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Revista NORDESTE: João Azevêdo destaca a influência de Celso Furtado no presente e no futuro da sociedade

A edição de nº 162 da Revista NORDESTE aborda a trajetória, os ensinamentos e o legado do economista e pensador brasileiro, Celso Furtado, cujo centenário de nascimento foi celebrado neste domingo (26). Entre os destaques, texto assinado pelo governador da Paraíba, João Azevêdo Lins Filho, que traduz a influência de Celso Furtado no presente e no futuro da sociedade.

“A sua visão considerava as disparidades internas, as condicionantes externas e as oportunidades desprezadas, podendo promover crescimento mais equilibrado no País”, diz.

LEIA NA ÍNTEGRA:

A influência de Celso no presente e futuro

“A sua visão considerava as disparidades internas, as condicionantes externas e as oportunidades desprezadas podendo promover crescimento mais equilibrado no País”.

Por João Azevêdo Lins Filho
Governador do Estado da Paraíba

Celso Furtado nasceu na Paraíba e se tornou um cidadão do mundo. De maneira firme, ao longo da vida, estudou, analisou, planejou e propôs soluções para a superação do subdesenvolvimento, da desigualdades econômica e social, da promoção da qualidade de vida para os nordestinos e para os brasileiros, de modo geral.

A sua visão considerava as disparidades internas, as condicionantes externas e as oportunidades desprezadas, que podiam promover crescimento mais equilibrado do País, uma vez que entendia que o Nordeste devia ser considerado como parte da solução para o desenvolvimento do Brasil.

A condição climática da região, sujeita a secas e má distribuição dos recursos hídricos existentes, no entender de Furtado não era, em si, o principal fator limitante do Nordeste. Mas, sim, as soluções tradicionais de combate à seca sem um planejamento de ações integradas que permitissem a convivência com esse fenômeno, como também a ocupação das terras férteis, com monoculturas como a da cana, a má-distribuição de terra e baixa remuneração oriunda do trabalho no campo, entre outros fatores.

Essas ideias eram defendidas ainda em 1959, quando integrou a Operação Nordeste (OPENO), dentro do Conselho de Desenvolvimento do Nordeste, e se manifestava favorável à industrialização da região, como forma de gerar empregos de melhor remuneração. Da mesma forma, via a região com capacidade de produzir alimentos, para atender à demanda da própria região, que, tinha potencialidade para fornecer mão de obra à indústria e matérias primas, também.

Conseguiu implantar a Sudene e começar da implementar as suas ideias. A circunstância política de 1964, o levou para fora do País, com direitos políticos cassados. Até o retorno, foi pesquisador e professor de universidades nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra, em Portugal e, na América Latina, fez parte da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, o grande centro de estudos para a promoção do progresso nessa região.

Dessas experiências, ampliou a percepção dos problemas brasileiros e de dois temas caros: subdesenvolvimento e dependência econômica. Em alguns momentos representou o Brasil em entidades de cooperação internacional. Com toda a experiência acumulada, entendia que, para além das questões nacionais, o Brasil tinha, também, que se inserir de forma produtiva no cenário internacional, ao mesmo tempo, adotar políticas internas para a inclusão social e econômica, de modo a superar a pobreza e a desigualdade regional.

Dado à leitura, à pesquisa, gerou grande literatura na área da economia, mas, sempre, com uma visão social. Por outro lado, enquanto intelectual atuante, valorizou a cultura, a preservação da história e do patrimônio arquitetônico. E, defendeu o desenvolvimento da pesquisa e o papel do Estado, na promoção da sobrevivência da população. Professor, via a universidade como um centro vivo do pensamento inovador e questionador.

Entendo, como gestor público e como paraibano, que suas ideias e propostas continuam atuais, pois embora o Nordeste tenha avançado na convivência com a seca, na adoção de práticas que permitem melhor condição no campo, ainda persiste uma grande diferença entre quem mora no campo e dos que vivem na cidade; entre aqueles que trabalham nas regiões Sudeste e Sul e os que trabalham no Nordeste. Temos grandes potencialidades e ele acreditava nisso.

O Brasil, para verdadeiramente progredir, precisa ser mais igual, porque, riqueza ele produz, mas tem uma imensa desigualdade na sua repartição. País de dimensão continental, com grande diversidade natural, liderança representativa da América Latina, deve fortalecer sua inserção no mercado global, porém, superando as disparidades internas. O Nordeste é parte da solução do nosso País. Entendia que a sociedade como um todo é partícipe do destino do País.  Assim, Celso Furtado foi e será fundamental para o Brasil. Neste centenário, a Paraíba o homenageia com muito orgulho.


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