NORDESTE

Revista NORDESTE: Rômulo Polari analisa efeitos das políticas públicas na Paraíba dentro do cenário regional da economia 

Nos 18 anos da Revista NORDESTE, este ano, a equipe editorial projeta diversas abordagens sobre os nove estados buscando entender a trajetória econômico – social dos últimos tempos visando esclarecer os processos na direção de futuro.

 

Em 2024, projetamos consolidar com o Departamento de Dados da UFPB um convênio vanguardista para o núcleo da Universidade processar todo conteúdo da Revista NORDESTE ao longo dos 18 Anos visando consequentemente, na etapa seguinte, o desenvolvimento da BRNORDESTE – maior plataforma de dados e de negócios.

 

Neste primeiro ensaio, atraiamos a participação especial e exclusiva do ex-reitor da UFPB, professor Rômulo Polari, avaliando com detalhes e números a performance econômica da Paraíba.

 

 

ECONOMIA PARAIBANA: RECUPERAÇÃO RELEVANTE

 

Por Rômulo Soares Polari

 

 

 

No final do ano passado, a Paraíba encerrou um quadriênio de bons resultados, consistentes com o seu processo de desenvolvimento. Destacam-se, nesse sentido, os seus níveis de desempenho econômico e gestão governamental.

O Estado recuperou sua posição socioeconômica regional. Entre os aspectos mais densos de conteúdo dessa conquista destacam-se os seguintes:

 

  • Reversão da involução econômica relativa da Paraíba, no Nordeste;
  • Maior participação dos setores industrial e agropecuário na geração do PIB;
  • Aproveitamento da capacidade turística e científico-tecnológica estadual;
  1. Superação da involução econômica da Paraíba no Nordeste

A economia da Paraíba, no ano de 1995, era muito bem posicionada, na região: seu PIB era o quarto maior e superava o do Maranhão em 4,9% e o do RG do Norte em 11,8%. Em 2002 passou a ser o quinto menor e, em 2010, o quarto, equivalendo, respectivamente, a 80,5% e 72,4% do PIB do primeiro estado, e a 102% e 92,6% do PIB do segundo. De 2019 a 2021, o PIB paraibano disputou de perto a posição de quinto maior do Nordeste.

 

  1. Reestruturação/ Modernização da Economia Paraibana

A Paraíba tem uma longa história de problemas básicos determinantes de sua debilidade/insuficiência estrutural. Superar esses entraves é fundamental para o seu desenvolvimento. Destacam-se aí, com fortes inter-relações, os seguintes:

 

  • Involução relativa de sua economia no Nordeste;
  • Modesto peso dos setores produtivos propriamente ditos: o industrial e o agropecuário, na geração do PIB;
  • Alta dependência das atividades do Setor Público na formação do PIB;

No total das riquezas produzidas na Paraíba, as atividades produtivas modernas normalmente típicas da iniciativa privada têm modesta dimensão.

Em 2015, o Setor Industrial e o Agropecuário contribuíram com 20,6% na geração do PIB estadual.  Daí a excessiva dependência da participação de 33% do Setor Público nesse PIB. Esses aspectos revelam insuficiências da economia paraibana, na região.

Em 2021, as atividades industriais e agropecuárias geraram 20% do PIB do Estado, e as públicas 32,3%. Essa discreta queda da participação do setor público foi compensada com o aumento do peso e de outros segmentos do Setor de Serviços.

A Paraíba passou a aproveitar melhor as condições que dispõe para se desenvolver. Isso é fato em áreas e segmentos de atividades de grande importância no mundo atual da globalização e sociedade do conhecimento, a exemplo dos delineadas em itens seguintes.

João Pessoa, Capital do Estado, que passou a concentrar cerca de 30% do PIB da Paraíba, consolidou, nos últimos oito anos, auspiciosa fase de expansão e progresso.

 

 

 

2.1 Novos Segmentos Econômicos Modernos e Complexos

A Paraíba avançou aproveitando suas oportunidades de prosperar em segmentos de atividades de grande importância no mundo contemporâneo. Destacam-se os feitos dos projetos em implantação, com condições de desenvolvimento integrado das atividades turísticas, hoteleiras, artísticas e culturais, e expansão/modernização industrial.

 

Negócios  turísticos e hoteleiros: Polo Turístico do Cabo Branco

 

Esse projeto, que é do Governo Estado, recebeu grandes investimentos públicos em infraestrutura, serviços básicos e subsídios fiscais, e se arrastava, por mais de 30 anos, sem ter um só hotel ou outro equipamento privado. Felizmente, desde 2019, se encontra em firme processo de implantação.

 

O Polo Turístico do Cabo Branco tem área de 654 hectares, em região privilegiada de João Pessoa, próxima a diversos pontos turísticos. Com 21 lotes, será o maior complexo turístico do Nordeste, composto de resorts, parque aquático, equipamentos de animação e estabelecimentos de comércio e serviços.

 

Atualmente, o Polo já conta com o Centro de Convenções de João Pessoa com mais de 48 mil m² de área construída e capacidade para receber 20 mil pessoas, simultaneamente, em seus quatro prédios principais. Dentre eles, se destaca o Teatro Pedra do Reino, um dos mais modernos do Brasil, com capacidade para 3 mil espectadores.

 

Com o Polo Turístico, serão criados 8.000 novos leitos hoteleiros, mais que o dobro da capacidade atual, integrando entre outros muito importantes, os seguintes equipamentos e instalações, com investimentos totais em efetivação de mais de R$ 2 bilhões:

 

 

Boulevard dos Ipês

 (Em implantação)

 

Esse equipamento, atualmente sendo construído pelo Governo do Estado, é a principal avenida do Polo Turístico Cabo Branco, ligando o Centro de Convenções até próximo ao mar. A obra se inspira no movimento armorial liderado pelo escritor Ariano Suassuna.

Boulevard dos Ipês

O Boulevard será cercado por mais de 200 ipês coloridos e outras árvores nativas, ao longo dos seus 700m de extensão por 33m de largura. Sua área construída de cerca de 20 mil m² reunirá elementos culturais, tecnológicos sustentáveis, além de moderna e eficiente urbanização e mobilidade, paisagismo, escola de gastronomia, hotelaria e idiomas, museu, anfiteatro, playground, mirante, jardins e outras utilidades.

 

 

 

Ocean Palace Jampa Eco Beach Resort

(Em implantação)

Ocean Palace

Este é o mais novo grande empreendimento do grupo potiguar A. Gaspar e A. G. Hotéis: mais de 43 mil m² de área construída, 405 apartamentos (a maioria com vista para o mar), várias atividades de lazer: trilhas ecológicas e diversas opções integradas ao verde. Autossuficiente com energia

 

Tauá Resort & Convention

João Pessoa (Em implantação)

 

Este grande e moderno equipamento é um empreendimento do Grupo Tauá, composto de um moderno resort e terá o primeiro parque aquático indoor do Nordeste, localizado em terreno de 300 mil m².

 

Com 80 mil m² de área verde, o Tauá Resort oferecerá oito piscinas, uma para crianças, além de clube infantil, cinema, boliche, teatro, etc. Contará com uma área de convívio localizada junto à piscina principal, com uma pracinha típica nordestina, pequenas lojas, cafés, quiosques. Os hóspedes desfrutarão de restaurantes com gastronomia regional e variada, cinco bares, dois lounges, SPA coberto, academia, centro de convenções e eventos.

 

 

Acqual Parks e Resort

(Em implantação)

 

Este projeto é um empreendimento da empresa europeia Airy Hotels & Leisure, e será um dos maiores e mais ecológicos parques aquáticos do Brasil. Conta, para tanto, com modernas atrações cheias de natureza regional, num espaço para 7.700 visitantes simultaneamente. Sua meta é atrair um milhão de turistas anualmente.

 

O Acqual Parks & Resort terá 610 apartamentos de luxo, com acesso exclusivo ao parque aquático. Terá, também, uma área comercial ao ar livre para atender aos frequentadores do parque e ao público em geral, complementando o Boulevard dos Ipês.

 

 

Amado Bio

& Spa Hotel

(Em implantação)

Esse Equipamento inovador/ressignificador de padrões no segmento turístico-hoteleiro é um empreendimento de empresa de João Pessoa, Administradora de Hotéis. Seu conjunto operacional compõe elementos do oceano, das falésias e da floresta da área do Polo Turístico. Será construído em uma área com quase 40 mil m², com capacidade para 240 unidades, sendo 82 construídas nos seis primeiros meses e as demais em até um ano.

 

 

Holanda’s Gold Resort Club

(Em fase de implantação)

Este é um empreendimento do grupo Holanda, radicado em João Pessoa, área de 57 mil m², com 30 mil m² de áreas comuns, lazer e esportes. Oferecerá 984 leitos em 346 apartamentos, equipamentos de desfrute pessoal e familiar da natureza, restaurantes, bares, piscinas, pistas de boliche, salas de massagem, quadras de beach tênis, SPA com piscina aquecida, etc.

 

 

 

2.2 Modernização/ Diversificação do Setor Industrial

 

A economia paraibana aumentou a participação de atividades modernas e tecnologicamente avançadas na sua estrutura produtiva. O êxito se deu com ações e parcerias entre Governo do Estado, empresas privadas, produtores, universidades e órgãos de pesquisa.

Houve notório desenvolvimento industrial na Paraíba nos anos 2019/22.  A sua Construção Civil tornou-se uma das mais prosperas e modernas do Nordeste. A Indústria de Transformação destacou-se como uma das mais dinâmicas e diversificadas, com implantação de novas médias e grandes empresas em áreas tecnologicamente avançadas: materiais de construção civil, pisos e painéis vinílicos, alumínio, plásticos, painéis para energia solar, Polo Moveleiro Metropolitano de Pessoa.

 

Como destaque histórico, nasceu e prosperou muito no Setor Industrial da Paraíba o seu segmento de mais alta tecnologia, e voltado à sustentabilidade ambiental, que é o de geração e distribuição de Energia Solar e Eólica para o Estado, a região e o país.

 

A Paraíba está aproveitando as suas condições naturais de geração de energias renováveis (melhor índice de irradiação solar no país). Já é o sétimo colocado no ranking de usinas de grande porte, e  conta com 135 MW de potência instalada. Além disso, possui 20,3 MW operacionais em geração distribuída solar e fotovoltaica.

 

Os Distritos Industriais de João Pessoa e da sua Região Metropolitana incorporaram expressivo número de novas empresas industriais, assim como o Distrito Industrial de Campina Grande. Mas essa notável expansão industrial alcançou também outros municípios do interior, a exemplo de Guarabira, Patos, Sousa e Cajazeiras, entre outros.

Parque Eólico

 

 

2.3 Utilização da  capacidade científico -tecnologia estadual:

 

A Paraíba passou a aproveitar mais a excelente capacidade de geração, difusão e aplicação de ciência e tecnologia das UFPB, UFCG, UEPB e IFETs, etc. Aí tem-se cerca de 3.800 professores doutores e orçamento anual conjunto da ordem de R$ 4 bilhões, e laboratórios bem equipados e grupos de pesquisadores dos mais qualificados do país.

Campus I da UFPB

Dentre essas Instituições de Ensino Superior, a UFPB destaca-se como uma das maiores e mais qualificadas do Nordeste, em termos, acadêmico-científicos, posição esta consolidada nos primeiros anos 2000. Foi, também, nesses anos que passou a atuar institucionalmente como uma moderna e competente base de ciência e tecnologia para dar suporte ao desenvolvimento socioeconômico da Paraíba, no contexto da globalização e sociedade do conhecimento.

 

 

  1. As condições de vida da população paraibana

Os principais indicadores sociais e de qualidade de vida na Paraíba não estão entre os melhores dos estados nordestinos. Pesam para tanto, os efeitos conjuntos dos seus resultados econômicos de décadas passadas e insuficiência da infraestrutura.  Isso não quer dizer que não houve melhoria nas condições de vida dos paraibanos; houve, sim, mas em ritmo relativamente baixo.

 

Entre os estados do Nordeste, a Paraíba tem a quarta menor renda per capita, além de baixo posicionamento, com relação aos seus seguintes indicadores sociais e de condições de vida:

 

  • Quarta maior taxa de analfabetismo;
  • Quarto maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano);
  • Quinta maior expectativa de anos de vida ao nascer;

 

É razoável afirmar que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é o melhor indicador das condições e qualidade de vida de determinada sociedade. O IDH é a expressão estatisticamente adequada dos seguintes elementos de uma população de referência: Saúde: medida pela expectativa de vida; mortalidade infantil. Educacão: medida pelos anos de estudo, analfabetismo. Renda pessoal: medida a partir do PIB.

Os dados do Quadro abaixo demonstram uma significativa evolução do IDH da Paraíba, de 0,658, em 2010, para 0,698 em 2021. Desse modo, entre os IDH dos estados Nordeste, passou do quarto ao quinto menor, nos aludidos anos.

 

 

 

  1. Boas Perspectivas da PB e Carência de um Plano de Desenvolvimento

Os bons resultados socioeconômicos da Paraíba, nos anos 2019/22, atestam que se seus objetivos, metas e ações podem ser mais robustos e factíveis, se pautados por um competente projeto de desenvolvimento estadual.

 

Os caminhos básicos a seguir são conhecidos: i. desenvolver as forças produtivas da sociedade com mais modernização e eficiência da estrutura produtiva, ii. Pautar as ações, políticas e práticas desenvolvimentistas por sólidos compromissos com a sustentabilidade ambiental e equidade social e dignidade humana na distribuição da riqueza e da renda.

 

O êxito na solução requer o aprofundamento das ações e parcerias entre Governo do Estado, empresas privadas, produtores, universidades e órgãos de pesquisa, com os seguintes fundamentos:

 

Implantação de novas

atividades produtivas

modernas e complexas

A economia paraibana pode aumentar significativamente a participação de atividades modernas e tecnologicamente avançadas na sua estrutura produtiva. Para tanto, pode contar com as imprescindíveis e competentes ações sistemáticas e parcerias entre Governo do Estado, empresas privadas, produtores, órgãos de pesquisa e a comunidade acadêmico-científica estadual, com os seguintes elementos primordiais:

 

 Uma concepção contemporânea para os projetos, ações e políticas para o setor primário, que deve ser entendido como parte orgânica do agronegócio com seus segmentos integrados: Insumos, Agropecuário, Agroindústria e Agrosserviço;

 Expansão, diversificação e modernização do Setor Industrial, com base em arranjos produtivos e complexos industriais integrados;

 As universidades e órgãos de pesquisa da Paraíba dispõem de recursos humanos e bases tecnológicas para viabilizar o florescimento/desenvolvimento de importantes novas atividades econômicas, a exemplo das seguintes, entre outras:

 

  • Produção de energias renováveis (eólica, solar, biocombustíveis, etc.) para assegurar a autossuficiência energética estadual e exportar para o resto do País;
  • Implantação de novos complexos produtivos integrados: cana-de-açúcar/açúcar/etanol; mamona/óleo/vegetal/pasta alimento para animal; Fibras naturais/têxtil/vestuário; Frutas, conservas, bebidas, laticínios; Rebanhos, aves, carnes, animais, couros, calçados; madeira/móveis/papel;
  • Implantação de novas atividades industriais e de serviços de alta tecnologia, aproveitando a capacidade acadêmico-cientifico-tecnológica local nas seguintes áreas: produtos fitoterápicos; novos materiais; tecnologia da informação; eficiência energética: energias renováveis; serviços técnicos especializados, etc.

 

Adequação,

complementação/

modernização da

Infraestrutura

A Paraíba e bem servida de infraestrutura de Transporte Rodoviário. O seu desenvolvimento será bem mais viável, e facilitado, se vier a dispor de modernos, suficientes e eficientes sistemas de transporte ferroviário, porto e aeroportos.

 

Educação: Condição

Necessária e Suficiente ao

Desenvolvimento da PB

A curto prazo (Quatro anos), tem-se que reduzir a taxa de analfabetismo  e levar a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio de qualidade às pessoas na idade apropriada, e melhorar os padrões de eficiência e qualidade (taxas de matrícula, conclusão de curso, entre outros).

Mas, de médio a longo prazo, a Paraíba tem que ter como Missão, Objetivo e Meta essenciais a universalização da educação de qualidade em todos os níveis, para os respectivos segmentos da população com idade apropriada. Sem isso torna-se mera falácia a busca de viabilização do desenvolvimento, o que só faz sentido se for sustentável nos seus fundamentos ambientais e ecológicos e objetivamento promotor da equidade social e dignidade humana na distribuição da riqueza e da renda.

 

 

 

 

Rômulo Soares Polari é professor e ex-Reitor da Universidade Federal da Paraíba


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