NORDESTE

Revista NORDESTE: Futuro dos estados passa por atenção e investimentos direcionados às cidades do interior nordestino

Ainda dentro da reportagem especial de capa com abordagem e levantamento de pautas prioritárias para os futuros governadores dos estados nordestinos, a nova edição da Revista NORDESTE apresenta matéria com foco sobre a importância das cidades do interior para o futuro regional.

O texto assinado por Luciano Leão e Walter Santos, mostra que os próximos governantes eleitos precisam colocar no radar de suas intervenções que a solução do Nordeste está concentrada no interior, no semiárido, nas cidades de pequeno e porte médio.

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A nova edição da Revista NORDESTE também está disponível para o leitor em edição virtual. Clique aqui para acessar.

Leia a primeira parte da matéria especial assinada pelos jornalistas Luciana Leão e Walter Santos, abaixo:

A solução do Nordeste está no interior

O engenheiro Agrônomo e professor titular da Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE) e da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), no Sertão Pernambucano, Geraldo Eugênio, corrobora com a análise da economista Tânia Bacelar e acrescenta que é chegado o momento de os governantes colocarem no radar de suas intervenções que a solução do Nordeste está concentrada no interior, no semiárido, nas cidades de pequeno e porte médio, bem como nas maiores como Arapiraca (AL), Petrolina (PE), Feira de Santana (BA), Campina Grande (PB), entre outras.
“As cidades de porte médio no nosso interior crescem mais que as capitais e regiões metropolitanas, onde ainda a maioria dos governantes reloca os recursos para os investimentos e não geram retornos, como empregos, que tanto precisamos. Se houvesse o sentido contrário, os efeitos seriam maiores para os estados, com a produção de mais empregos e implicaria também na não migração da população para as regiões metropolitanas e capitais. Essa é uma visão diferente de governança, que é preciso ser modificada”, frisa Eugênio.

O poder transformador da água

O especialista lembra que nos últimos 20 anos grandes mudanças ocorreram no cenário do interior nordestino, que nem todos notaram, a exemplo da disponibilidade de água para as pequenas e médias cidades seja para o uso agrícola ou para consumo humano. “A água distribuída pelos canais, dutos e a própria Transposição do Rio São Francisco, sendo o carro-chefe dessa transformação”, pontua. “Não temos pouca água. O que precisamos é utilizar de forma eficiente”.
Mas, será necessário, acrescenta o especialista, modificar a atual lógica de aproveitamento, com mais uso de tecnologia usando sistemas de irrigação por gotejamento, ou ainda, a energia renovável em abundância para melhorar a distribuição para pequenas propriedades.

A riqueza da inteligência e da educação

Além das águas, a riqueza do acesso ao conhecimento por meio das escolas técnicas e universidades pelo interior nordestino deu um salto de qualidade para as futuras gerações que, segundo Geraldo Eugênio, torna-se um ativo imensurável e deve ser encarado como “obrigatório” pelos próximos governantes como linha mestra para condução das políticas públicas.
“Povoamos as escolas com os institutos e universidades. Estamos com a juventude qualificada, portanto se juntarmos a inteligência com os recursos humanos, a tecnologia, os futuros governantes devem promover políticas públicas para aproveitamento desses novos talentos e dos recursos humanos”.

Reprodução: Revista NORDESTE

O agronegócio dos grãos e alimentos

O Nordeste a partir de sua fronteira Oeste na Bahia, Maranhão e Piauí tornou-se grande produtor de alimentos e de grãos. Em outra ponta, em Pernambuco, por exemplo, por conta do polo de indústrias de bebidas, principalmente a cerveja, houve a necessidade de incrementar o cultivo do milho. “Antes, era necessário exportar da região do cerrado. Na atualidade, o Nordeste, precisamente na região conhecida como SEALBA (Sergipe, Alagoas e Bahia) é um grande polo de grãos, em especial, o milho.

Projetos como o Prospera que une ações, por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP), empresas de Biotecnologia como a Corteva, a Massey Ferguson, marca mundial do grupo AGCO – líder global em concepção, fabricação e distribuição de maquinário e tecnologia agrícola de precisão e Yara, líder mundial em nutrição de plantas, com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (ABRAMILHO) para impulsionar a produção de grãos na região.

A PPP formatada pelo projeto Prospera é uma combinação das tecnologias e soluções agrícolas desenvolvidas pelos mantenedores e tem a meta, para os próximos cinco anos de impactar mais de 50 mil pequenos agricultores em todo o Nordeste, ajudando-os a abastecer a cadeia local.

Entretanto, diz Eugênio, como qualquer iniciativa intrainstitucional, que promova iniciativas entre o público e o privado, é necessário que ocorra sinergia. “O que significa afirmar que as instituições precisam ‘se conversar entre si’ para que não ocorra uma ruptura de projetos e sejam estabelecidos metas e planejamentos de continuidade, criatividade e modernidade”.

Caatinga, um ativo do Nordeste e do Brasil

A visão distorcida da Caatinga pelos governantes, quer seja no âmbito federal, estaduais e municipais, bem como pela própria população brasileira, precisa ser desmitificada. Segundo Eugênio, há ainda aqueles que, infelizmente, a utiliza para produção de energia fóssil com a queima de lenhas para produção do carvão.
Entretanto, o único bioma exclusivamente brasileiro que compreende cerca de 10% do território nacional e 70% da Região Nordeste precisa entrar na agenda dos novos governadores para intensificar as pesquisas no desenvolvimento da região.

“Diria que é necessário multiplicar por 10, o que está sendo feito em nossa caatinga, a partir dos governantes, quais sejam federais, estaduais e municipais. O bioma é um tesouro no aspecto biológico, em formação gênica, entre elas, a fitoterapia”, cita o professor titular da UFRPE/UAST, alguns dos exemplos exitosos lá existentes,

“Existe um campo vasto e já em curso de produção de cosméticos a partir da biodiversidade das plantas catingueiras. Elas têm um aroma especial. São cheiros que estão saindo de um solo árido, mas rico também em moléculas utilizadas na indústria da aviação, por exemplo”, acrescenta Eugênio.

Eugênio esclarece que o bioma possui espécies de plantas altamente resilientes e tolerantes às altas temperaturas, um dos grandes problemas da atualidade causados principalmente pelo aumento dos efeitos de gases de efeito estufa na atmosfera. Especificamente, no setor aéreo, os combustíveis de origem fóssil continuam sendo os mais utilizados, havendo algumas iniciativas isoladas para o uso de biocombustíveis, como por exemplo, o bioquerosene.

“A caatinga é um celeiro ativo do nordeste brasileiro. É necessário que os próximos governantes intensifiquem e apoiem o desenvolvimento de pesquisas a cerca da biodiversidade do bioma, rico em matérias-primas que podem ser cultivadas por meio da agricultura familiar, por exemplo, gerando renda. Além disso, iriam causar danos menores ao meio ambiente, capazes de contribuir para o novo cenário mundial que visa à contenção da emissão de CO2 e outros gases do efeito estufa na atmosfera”, finaliza.


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