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Tsipras: “Povo grego envia hoje mensagem muito forte”

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, se mostrou confiante em uma vitória do "Não" neste domingo, 5, no referendo que definirá os rumos da negociação do país com seus credores internacionais. No dia em que cerca de 10 milhões de gregos devem passar pelas urnas, o premier disse que o momento deve ser celebrado e lembrado como o dia em que "a democracia superou o medo e a extorsão".

A votação segue até as 19h (horário local, 12h em Brasília). As primeiras pesquisas de boca de urna devem sair no início da noite na Grécia e o resultado está previsto para a madrugada.

Tsipras falou logo após votar no distrito central de Atenas, Kypseli. Desde o anúncio da realização do referendo, ele e o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, têm feito campanha para que os gregos rejeitem as propostas da chamada troika, formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI). Os credores exigem mais medidas de austeridade, como cortes nas pensões e aumentos de impostos, em troca de uma nova parcela do pacote de resgate.

"Muitas pessoas podem ignorar a vontade de um governo, mas ninguém pode ignorar a mensagem de um povo. Hoje é um dia de celebração, porque a democracia é uma celebração, é uma alegria. E quando a democracia supera o medo e a extorsão, se torna uma redenção e uma saída. O povo grego envia hoje uma mensagem muito forte. Uma mensagem de dignidade e determinação", disse Tsipras.

O referendo grego transcorre tranquilamente. Os militantes de cada lado, que fizeram corpo a corpo pesado ao longo da semana, hoje mal são vistos na rua. Os turistas circulam normalmente pela cidade. Não há papelada espalhada pelo chão e, até o início da tarde, havia poucos relatos de filas nas seções eleitorais.

O referendo deste domingo é o primeiro a ser realizado na Grécia em 41 anos. A última consulta popular do tipo ocorreu em 1974, quando o país optou pelo fim da monarquia, ao término da ditadura militar.

Os gregos estão indo às urnas hoje para responder a uma pergunta sobre as condições para renegociação da dívida e manutenção da ajuda da União Europeia – se consideram os termos justos, devem responder "nai" (sim); se querem exigir um novo pacto, assinalam "oxi" (não). Pode parecer simples. No entanto, por trás da decisão do plebiscito de hoje – o primeiro na Grécia em 41 anos, desde que a população decidiu extinguir a monarquia, em 1974 -, pode estar o futuro do país como membro da União Europeia.

O "sim" e o "não" representam duas apostas distintas no futuro. Aceitar o que a UE propõe significa a continuidade do plano de austeridade financeira implementado durante os últimos cinco anos. Os resultados para a economia e para a população, porém, têm sido desastrosos: desde 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) acumula uma retração de 24% e o desemprego entre os jovens dobrou, chegando a 50%. Apesar disso, quem opta "sim" acredita que, sem o colchão de segurança oferecido pela UE, o desastre deverá ser ainda maior.

Já o voto no "não" é uma aposta de que a situação não pode ficar pior do que está. De acordo com o primeiro-ministro Alexis Tsipras, a proposta do referendo é mostrar a insatisfação com a intransigência na negociação das dívidas, e não buscar a saída da União Europeia. O objetivo, segundo ele, é conseguir condições mais favoráveis de negociação para que o bem-estar social grego não tenha de ser tão sacrificado. O plebiscito de hoje foi convocado porque o governo não conseguiu costurar um acordo melhor sozinho.

Caso optem por rejeitar a receita dos credores para a crise, os gregos correm o risco de o recado ser entendido de outra forma: que o país prefere sair do bloco econômico e caminhar com as próprias pernas. Por causa da votação de hoje, as negociações com o Eurogrupo sobre a situação financeira da Grécia estão suspensas desde quarta-feira.

A economia grega deteriorou-se ainda mais na última semana. O plebiscito foi anunciado pelo primeiro-ministro no último dia 26 e organizado em poucos dias – o site oficial com as explicações sobre as regras só entrou no ar na última quarta-feira. Diante do iminente calote de uma dívida de € 1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) – que acabou se confirmando -, Tsipras determinou o fechamento dos bancos desde a segunda-feira e um limite máximo diário de saques de € 60, expondo a fragilidade do sistema bancário nacional.


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