BRASIL

Revista NORDESTE traz retrato dos circos nos dias de hoje

O público começa a chegar timidamente, no início da noite de uma quinta-feira de calor em João Pessoa, capital da Paraíba. Ingresso na mão, pausa para comprar pipoca, refrigerante e guloseimas e, enfim, sentar nas cadeiras de plástico, pregadas em uma arquibancada de metal. As luzes sobre o público se apagam, acendem no centro do palco e começa o espetáculo. Duas horas de risos, caras de espanto, aplausos e magia, tudo se apaga novamente. Pelo menos até o outro dia, quando começa novamente.

Esta experiência é comum aos brasileiros que frequentam circos, desde o século 19, quando os primeiros grupos circenses deixaram a Europa rumo ao Novo Continente, e que desde então se tornou parte do cotidiano cultural brasileiro. Mas este cotidiano corre risco: disputando a atenção do público com atrações mais tecnológicas, com dificuldades de encontrar locais para armar o picadeiro e sofrendo com uma grave crise financeira desde a proibição do uso de animais nas apresentações, os circos brasileiros definham.

É o caso do Le Cirque, da família Stevanovich, uma das mais tradicionais do país na 'mãe de todas as artes'. Desde 1847, a família, de origem iugoslava, viaja pelo Brasil, principalmente pelas capitais e também América do Sul. "O circo está no nosso sangue, no nosso dia a dia. Vivemos para agradar o público, fazer com que as pessoas riam, aplaudam, se divirtam. É só o que sabemos fazer", conta Luiz Stevanovich, um dos proprietários, junto com dois irmãos, a quarta geração à frente do empreendimento.

O Le Cirque foi renovado em 1999. Já é a quarta geração da família que está administrando o circo, hoje, como uma grande empresa. Eles ficam de três a quatro meses em cada cidade, antes de levantar a lona e buscar por um novo lugar para apresentar o espetáculo.

O número de funcionários varia de acordo com a época do ano e o local onde está se apresentando, podendo a 'comitiva' variar entre 25 e 50 pessoas. Os responsáveis pela montagem da lona são contratados na cidade onde o empreendimento está instalado, bem como os trabalhadores da praça de alimentação. Durante o dia, todo mundo ajuda no que pode. Os donos do circo vendem pipoca, malabaristas ajudam a varrer o chão antes do espetáculo, trapezistas vendem ingressos na recepção.

Ao redor do picadeiro, cerca de 1500 lugares fica à disposição dos visitantes, mas pouco mais de 300 pessoas, em média, assistem ao espetáculo diariamente. A queda de público seria justificada por um duro golpe sofrido pelo Le Cirque. Em meados da década de 2000, o debate sobre a proibição de animais em espetáculos circenses levou à proibição da presença dos bichos em diversos estados brasileiros e, apesar de não haver lei nacional, os animais da grande maioria dos circos foram apreendidos. Os que sobraram foram vendidos, já que não poderiam ser utilizados em apresentações nas maiores praças.

"Mentiram muito sobre isso, que nós agredíamos os animais, que maltratávamos, mas não nos deram chance de nos defender e de provar que era mentira. Apenas apreenderam os animais e levaram para zoológicos particulares, na prática, fomos roubados. Havia autorização para tudo, nada era ilegal. Têm circos pequenos que realmente não tinham condições de tratar os animais, e estes deveriam ser punidos, não todos", critica Luiz.

 (Leia mais na Edição n° 88 da Revista Nordeste já nas bancas de todo país)


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