Por Luciana Leão

A busca para atingir a meta estabelecida pelas nações em diminuir a temperatura do planeta até 2030,estabeleceu uma “corrida ao ouro” frente aos investimentos em energias renováveis no Brasil.

Em recente estudo inédito pela CELA (Clean Energy Latin America), foram mapeados mais de 50 gigawatts (GW) de projetos e empresas transacionadas entre 2014 e 2023, por meio de operações de M&A (Fusões e Aquisições).

O dado faz parte do “Panorama de M&As no setor de energias renováveis”, feito de forma independente pela CELA a partir de pesquisas e contribuições dos players dos mercados de solar fotovoltaica e eólica no Brasil. 

Grande parte das transações foram realizadas na região Nordeste, com ênfase às operações envolvendo projetos de Geração Centralizada em energia eólica, e na Região Sudeste, com foco em projetos de energia fotovoltaica.

Na análise, fica evidente a influência regional e suas características específicas. O número de transações e volume transacionado associado à determinada fonte de energia.

Tal fato se deve, segundo trechos do relatório que a revista NORDESTE teve acesso, “especialmente ao alto fator de capacidade da fonte de energia na região e, no caso da GD, de incentivos fiscais e das tarifas de distribuição, que variam significativamente em cada estado e  distribuidora” .

Para Solar FV-GD destacam-se os estados de MG e SP , representando 29% do total de transações mapeadas para Solar FV-GD . Para Solar FV-GC  destacam-se os estados de MG e BA ,representando 47% do total de transações mapeadas para Solar FV–GC. 

Há a expectativa que o Nordeste se destaque ainda mais com o desenvolvimento de hubs de Hidrogênio Verde na região, que demandam capacidades instaladas de Solar FVe Eólica ainda maiores no futuro.

Acordos bilionários

Segundo a consultoria CELA, especializada em assessoria financeira e consultoria estratégica para empresas e investidores do setor de energia renovável no Brasil e no mundo, os acordos com fusões e aquisições no setor de energias renováveis somam cerca de R$ 50 bilhões acumulados no Brasil nos últimos nove anos.

O estudo traz uma análise agregada dos especialistas da CELA de mais de 190 transações de empresas e projetos relacionados à energia solar fotovoltaica e energia eólica, incluindo as grandes usinas centralizadas (larga escala) e os médios empreendimentos de geração distribuída (até 5 megawatts).   

O relatório mostra que, entre os anos de 2014 e 2023, houve um aumento de mais de 400% no número de transações mapeadas anualmente e um crescimento de mais de 8 vezes na capacidade total (GW) transacionada. 

Somente nos últimos 24 meses, entre 2022 e 2023, foram mapeadas mais de 60 transações, totalizando aproximadamente R$ 25 bilhões e uma capacidade de 30 GW em transações.

Análise de estratégias

“Nosso principal objetivo é orientar análises estratégicas de negócios, fornecendo informações para tomadas de decisão assertivas no mercado de energias renováveis”, explica Camila Ramos, CEO da CELA. 

“A análise do total de transações realizadas anualmente por fonte de energia e ambiente regulatório mostra claramente que os últimos nove anos registraram presença crescente de M&As. Destaca-se a presença mais intensa da geração centralizada de 2014 a 2019, o que se deve, em parte, às iniciativas governamentais voltadas para a popularização das energias renováveis no País, como os leilões de energia renovável”, explica.

Pela análise da CEO da CELA, de 2020 até 2023, o volume de transações se intensificou, por inúmeros motivos, com destaque para o crescimento dos acordos na área de geração distribuída (GD), embora se caracterize por projetos de menor porte. 

“De todo modo, nesse período, houve um reconhecimento do potencial de crescimento e escalabilidade da GD, sobretudo pelas regras mais vantajosas para tais projetos até o final de 2023”, diz.  

Uma década de crescimento de transações

No período de 2014 a 2023 testemunhou-se um aumento constante nas fusões e aquisições de empresas e projetos de energias renováveis no Brasil,indicando um forte interesse e confiança neste mercado por parte dos investidores. Verificou-se tanto um aumento no número de transações ,quanto nos totais de capacidades(MW) e volumes financeiros transacionados (BRL).

Por exemplo, entre os anos de 2014 e 2016 foram verificadas uma média de 11 transações ano,um total de 3,2GW e  1,2 bilhões de reais transacionados, enquanto a média de transações de 2021 até 2023 foi de 29 transações ao ano, um total transacionado de 33,5GW e 29,5 bilhões de reais, o que representa um aumento de mais de 150% na média de transações ao ano, mais de 10x em capacidade transacionada e mais 25 vezes o volume financeiro transacionado (comparações entre 2014-2016 e 2021-2023).

No caso do volume financeiro transacionado, os projetos centralizados, sobretudo da fonte eólica, aparecem de forma mais expressiva, dado o tamanho dos empreendimentos e a potência instalada nas usinas de grande escala. 

“Assim, os valuations totais são diretamente proporcionais à capacidade total transacionada e, consequentemente, mais expressivos para os projetos de geração centralizada”, conclui Camila.