PARAÍBA

Revista NORDESTE: Fundador da Academia Paraibana de Letras é revisitado no ano de comemorações de 80 anos

Por José Ozildo dos Santos

De família humilde, Coriolano de Medeiros nasceu a 30 de novembro de 1875, no sítio ‘Várzea das Ovelhas’, localizado às margens do Riacho Cipó, no sopé da Borborema, em território do atual município de Santa Terezinha, à época, sobre a jurisdição de Patos, Província da Paraíba. Filho do casal Aquilino Coriolano de Medeiros e Joana Maria da Conceição, pelo lado paterno, era neto do professor Francisco Herculano de Medeiros, primeiro tabelião público e primeiro mestre-escola da Vila de Patos, e, pelo materno, descendia do cearense Cosme Vieira da Silva, patriarca da família ‘Vieira’, no sertão das Espinharas, de quem era bisneto.

Em 1877, sua família oprimida pela terrível seca que assolava o sertão nordestino, transferiu-se para a capital paraibana, onde, pouco tempo depois, faleceu seu genitor, acometido de sezão. Anos mais tarde, sua mãe contraiu novo matrimônio com o senhor Vitorino da Silva Coelho Maia, que, com carinho e apreço, contribuiu fortemente para a formação do pequeno Coriolano, futuro grande homem das letras paraibanas, que embora tenha se consagrado como ‘Coriolano’, “retificava que a grafia correta de seu prenome era CARIOLANO – aliás, era como o chamava seu grande amigo Monsenhor Walfredo Leal – pois procedia do tribuno romano Caio Márcio. Daí, aduzia, Carioles – Cariolano”.

Pesquisador incansável da história e das tradições do sertão paraibano, em 1914, através da Imprensa Oficial Estadual, Coriolano de Medeiros lançou a primeira edição do seu ‘Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba’, que foi bastante elogiado pela crítica da época e que ainda hoje, constitui-se numa das maiores fontes de pesquisa sobre a terra tabajara e que teve uma segunda tiragem em 1950, patrocinada pelo Ministério da Educação/Departamento de Imprensa Nacional, com introdução de Augusto Mayer, diretor do Instituto Nacional do Livro. Dizia aos seus amigos íntimos, que “perdera a visão no grande esforço que fizera manuseando velhos documentos”, atualizando a referida obra, para sua segunda edição.

Homem sincero, em 1922, numa entrevista a Analice Caldas – que empreendeu uma sugestiva enquette, destacando as figuras da intelectualidade paraibana – Coriolano de Medeiros revelou-se “um cidadão temente a Deus, realizado, desprendido, compreensivo e destituído de ambição”. Feliz e ciumento “o quanto se pode ser”, admitiu também que aspirava ter “a bondade de Cristo e a paciência de Job”.

Possuidor de uma inteligência ímpar, “Coriolano de Medeiros foi um bom retratista de ambientes, de usos e costumes e deixou um acervo precioso, especialmente no campo da historiografia regional”. Em sua preciosa bibliografia destacam-se os seguintes livros: ‘Diccionário Chorográfico do Estado da Parahyba’ (1914); ‘Do Litoral ao Sertão’ (contos, 1917); ‘Resenha Histórica da Escola de Aprendizes Artífices do Estado da Paraíba do Norte’ (memórias, 1922); ‘O Tesouro da Cega’ (drama, 1922) ‘Maestros Que Se Foram’ (biografias, 1925); ‘O Barracão’ (romance, 1930); ‘Manaíra ou nas Trilhas da Conquista do Sertão’ (novela, 1936); ‘A Evolução Social e Histórica de Patos’ (1938); ‘O Tambiá da Minha Infância’ (memórias, 1942); ‘Sampaio’ (memórias, 1958), além do verbete ‘Estado da Paraíba’, para o ‘Diccionário Histórico, Geográfico e Ethonográgico do Brasil’, publicado pela Imprensa Nacional (Rio, 1922). Deixou ainda valiosa contribuição literária, publicada em vários jornais e revistas – que ascende a mais de três centenas de artigos e estudos – lamentavelmente ainda não reunida em merecidos volumes.

Idealizador e arquiteto da Academia Paraibana de Letras, “seu nome é sem dúvida, o ponto culminante daquela organização cultural”. Sobre sua pessoa, um dos mais importantes depoimentos nos foi legado pelo Cônego Francisco Lima, seu confrade e amigo, que em sessão realizada na Academia Paraibana de Letras, na noite de 30 de novembro de 1965, assim se pronunciou: “É um testemunho de nossa vida histórica e política, de nossas realizações sócio-culturais durante todo o regime republicano e boa parte do recente, apático, frio, mas um temperamento vivo, interessado pela terra e pelo homem, vibrante de civismo nos grandes momentos em que esplende o amor à gleba. Os velhos jornais, as antigas revistas, as veneráveis polianteias dos nossos museus literários assim no-lo revelam o Coriolano mestre; o Coriolano historiógrafo se não historiador; o Coriolano beletrista com uma contribuição relevante nos domínios da literatura de ficção; o Coriolano jornalista assinando crônicas de substância e colorido, a que não faltava o chiste, a sátira inocente a personagem e os costumes da cidade”.

Culto e simples, o mestre Coriolano possuía uma visão universalista e soube de forma grandiosa, transmitir às gerações futuras, magníficos tesouros de sua sabedoria. Amigo da mocidade, à semelhança de Sócrates, era um homem sensível as lagrimas e viveu uma vida longa e tranqüila.

Patoense dos mais ilustres, em seu pioneirismo, João Coriolano de Medeiros foi o primeiro musicólogo, o primeiro folclorista, o primeiro ensaísta, o primeiro romancista e o primeiro (e maior) historiador nascido na capital das Espinharas. No campo da historiografia, ele deixou ensinamentos que projetaram-o como ‘mestre e autorizado intérprete’ dos fatos da história paraibana. E, pela grandeza e dimensão cultural de sua obra, será sempre lembrado como um dos maiores expoentes das letras de seu Estado. Pois, seu legado fecundo, constitui uma obra imortal, tanto quanto ele.

 

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