BRASIL

Revista NORDESTE: Veganismo, filosofia para além do prato

Por AMANDA FERREIRA

Falar de Veganismo não se trata apenas de compreender uma ideologia engessada em moldes éticos e morais, não é apenas a exclusão total de carnes de origem animal. Ativistas e adeptos do forte movimento sociocultural defendem que é preciso ir além, seguir com coerência a postura adotada pelo grupo, o que requer desprendimento e até uma certa militância à mesa. “É necessário compreender a causa, o contexto e a indústria massiva. Somente assim as pessoas poderão aderir uma dieta livre e abster-se também de qualquer produto testado ou de origem animal”, garante a coordenadora da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), Bárbara Bastos, também professora de administração na UFPE.

O Brasil vive um momento de ascensão da cultura Veggie e no Nordeste é uma realidade bem presente em algumas cidades. Hoje não é mais tão difícil sair à noite e encontrar um restaurante com cardápio estrito, voltado aos defensores da causa e até mesmo aos que apenas simpatizam ou apreciam as receitas. O estilo de vida virou tendência. Além disto, a internet é uma grande aliada para conhecer sobre o tema e se informar também através de eventos – hoje, de grande responsabilidade na divulgação – sediados, inclusive, em hotéis de luxo que contam com menu absolutamente Vegan.

As gôndolas dos supermercados estão cada vez mais preenchidas por versões veganas de produtos lácteos ou cárneos, como salsichas, nuggets, presuntos, queijos, coxinhas, linguiças, sorvetes etc. A busca é crescente e projeções afirmam que só vai aumentar nos próximos anos. Até festas de aniversários/casamento entraram na pegada Veggie: de doces até petiscos, pizzas, salgados e, claro, o bolo. A SVB assegura que segundo a Nutrikéo, empresa francesa de consultoria em estratégias alimentares, o mercado de proteínas vegetais – que representava US$ 7,8 bilhões (R$ 25 bilhões) em 2013 – poderá superar os US$ 11 bilhões (R$ 35 bilhões) em 2018, o que significaria um aumento de 40% em cinco anos.

Mas os nutricionistas e nutrólogos especializados no segmento alertam para a vigilância nas substituições durante o processo de transição de uma alimentação onívora ou até mesmo aos que já são ovolactovegetarianos: “O mais indicado é buscar acompanhamento profissional ou, pelo menos, uma pesquisa mínima em livros e até em manuais disponíveis gratuitamente na internet”, confirma Mayara Brasil (27), Nutri-Vegan no Recife. “Excluir carnes, ovo, leite e derivados de origem animal requer substituições que mantenham a saúde em dia e evitem a deficiência nutricional de ferro, fibras e vitaminas”, reforça.

Amor pela causa

“Uma vez veg, veg para sempre!”, é quase um dogma entre os adeptos do movimento sociocultural Vegan, que vive no dias de hoje o seu boom e, pelo visto, deve continuar sendo disseminado em prol da causa animal, já que 99,999% dos seguidores garantem que o Veganismo é um caminho sem volta. Não por costume, muito mais por conhecimento, defesa e ética social, animal e ambiental.

Ativista através da culinária, a Pernambucana, Tecnóloga em Gastronomia pelo SENAC/SP, Fabrisa Silva, é casada com um vegetariano ovolacto e mãe de três gatos e dez cachorros. A profissional classifica como ‘comida de verdade’ àquela feita com elementos naturais, da terra, sem interferência de produtos químicos, como agrotóxicos e misturas industrializadas. Ela, além de carnes e insumos de origem animal, extinguiu de sua cozinha qualquer que sejam os produtos “já prontos, cheios de conservantes”, afirma. “A experiência em restaurantes estrelados, até fora do Nordeste mesmo, me fez enxergar que praticidade não vale a saúde e o sabor, proporcionados em receitas desenvolvidas com ingredientes e misturas absolutamente artesanais, e orgânicas na medida do possível”, pontua. 
A cozinheira, que participou de inúmeras palestras e eventos, teve o seu primeiro grande contato com o veganismo há pouco mais de dois anos. Desde então mergulhou de cabeça neste mar de infinitas possibilidades gastronômicas e de lá pra cá não parou mais. 

O primeiro passo para reafirmar a filosofia Vegan através da sua profissão foi abrir a Frutteto (Pomar, em italiano), localizada na capital pernambucana. A empresa de delivery, buffet, pronta-entrega de congelados e eventos, atende ao público Veg em diversos segmentos. A casa adotou como principal missão disseminar as criações autorais da chef e “despertar a consciência nas pessoas através da comida”, ressalta a empresária.

Para Fabrisa, a permuta mais difícil na transição ovolactoveg para o vegan é cortar o ovo das receitas. “É um ingrediente curinga na cozinha do mundo, ele pode aerar, é espessante, dá o ponto certo em várias massas de base. Mas nada que uma mistura triturada de chia, linhaça e água não resolva”, ensina. “Dá para diversificar sem cair na rotina do feijão, arroz integral e salada de folhas. As possibilidades não têm fim”, afirma Fabrisa.

Vegan Online

Designer por formação e Youtuber Vegan por amor, Cecília Barbosa (27) está entre as principais ativistas online do mundo Veg no Nordeste. A jovem, que “virou vegana da noite pro dia”, como ela mesma afirma, decidiu compactuar com a conduta natural através de vídeos nada formais, completamente informativos e bastante irreverentes no seu canal no Youtube, alguns com mais de cinco mil visualizações.

A ideia surgiu quando Cecília foi diagnosticada com pedra na vesícula, no ano passado. O médico sugeriu dois motivos: consumo exagerado de carnes e alimentos gordurosos ou uso de contraceptivo há muito tempo. Das duas uma. E foi a rotina de “Junk Food”, comida besteirol, que a levou ao Veganismo. Sim, da noite para o dia. E hoje ela agradece: “Veganismo é um casamento. É um caminho sem volta”. “Eu era uma McDonalds ambulante. Comia até carne crua, antes do fondue”, admite a designer.
Ficou curioso? Para conferir a proposta e trabalho veg de Cecília, acesse: Bora Veganizar, no Youtube.

Dicas e Sugestões

 

Para comprovar sua teoria, Fabrisa abre o seu arsenal de receitas (a maioria com influência italiana, por paixão) e ensina uma criação totalmente vegana, prática e ideal para fugir do trivial:

Panna Cotta Veg, por Fabrisa Silva
500ml de leite de Coco
250ml de leite de amêndoas ou de castanhas 
* Demolhar as amêndoas por 8 horas e bater no liquidificador na proporção de 100g para 300ml de água. No Caso das amêndoas, coar. No caso das castanhas, não é necessário.
180g de açúcar orgânico, pode ser demerara ou cristal. 
15g de ágar- ágar refinado ( gelatina de algas, encontrada em lojas de produtos naturais. Quanto mais refinada e branquinha, mais pura e melhor.)
1/2 Colher de chá de extrato de baunilha

Para a Calda de Frutas:
– 500g de frutas vermelhas (morangos, amoras, framboesa, mirtilos) ou outra de sua preferência, pode ser polpa de acerola, por exemplo.
– 200g de açúcar orgânico demerara ou cristal.
– Suco de 1 limão
– Junte todos os ingredientes e leve ao fogo brando, mexendo algumas vezes. Após fervura, deixe reduzir por 20 minutos. Esfrie.

Prepare a Panna Cotta:
– Numa panela, misture todos os ingredientes e dissolva bem com o batedor. Leve ao fogo brando. Após levantar fervura, reduza por cinco minutos, mexendo sempre. 

Para a montagem:
– Despeje o creme ainda morno nas forminhas untadas com óleo. Deixe esfriar em temperatura ambiente por uma hora e após isso, resfrie por mais uma hora. Desenforme e cubra com a calda já fria. Decore com uma folhinha de hortelã.

Serviço:
Frutteto Cozinha Artesanal Natural
Contato: (81) 4101.1814 | 9.9871.8809

Custo-benefício e variedades 
Na hora de migrar, transitar de uma dieta onívora para uma rotina exclusivamente vegana, além de atenção e equilíbrio na escolha dos itens, é preciso ponderar o custo-benefício antes de superlotar o carrinho de compras. 
A Revista Nordeste visitou o Empório Vegaria, situado na Zona Sul do Recife, e conferiu uma infinidade de produtos naturais, como cupcakes, até uma inusitada coxinha nas versões Jaca, Caju e Cogumelos, tudo assinado pela empresa Juju Vegan. Sem contar os produtos como queijos vegetais, pastas à base de soja, geleias, massas, sucos, sanduíches naturais etc.
Além disto, o casal vegano de proprietários – Rodrigo e Juliana Duarte – dispõem nas suas prateleiras, três itens preciosos para uma feijoada adubada, saborosa e coerente com o movimento Veg: Tofu Orgânico Defumado, Glutadela Vegetal e Linguiça Apimentada de Soja. Cada um sai por R$ 20.

Serviço:
Vegaria
Rua Barão de Souza Leão, 221, Boa Viagem, Recife (PE)
Contato: (81) 99721-0592 | 3128-3344 
 
 


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