Militares do Exército nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco estão auxiliando as populações de 147 municípios que estão em situação de emergência por causa da seca na Bahia.
Com caminhões-pipas próprios ou contratados, os militares dos batalhões de Infantaria, Infantaria, Motorizada, Batalhão de Caçadores e Engenharia de Construção, fazem a distribuição de água nas sedes e nas comunidades mais afastadas, onde os mananciais secaram e a captação de água dos rios e aguadas praticamente desapareceu nos últimos meses.
De Salvador (19º Batalhão de Caçadores), Feira de Santana (35º Batalhão de Infantaria)I), Paulo Afonso (1º Cia de Infantaria), Barreiras (4º Batalhão de Engenharia de Construção), Aracaju (28º Batalhão de Caçadores, Sergipe) e Petrolina (72º Batalhão de Infantaria Motorizada, Pernambuco), saem diariamente centenas de caminhões-pipas, totalizando 1.605 veículos, em distâncias que ultrapassam 70 quilômetros, para levar água ás comunidades mais afastadas.
Na Bahia, a seca afeta 1,7 milhão de pessoas, segundo os números divulgados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), espalhados nos 147 municípios em situação de emergência. Ontem, a informação era de que mais cinco municípios deverão ser acrescidos à lista, após a conclusão dos relatórios dos técnicos que visitaram as localidades
No último sábado o Governo do Estado publicou no Diário Oficial decreto homologando a situação de emergência em outros seis municípios. O decreto beneficia os municípios de Capim Grosso, Quijingue, Rafael Jambeiro, Saúde, Condeúba e Ibotirama.
Nessas localidades, que sofrem com a estiagem desde 2013, as chuvas que caíram no início deste ano não foram suficientes para repor as reservas dos mananciais. Na sexta-feira, em outro decreto, a Casa Civil do Governo do Estado relacionou os municípios de Ilhéus, Barra do Choça Campo Formoso, Feira da Mata e Rio de Contas.
Drama acentuado
Para o coordenador de Ações Estratégicas da Superintendência de proteção e Defesa Civil do Estado (Sudec), Paulo Sérgio Menezes Luz, a situação já assume áreas de calamidade principalmente em municípios da região Sul, que pela primeira vez na história passa por um período prolongado e intenso de estiagem. “É o pior que já vimos em toda a história”, disse.
O coordenador explica que por não ter as mesmas características do Semi Árido, os municípios da Região Sul sofrem mais com a estiagem. “No Semiárido a população já se acostumou a conviver com a seca, constrói aguadas e sabe aproveitar o máximo de água. Já no sul, isso não acontece e temos uma cidade como Itabuna que não dispõe de uma barragem, captando águia diretamente no leito do rio”, exemplifica.
Rios considerados perenes, como o Almada (Itajuípe/Coaraci), Iguape (Ilhéus), Cachoeira (Itabuna) e Colônia (Itororó/Itambé) secaram e forçaram o Governo do Estado a apressar a construção da Barragem do Rio Colônia, que, contudo, só deverá ficar pronta no próximo ano. Em Itabuna, conforme disse Paulo Sérgio, a água para abastecer a maior parte da população está sendo buscada em caminhões- pipas no Rio de Contas, a 80 quilômetros de distância, no município de Ubaitaba.
Outro fato preocupante destacado pelo coordenador de Ações Estratégicas da defesa Civil do estado é que em Ilhéus, a Barragem dói Iguape, responsável pelo abastecimento de mais de 70% da cidade, só deve agüentar até o mês de setembro.
"Em Itabuna, quem tem recursos está pagando R$ 80 por uma carga de mil litros de água. E quem não dispõe desses recursos, tem que torcer para que chova, o que só deverá acontecer em outubro”, disse.
Prognóstico é de redução das chuvas
Nos prognósticos elaborados pelo instituto Estadual do Meio Ambiente (Inema) com base nas análises do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chuvas na Região do Semiárido Baiano deverão ser, em média, 40% abaixo da média histórica.
No Nordeste brasileiro, o trimestre que vai de maio a julho é considerado o final do segundo período chuvoso para a região, e o terceiro período de chuvas intensas na faixa do litoral, incluindo Salvador.
Durante esses três meses, os maiores volumes de chuvas, com acumulados acima de 500 mm, normalmente ocorrem no noroeste do Maranhão e na faixa da Zona da Mata e Agreste, entre os estados do Rio Grande do Norte e litoral sul da Bahia.
No restante do Nordeste brasileiro, incluindo o Semiárido Baiano, o acumulado de chuva fica entre 25 e 300 milímetros. O prognóstico foi feito com o histórico de chuvas (anual) e o que está sendo previsto em milímetros (mm) para os meses de maio, junho e julho.
Em Capim Grosso, só há um carro-pipa
Encravado na Região Sisaleira, o município de Capim Grosso foi um dos que tiveram o decreto de Situação de Emergência reconhecido neste final de semana pelo Governo do Estado.
A situação é dramática tanto na sede como na área rural, onde apenas um caminhão pipa, do programa de Aceleramento do Crescimento (PAC das Cidades) atende aos mais de 26 mil habitantes.
O município, distante 272 quilômetros de Salvador, fica equidistante dos rios Itapícuru e Jacuípe, e enfrenta uma estiagem de três anos.
O secretário municipal de Agricultura, Ricardo Souza, explicou que a população de algumas áreas da sede está sendo abastecida pelo açude municipal, distante três quilômetros, mas em localidades mais afastadas, o percurso chega a ser de 60 quilômetros, entre ida e volta do caminhão, que tem que buscar a água no Açude Pedras Altas, no Rio Itapicuru, distante mais de 25 quilômetros da sede do município.
Conforme explicou o secretário da Agricultura do Município, não há perspectivas de uma safra de feijão e milho, que deveria ter sido plantada este mês. “Não há o menor sinal de chuva e a terra está ressequida, não sendo possível ará-la”, disse.
Para o secretário, o reconhecimento da situação de emergência vai permitir minorar a situação de finanças do município, que não tem condições de arcar sozinho com as ajudas emergenciais que vem prestando às populações afetadas pela seca.
A situação de emergência permite que as prefeituras possam acelerar as ações de combate à estiagem através do repasse de recursos emergenciais federais ou estaduais, além, de obterem recursos do Bolsa Estiagem ou Garantia Safra, e ações de perfuração e recuperação de poços, construção de cisternas, linha de crédito, inclusão na Operação Carro-Pipa, executada pelo Governo Federal através do Exército.
A partir do decreto de situação de emergência, a Superintendência de Proteção e Defesa Civil – Sudec, envia técnicos “in loco”, para fazer o acompanhamento e vistoria dos danos e prejuízos causados pelo desastre.
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