Rosa Freire D’Aguiar, expert e viúva, elenca novas produções sobre Celso Furtado e anuncia lançamentos no Centenário

Por Walter Santos

A professora e memorialista Rosa Aguiar, viúva do renomado pensador Celso Furtado, encara no cotidiano uma série de atividades que devem desaguar no Centenário do mais importante economista no trato de desenvolvimento regional e o enfrentamento ao sub-desenvolvimento nacional no decorrer dos próximos meses. A barra anda pesada diante da nova ordem no País, mesmo assim ela garante resistência com o Centro Internacional no Rio de Janeiro sob presidência de Saturnino Braga. Ela quer fazer lançamentos em João Pessoa e Recife de livros sobre Celso e outras atividades.
Eis a sintese da entrevista Exclusiva:

Revista NORDESTE – Como é manter o Centro Internacional Celso Furtado, às vésperas do Centenário com tantas desatenções oficiais? Vai dar para assegurar a estrutura?

RFA: Manter o Centro Celso Furtado tem sido uma tarefa árdua, agora sob a responsabilidade do nosso querido diretor-presidente, o ex-senador Roberto Saturnino Braga. O Centro saiu do edifício do BNDES, onde se encontrava desde sua fundação em 2005, e está muito bem instalado no prédio do Clube de Engenharia, no centro do Rio de Janeiro. Estamos mantendo as atividades de sempre — seminários, publicações — mas em ritmo mais lento. Ano passado organizamos, como a cada dois anos, um congresso internacional sobre a “Revolução 4.0, e as novas tecnologias de ponta”, que teve ampla participação. Continuamos a editar os dois números anuais da revista acadêmica do Centro, “Cadernos do desenvolvimento”, inteiramente on line no endereço www.cadernosdodesenvolvimento.org.br . Como sempre, a revista traz uma longa entrevista sobre um “intérprete do desenvolvimento”, artigos acadêmicos originais, resenhas etc. Saliento as entrevistas recentes que fizemos (e disponíveis no site da revista) com o professor Clelio Campolina, grande especialista do desenvolvimento regional, com o prof. Theotonio dos Santos (a última entrevista que ele deu em vida), e, nesse número mais recente, com a economista Maria da Conceição Tavares. Já posso anunciar que a entrevista da próxima edição, a sair em dezembro, é a professora Tania Bacelar, com quem conversamos quatro horas. Outra vertente importante do Centro é a Biblioteca Celso Furtado, cujo catálogo está inteiramente on line. A BCF reúne a coleção privada de Celso Furtado, e também a minha (vários livros de Celso, já catalogados, ainda se encontram em minha casa).

NORDESTE – O que há para acontecer?

RFA – Há ainda — o que assinalo para os paraibanos — uma pequena coleção chamada Mauricio Furtado, que reúne alguns livros que o pai de Celso lhe legou. A BCF tem algumas preciosidades, como um Banco de Teses sobre Celso Furtado, com mais de cinquenta títulos disponíveis em linha, um Banco de Artigos Acadêmicos sobre Celso Furtado, que já soma mais de 200 textos.
NORDESTE – Conjuntura dificil de manter?
RFA -Como vê, nem sempre é fácil manter toda essa estrutura, que embora enxuta, com apenas dois funcionários (uma bibliotecária e um coordenador), necessita de algum recurso para prosseguir. Nesta quadra da vida política brasileira, em que temas óbvios para o país, como desenvolvimento, planejamento, políticas regionais, têm sido relegados pelas autoridades, as dificuldades aumentaram. Mas temos mais de duzentos sócios que estão sempre dispostos a nos ajudar.

NORDESTE – O que pode esperar ou o que está programado para o Centenário do mestre dos mestres?

RFA: O que eu posso esperar, francamente não sei. Desde que Celso morreu, em 2004, trabalho com seus arquivos, com sua memória. Primeiramente, tratei das publicações: fiz diversas reedições de seus livros, levei alguns para uma das maiores editoras do país, a Companhia das Letras, encomendei novos prefácios para cada título, que estão agora disponiveis em edições novas e bem cuidadas. Nesses quinze anos da morte de Celso, fiz também seis livros a partir de seus arquivos, numa coleção a que dei o nome de “Arquivos Celso Furtado”, e que estão à venda (com um ótimo desconto — desculpe o “comercial” — na editora Contraponto. Cada número tem um tema, sendo que fiz há dez anos, justamente, um para comemorar os 50 anos da Sudene (“A saga da Sudene”).
NORDESTE – Quando e onde levar Celso Furtado ser mais conhecidos das novas gerações?

RFA – Minha ideia é a de que é meu dever fazer com que as novas gerações tenham acesso à vasta obra de Celso. Nesse sentido, fiz também um livro para a Penguin/Companhia das Letras, em 2013, para a coleção “Essencial”. No “Essencial Celso Furtado” reuni os textos dele que me pareceram mais importantes e significativos nas vertentes “trajetória de vida”, “pensamento econômico”, “pensamento político” e “cultura e ciência”.

NORDESTE – O que há de novo?

RFA – Neste momento, já pensando nas comemorações do centenário, estou lançando mais um livro que fiz sobre Celso: os “Diários intermitentes de Celso Furtado, 1937-2002”. Reuni todas as notas que ele tomou vida afora em cadernos, agendas, folhas soltas. Celso não foi propriamente um “diarista” na medida em que não tomava notas diariamente do que de mais signiicativo lhe ocorrera. Mas essas anotações, embora não diários, revelam facetas de sua personalidade, encontros com intelectuais e políticos como Ulysses Guimarães, Fernando Henrique Cardoso, Fernand Braudel, Henry Kissinger. Revelam também o que foi o combate para implantar a Sudene num Nordeste que, à época, parecia dominado pelos latifundiários de mentalidade escravista e avessos a qualquer possibilidade de fazer política que não fosse pela exploração das verbas públicas.
NORDESTE – Quando sai?
RFA – O livro sai em setembro, e posso lhe dizer que está muito bonito. Será ilustrado. Pretendo fazer um lançamento em João Pessoa e no Recife, duas cidades em que, o jovem adolescente Celso Furtado, começou a escrever seus diários nos idos dos anos 30.

NORDESTE – Qual o papel do Fórum dos Governadores do Nordeste e até mesmo da Sudene nas comemorações do Centenário e dos 60 anos da Sudene?

RFA: não conheço o Fórum dos governadores, senão por algumas notícias de jornal. Quanto á Sudene, dependeria de saber se eles ainda têm os meios — e o interesse — de comemorar o centenário de seu fundador. Imagino que sim.

QUEM É – Rosa Freire D’Aguiar Furtado é carioca e jornalista. Repórter da revista Manchete nos anos 70, correspondente em Paris das publicações da editora Bloch e da revista IstoÉ nos anos 70 e 80, quando estendeu seu trabalho a Espanha, Portugal e Oriente Médio. Desde 1986 trabalha no mercado editorial, tendo traduzido do francês, espanhol e italiano cerca de cem títulos de autores como Lévi-Strauss, Louis-Ferdinand Céline, Vargas Llosa, Ernesto Sabato, Balzac, Calvino, Stendhal, George Pérec, Michel de Montaigne, Pierre Bourdieu. Recebeu entre outros prêmios o Jabuti de tradução em 2009 e o União Latina de Tradução Científica e Técnica em 2001; é autora de “Mémória de Tradutora”(2004); editora, entre outros, da “Edição comemorativa de formação econômica do Brasil”, de Celso Furtado (2009), de “Essencial Celso Furtado” (2012). Criou e dirige desde 2008 a coleção Arquivos Celso Furtado, pela qual já publicou seis livros , sendo o mais recente “Anos de Formação 1938-1948” (2014). É presidente do Conselho Deliberativo do Centro Celso Furtado.


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