Freixo e Jandira Feghalli (PCdoB). Mesmo defendendo a permanência de Dilma Rousseff (PT) na presidência e apontando para as acusações tendenciosas da Operação Lava-Jato e das reportagens da mídia, o PSOL nunca foi da base do PT e costumava criticar o Governo petista, isso possivelmente contribuiu para o eleitor carioca optar por Freixo no lugar de Jandira, que é defensora ferrenha de Lula e Dilma.

Já no Nordeste, os quatro prefeitos reeleitos no 1º turno são mais alinhados com a direita, principalmente Firmino Filho (PSDB – Teresina) e ACM Neto (DEM – Salvador). Em João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD), que já foi petista, foi reeleito com boa vantagem e em Natal, o prefeito Carlos Eduardo (PDT), que costumava defender o Governo Dilma, elegeu-se com um vice do PMDB.

Nas disputas de segundo turno o PSDB tem grandes chances de eleger mais um prefeito, em Maceió, e o PDT dois, em Fortaleza e São Luís. O PSB praticamente já garantiu sua vitória em Recife e tem boas chances em Aracaju, onde o partido encara o PCdoB com diferença inferior a 1%.

 

Prefeitos alinhados com a direita são reeleitos no Nordeste

ACM Neto
 Salvador
  73,99%
   982.246 VOTOS

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), obteve a mais expressiva vitória entre as capitais do Nordeste, com 74% dos votos válidos do eleitorado da capital baiana. Neto, que já era bem avaliado pela sua gestão, agora fica fortalecido pela votação recebida. "Eu posso garantir que vou procurar aperfeiçoar mais o meu governo. Saio deste domingo com um peso muito maior de responsabilidade nas minhas costas e vou trabalhar incansavelmente para honrar cada voto que recebi", disse o prefeito em coletiva logo após a confirmação da sua reeleição.
Com a vitória, ACM Neto torna-se o principal nome para enfrentar o governador do Estado, Rui Costa (PT), nas eleições de 2018. Entretanto, o prefeito foge do assunto. “Esse assunto, de 2018, surgia e sempre esteve mais na cabeça dos meus adversários. Infelizmente, o próprio governador quando assumiu o governo, a partir de decisões e atitudes no campo da política, foi quem começou a sinalizar isso e a me escolher como adversário”. O prefeito reeleito ainda frisou que foi eleito para cumprir sua tarefa em Salvador. “Não sou adversário de ninguém: disputei a eleição e ela acabou, não há hipótese de eu tratar de 2018, vou tratar de trabalhar melhor ainda, cumprir meus compromissos com a cidade, minha tarefa é ser prefeito de Salvador”, explicou.

Carlos Eduardo
 Natal
  63,42%
   225.741 VOTOS

Em seu discurso após sair o resultado das eleições, o prefeito reeleito em Natal, Carlos Eduardo (PDT), destacou a grave crise econômica que vem assolando o país e como a sua gestão conseguiu cuidar dos próprios problemas mesmo diante das adversidades. “Há dois anos uma crise econômica sem precedentes no nosso país afetou diretamente a Prefeitura de Natal, mas mesmo assim conseguimos resolver muitos problemas.
Acredito que o natalense sabe disso, e apoiou a administração e transformou esse apoio em votos, para a gente continuar nesse esforço, dedicação e levar a cidade de Natal a resolver os seus problemas”. Durante a coletiva, Carlos Eduardo afirmou que será prefeito até o fim do mandato, abdicando de concorrer ao Governo do Estado em 2018. “O nosso foco é a administração de Natal nos próximos quatro anos. No momento que eu me candidatei a reeleição tinhamos o foco de trabalhar os quatro anos, inclusive no nosso programa de Governo, isso está registrado”.
O prefeito Carlos Eduardo, não apenas obteve uma votação expressiva, como também teve larga vantagem para o segundo colocado, que mal atingiu os 10% de votos. Na ocasião em que comemorava sua vitória, ele destacou que o resultado já era pronunciado nas pesquisas, podia ser percebido nas visitas aos bairros durante as eleições.

Luciano Cartaxo
 João Pessoa
  59,67%
  222.689 VOTOS

O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD), foi reeleito com 59% dos votos no 1º turno, superando sua adversária Cida Ramos (PSB) com quase o dobro de votos. Cartaxo, que quando se elegeu em 2012 era deputado estadual pelo PT, deixou o partido em 2015 e filiou-se ao PSD. Em 2012 Cartaxo recebeu apoio do prefeito Luciano Agra que havia rompido com o PSB. Neste ano, para concorrer à reeleição e enfrentar o PSB, partido do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, Cartaxo se aliou a dois dos maiores nomes da política paraibana e atuais rivais de Coutinho: Cássio Cunha Lima (PSDB) e José Maranhão (PMDB).
A vitória alça o prefeito a forte liderança no estado e o catapulta para a disputa de 2018. Nestas eleições, o ex-partido de Cartaxo, o PT, elegeu apenas um prefeito entre todos os municípios da Paraíba. Já o PSD tornou-se a quarta maior legenda do estado. Em uma entrevista após a eleição, Cartaxo admitiu que previu a derrota do PT. “Foi uma decisão madura, equilibrada, fizemos uma aposta no cenário de 2016. O importante é que o PSD é o quarto maior partido do estado. Foi uma grande vitória em João Pessoa e no Brasil”, disse. O prefeito destacou que o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab o parabenizou pela vitória e passou os dados de crescimento do partido no Brasil “Foi uma opção correta, leitura equilibrada e deu tudo certo”, concluiu.

Firmino Filho
 Teresina
  51,14%
  220.042 VOTOS

O adversário de Firmino Filho (PSDB) em Teresina, o deputado estadual DR. Pessoa, que atingiu 38% dos votos, até conseguiu ameaçar a reeleição do atual prefeito, mas, no fim, o tucano conseguiu prevalecer e conquistou mais da metade dos votos válidos. É a quarta vez que Firmino é eleito para governar Teresina.
Em seu discurso da vitória, o prefeito afirmou que a educação será sua prioridade na nova gestão que começa no dia 1º de janeiro de 2017. “Vamos focar na educação, sempre. Temos uma obsessão pela sua qualidade e acesso. Temos uma educação que avança, parâmetros que nos torna referência nacional. A meta será universalizar a educação infantil”.
Firmino citou ainda que a campanha o aproximou mais da população, elogiando os adversários no pleito. “Desempenharam um papel importante na democracia e a partir de agora sou o prefeito de todos”, enfatizou.
Questionado sobre o quarto mandato no Palácio da Cidade, Firmino avaliou que a responsabilidade aumentou. “Recebi essa chance, esse voto de confiança, muito cedo. Agora é honrar esse voto de generosidade, trabalhando pela nossa Teresina e pagar um pouco dessa imensa dívida. Vamos batalhar cada dia. Apesar do clima ruim da política, conseguimos uma vitória administrativa e política”, finalizou.

Esquerda, futuro incerto
 

A Política de Esquerda no Brasil sofreu um grande baque nessas eleições. O PT, sem dúvidas, era seu partido de maior expressão. Mas agora, depois de perder a gestão de quase 400 municípios, o partido foi superado por PSB e PDT como partidos de esquerda com mais prefeituras. Entretanto, os dois partidos citados, atualmente, não podem ser totalmente classificados como de esquerda.

Pelo menos é essa a visão do sociólogo político, professor na Universidade de Vila Velha, no Espírito Santo, Vitor de Ângelo. Questionado se essa fase do PT será duradoura e se o partido voltará algum dia ser o que foi o professor afirma: “Sem dúvida voltará a ser. Só não sei dizer quando. Este movimento não é eterno. Porém, neste momento, o partido sente o desgaste de toda uma conjuntura política que lhe é extremamente desfavorável”.

O cientista José Henrique Artigas avaliou o resultado das eleições como uma derrota histórica e inesperada para a esquerda. “Isso é resultado de um processo de desgaste histórico que vem pelo menos desde o Mensalão, desde 2005. E agora, em função do Impeachment, em função da enorme campanha midiática contra o PT, era esperado uma grande derrota, mas não a derrota do tamanho que foi”. O professor avaliou que os partidos de esquerda saíram-se ligeiramente melhores na região Nordeste, em comparação com o resto do país. “Foi um pouco menos traumático. Porque a esquerda em geral conseguiu em um ou outro local preservar alguma coisa da sua base eleitoral. No Maranhão por exemplo o PCdoB cresceu muito (dos 80 prefeitos eleitos pelo partido, 43 foram no Maranhão). No Piauí, o PT ainda conseguiu preservar alguma coisa, mas no geral foi uma grande derrota. Na Paraíba, por exemplo, o PT só fez um município pequeno, o partido foi varrido do estado. E na Bahia, que tinha uma série de prefeituras, perdeu muitas, então foi uma derrota bastante profunda”.

O PSB, logo após o domingo de eleições, lançou uma nota comemorando o resultado e afirmando que foi o partido de esquerda que mais elegeu prefeitos, seguido de PDT, PT, PPS e PCdoB. “Esse desempenho corresponde à estratégia traçada pela direção nacional, que era a de conquistar grandes centros. Estamos conquistando maior o número de cidades e centros mais populosos, o que garante maior representatividade ao nosso partido”, avaliou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.

Para o doutor Vitor de Ângelo, PSB e PDT ajudam a consolidar a crise da esquerda porque “não definem claramente sua linha de atuação, ora compondo com os setores mais conservadores, ora com os chamados progressistas. Essa divisão, deve-se dizer, também é esquemática demais”. Já o professor Artigas ironizou o comunicado do PSB. “O que se diz, não se escreve. Acho temerário colocar o PSB como um todo no campo da esquerda. Inclusive, depois da última eleição do diretório nacional do PSB, logo depois das eleições presidenciais, houve uma renovação muito grande na direção e essa renovação foi à direita. A gente tem que ver as posições do PSB no Congresso Nacional, as posições do PSB nos governos dos estados, de fato há Governos como o de Ricardo Coutinho, na Paraíba, que é claramente progressista, mas há Governos como o de Paulo Câmara, em Pernambuco, que é claramente conservador. É difícil falar em esquerda (quando ela é) aliada ao PSDB e aos Democratas”, colocou o cientista lembrando que o candidato à reeleição em Recife, Geraldo Júlio (PSB), está recebendo apoio do PSDB e do DEM na disputa pelo 2º turno contra o PT.

“O PSB apoiou Aécio Neves nas últimas eleições. O PSB dá sustentação ao Governo Temer. Votou pela retirada da Petrobras na distribuição do Pré-Sal. É esquerda isso? A esquerda, geralmente, tem posturas nacionalistas, uma posição dessa não dá para qualificar exatamente como esquerda. Hoje o PSB é uma legenda de direita”.

Aumento de votos branco e nulos
 

João Dória (PSDB) foi o grande vencedor em São Paulo, mas há quem aponte o vencedor como sendo o “Ninguém”. Isso porque se somarmos os votos brancos e nulos e ainda as abstinências, isto é, aqueles que não compareceram às urnas, haveriam votos suficientes para vencer Dória na capital paulista. No Rio de Janeiro por exemplo, o número de abstenções sozinho, que chegou a 24% do eleitorado, supera em muito os números alcançados pelo vencedor do 1º turno, Marcelo Crivella. No Nordeste as abstenções variam mais. Em Salvador, onde ACM Neto teve larga vantagem, os 21,25% de abstenções não chegam próximo aos números do prefeito reeleito, mas superam bastante a segunda colocada Alice Portugal (PCdoB). Já em Fortaleza e Recife, o número de abstenções, 17% e 11% respectivamente, não se aproxima tanto dos primeiros colocados.

Para os analistas políticos a vitória da direita nestas eleições não foi bem uma conquista dessas legendas, mas marcou uma indisposição do eleitor de votar no PT e outras legendas da esquerda, da mesma forma que não significa que o PSDB se credencia para 2018 com mais envergadura. “Depende muito do que ocorrerá daqui até 2018. São dois anos e uma agenda muito difícil de ser encaminhada pelo governo no caminho. O PSDB pode se desgastar nesse processo”, entende Vitor de Ângelo. Artigas concorda, para ele a grande derrota do PT não significa um avanço expressivo dos seus opositores. “Na maior parte das capitais, o número de brancos, nulos e abstenções superou os votos dos candidatos vencedores. Isso mostra uma indisposição não com o PT, mas com a política. Porque a opção de não votar em candidatos ou legendas, é significativo de que a sociedade está abdicando da política, que é muito ruim e muito preocupante.”

Sobre se o resultado facilita ou não a vida do Governo de Michel Temer, Vitor de Ângelo acredita que a princípio, ajuda. “Afinal, os partidos da base do governo cresceram bastante, sobretudo o PMDB. No entanto, existe uma agenda pesada que será encaminhada pelo governo em breve – como a reforma da previdência, por exemplo – e que não tem correlação com a vida urbana. Ou seja, ter ou não o prefeito não ajuda, em si, na diminuição da resistência a essa agenda”.

Para Artigas, a eleição aponta para uma aversão e até uma negação da política pelo eleitorado. “A derrota do PT não significa apoio à oposição ao PT. Isso fortalece mais a tese de que foi uma rejeição, não do PT apenas, mas da política. O PT, durante anos, representou uma esperança, de que a política pudesse produzir mudanças expressivas e parece que houve uma grande decepção da sociedade. Isso se replicou na abstenção eleitoral e também no voto nulo.” Em relação ao futuro da esquerda Ângelo explica. “Esquerda não é o mesmo que PT. Mas a crise do PT afeta às esquerdas. Por isso, não dá para dizer que elas não estão em crise. Por outro lado, partidos como o PSOL foram bem votados em muitos lugares. Não necessariamente com votos de antigos eleitores petistas, que, ao que tudo indica, migraram para o branco, nulo ou abstenção, permitindo, assim, a vitória de muitos candidatos ditos conservadores”.

No final das contas, a eleição mostra que há uma crescimento da direita, com o ‘retorno’ ao centro do cenário político do PSDB, DEM e uma nova musculatura ganha pelo PSD. Há desalento em relação ao PT, mas também o crescimento de uma nova esquerda, a partir do PSOL. Enquanto partidos como a Rede, PSB e até PDT não mostram o que são.

Voltando no tempo e lembrando a aliança feita por Eduardo Campos e Aécio Neves nas eleições de 2014, a ideia ali era unir forças para retirar o PT do Palácio do Planalto. O plano deu certo, agora falta combinar com o PMDB qual o resultado que realmente se quer. Agora começa uma nova fase. 


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