BRASIL

Temer e Renan isolam Cunha da cúpula do PMDB; deputado reage

“Pra mim é evidente que ele foi escolhido para dividir a bancada do PMDB na Câmara. Nós temos que nos unir em torno do Eduardo Cunha (PMDB-RJ, presidente da Câmara) e escolher duas ou três votações para derrotar o governo e mostrar nossa força”, interveio Soraya. A deputada, casada com o ex-deputado Alexandre Santos (PMDB-RJ), citado na Operação Lava Jato, faz parte da tropa de choque de Eduardo Cunha. Vieira Lima já fez parte desse grupo, mas foi atropelado pelo presidente da Câmara quando este trabalhou pela eleição de outro representante do Rio de Janeiro, Leonardo Picciani, como líder do partido.

“Não sei se vale a pena brigar com o Temer” contrapôs o deputado baiano.

Ao que o colega do Ceará respondeu: “Se vale a pena, eu não sei. Só sei que a escolha de Temer realmente divide o PMDB. Viram o Renan (Calheiros, PMDB-AL, presidente do Senado)? Já está aplaudindo a Dilma e o Temer. O Eduardo Cunha ficou sozinho.

Naquele mesmo horário Renan estava sendo chamado por Dilma Rousseff para um encontro tête à tête no Palácio. Somente os dois. Conversaram por cerca de uma hora. Renan saiu de lá calado. Não contou a ninguém detalhes da conversa. Dilma telefonou para Michel Temer logo a seguir:

“Tivemos uma ótima conversa. Acho que vai dar tudo certo”, disse a presidente a seu vice. Temer, que havia preparado o encontro, imediatamente telefonou para Renan. O presidente do Senado confirmou que a conversa “foi boa”, ao contrário das vezes anteriores. Marcaram de se encontrar neste domingo ou na segunda-feira.

Ainda não se sabem detalhes do que Dilma, Renan e Temer acertaram. Mas seus interlocutores dão como certo que, enfim, Renan aceitou a nomeação do ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o comando do Ministério do Turismo. O atual ministro, Vinicius Lages, indicado pelo presidente do Senado, não ficará a ver navios. E Renan deverá receber um pacote de bondades de contrapeso. Além disso, formará com o agora poderosíssimo Michel Temer o núcleo de comando do PMDB nacional.

Vale lembrar que, entre as atribuições da extinta Secretaria de Relações Institucionais transferidas para as mãos de Temer estão as nomeações de quase todos os cargos de segundo escalão do governo e a priorização das benesses do Orçamento da União distribuídas para prefeituras, ou seja, a base eleitoral de todos os parlamentares.

Quinta-feira, 9. Dia seguinte à conversa de Soraya com os colegas no Cafezinho.

O plenário está lotado para a votação da medida provisória 661/2014, que auotorizou o Tesouro a conceder empréstimos de R$ 30 bilhões para financiar a solução de problemas causados por desastres naturais. “Duas ou três” — como diria a deputada Soraya — emendas votadas no plenário comandado por Eduardo Cunha pegaram o governo de surpresa.

Duas foram aprovadas à revelia do Palácio do Planalto. Uma emenda do PSDB que permite a “quebra de sigilo” de operações do BNDES. E outra, do partido Solidariedade, que destina à extensão rural 2,5% de todo o financiamento realizado pelo BNDES a taxas subsidiadas.

A terceira emenda estava quase sendo aprovada quando o deputado Silvio Costa (PSC-PE) conseguiu convencer o plenário de que ela era absolutamente inconstitucional. Autorizava o BNDES a destinar R$ 50 milhões para a reforma de um shopping center no Rio de Janeiro, o Nova América, que sofreu incêndio.

Em outras palavras: Dilma conseguiu isolar o oposicionista Eduardo Cunha na cúpula do PMDB, entregando o poder a Michel Temer e Renan Calheiros. Mas o governo que se prepare. A tropa de choque o presidente da Câmara não pretende ficar inerte.


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