BRASIL

Revista NORDESTE: Uma nova chance para a comunicação

Criado por jovens alagoanos, aplicativo para celular ganha prêmio mundial por traduzir língua de sinais para português e facilitar a comunicação entre surdos

Por Jhonattan Rodrigues

Atualmente no Brasil existem cerca de 9,7 milhões de pessoas com algum nível de deficiência auditiva. Destas, aproximadamente 2 milhões possuem deficiência severa ou são completamente surdos. Para piorar – e talvez poucas pessoas parem para pensar sobre o assunto – que nasce surdo ou perde a audição cedo demais, acaba tendo a oralidade prejudicada e, portanto, o aprendizado de uma língua oral. Isso não significa, entretanto, que surdos não sejam alfabetizados. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a língua utilizada pela grande maioria dos surdos brasileiros. Reconhecida por lei, é o meio de comunicação de mais de 5 milhões de brasileiros. No entanto, o uso da Libras fica muitas vezes restrito aos portadores de surdez, isolando este grupo do resto da sociedade. Duas pessoas podem dividir o mesmo espaço, mas estarem em realidades completadmente diferentes.

Ao passo que se discute a importância de se ensinar libras nas escolas, um grupo de grupo de alagoanos está usando tecnologia para reunir estes dois mundos. O Hand Talk é um aplicativo para smartphone que com um tradutor libras-português/português-libras, seja por escrita, fala ou até foto. A empresa, que leva o mesmo nome do aplicativo, começou como uma startup, formada em 2011 pelo publicitário Ronaldo Tenório, 30, Thadeu Luz, 33, especialista em efeitos especiais, e Carlos Wanderlan, 32, programador, e logo se alcançou reconhecimento mundial, Tenório sendo eleito 35 pessoas com menos de 35 anos mais inovadoras do mundo pelo MIT.

Tudo começa com uma ideia

A ideia surgiu de uma aula da época em que Tenório estava na faculdade, cursando publicidade, em 2008. Em determinada aula, surgiu a tarefa de criar algum produto inovador. Tenório, que tinha interesse em acessibilidade, percebeu que já haviam produtos voltados para cegos, mas um déficit para surdos, e teve a ideia para um app ajudasse essas pessoas a se comunicar. “Surdos têm muita dificuldade de comunicação com ouvintes e 70% deles não conhecem o português perfeitamente”, diz Tenório em entrevista. “Fiz o projeto, apresentei e acharam meio louco […] um dia eu consigo, pensei, mas não sabia quando nem como”, conta o publicitário. Após esse primeiro momento a ideia ficou apenas como um trabalho de faculdade. Terminada a faculdade, Tenório abriu uma empresa de publicidade e começou a trabalhar junto e a Carlos Wanderlan, que tinha sua própria empresa de programação. Após Wanderlan sugerir a ideia de criarem um aplicativo para celular, Tenório lembrou-se do seu projeto da faculdade. Os dois criaram o protótipo do que seria o aplicativo, mas precisavam de uma animação 3D para colocá-lo em prática. Formaram então uma sociedade como Thadeu Luz, especialista em animação, e nascia aí o Hand Talk. Na primeira edição do Demo Day, realizado pelo investidor João Kepler para startups em busca de recursos em Maceió, o Hand Talk conseguiu 170 mil reais em investimentos anjos (doações feitas por pessoas físicas). Mais tarde, a empresa foi uma das 10 selecionadas pela organização Artemisia, aceleradora de projetos sociais. “Esse processo foi muito rico para nós. Tivemos muitos mentores, empreendedores e pessoas trabalhando com a gente. Saímos de Alagoas e participamos de vários eventos ao redor do país. Foi um processo esclarecedor em vários pontos de vista, principalmente para entendermos que um negócio social não é uma ONG: ele tem que ser sustentável, ter escala e receita para crescer e aumentar seu impacto”, conta Wanderlan.

Em 2013 decidiram participar da WSA-Mobile, premiação da ONU para melhores projetos de cunho social. Concorrendo com projetos do mundo todo, o Hand Talk ficou entre os oito colocados na categoria Inclusão Social no evento que ocorreu em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Durante a premiação fizeram questão de levar a bandeira de Alagoas. E o reconhecimento do projeto não para. Ronaldo Tenório entrou para a lista 35 pessoas com menos de 35 anos mais inovadoras do mundo, ou “35 Innovators Under 35”, do MIT. Ele foi o único da América Latina presente nesta lista daquele ano.

O aplicativo

As premiações e o reconhecimento não são à toa. As linguagens de sinais incorporam gestos, expressões faciais e corporais e traduzir isso para um software não é tarefa fácil. São milhões de anos de seleção natural que se escondem atrás de um simples gesto como um franzir de sobrancelhas, e que resultaram no complexo sistema que é nosso rosto e gestos. E isso tem que ser levado em conta para o bom funcionamento do app. A resposta achada pelo trio foi Hugo, o simpático avatar 3D que faz as traduções do app. Com cabeça e mãos grandes para facilitar a identificação de expressões faciais e gestos, ele traduz simultaneamente palavras escritas e orais do português para libras e de libras para português.

Hoje o Hand Talk foi baixado 200 mil vezes e a estimativa é que haja 40 mil usuários mensais ativos. O app pode ser baixado gratuitamente pelas lojas Google Play (Android), App Store (iPhone, iPod e iPad) e BlackBerry World. Também foi desenvolvido uma plataforma para funcionar na web e hoje Hugo já traduz as notícias para a linguagem de libras em 2 mil sites. Mas os jovens empresários sonham mais longe. A libras é língua oficial dos surdos no Brasil, mas cada país tem sua própria. A meta agora é fazer com que Hugo traduza diversos idiomas. A maior dificuldade, porém, está em achar funcionários estrangeiros que vão além de cuidar dos negócios, mas que consigam também fazer traduções fidedignas para os novos idiomas. Sendo um app gratuito, o Hand Talk baseia seus fundo em trabalhos para empresas e para o setor público, como as traduções para sites – incluindo o portal do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – e a criação de totens acessíveis com a figura do Hugo. 

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