INTERNACIONAL

Lula propõe sentar Putin e Zelensky à mesa e quer NATO, UE e EUA a trabalharem na ideia de paz para a Ucrânia

 

Numa entrevista ao jornalista da RTP Paulo Dentinho, o Presidente brasileiro procurou desenrolar a ideia que envolve a sua visita oficial a Portugal de que a sua posição sobre a Guerra na Ucrânia se inclina para um apoio à Rússia. Lula da Silva rejeitou que seja esse o seu posicionamento, lançando antes a ideia de que é fundamental colocar os países a trabalhar num plano de paz que consiga sentar os líderes russos e ucranianos à mesa com negociações patrocinadas por Estados Unidos, NATO e União Europeia. Sobre a situação no Brasil, Lula fala da necessidade de promover uma política de diálogo que combata a polarização e faça o país regressar à sua verdadeira natureza, que o anterior Presidente, Jair Bolsonaro, procurou destruir com uma polarização extrema. Sobre a polémica da sua vinda a Portugal, diz que “as pessoas não são obrigadas a gostar do Lula ou do Presidente do Brasil” e que tem de respeitar as posições dos portugueses.

O Presidente Lula da Silva procurou esclarecer a posição brasileira relativamente à Guerra na Ucrânia sublinhando que “o Brasil não tem uma posição ambígua”.

“Eu não sei quem é que interpreta (isso dessa forma), o Brasil tem uma posição clara, o Brasil condena a Rússia por invadir o espaço territorial da Ucrânia, ponto”, declarou, para acrescentar que o país não quer “é se alinhar à guerra, o Brasil quer é se aliar a um grupo de países que trabalhem para construir a paz”.

“Se toda a gente se envolve diretamente na guerra, a pergunta que eu faço é a seguinte: quem é que vai conversar sobre paz? Quem é que vai conversar com os governos que estão em guerra para discutir a paz? Quem é que vai dar esse passo?”, questionou Lula, sublinhando a importância de construir um grupo de países que trabalhe no processo para colocar fim ao conflito.

“É preciso construir uma narrativa que convença Putin e Zelensky de que a guerra não é a melhor maneira para resolver os problemas”, afirmou, dizendo que também a NATO, os Estados Unidos e a União Europeia “comecem a falar em paz e a discutir a questão da paz”.

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O tema da guerra e declarações recentes provocaram polémica nos dias anteriores à vinda de Lula da Silva a Portugal, controvérsia a que o Presidente brasileiro responde com uma palavra de aceitação. Lula refere que a opinião das pessoas é um direito que lhes cabe em democracia e que ele se limita a cumprir uma visita a um país irmão com quem o Brasil tem relações privilegiadas.
“Em Portugal também tem uma certa polarização com um lado mais extremista de direita com os outros partidos, mas eu não tenho nenhum problema, eu não vim aqui para entrar na polémica com o Parlamento português”, disse Lula da Silva. “Eu vim aqui para cumprir uma agenda e as pessoas não são obrigadas a gostar do Lula, não são obrigadas a gostar do Presidente do Brasil”.

O período de cativeiro

Questionado sobre o tempo passado na prisão após a condenação a nove anos e seis meses (mais tarde 12 anos e um mês) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal envolvendo um tríplex no Guarujá, Lula da Silva fala num tempo de preparação para o regresso à vida política.

“Fui vítima da mais grave mentira já contada na política brasileira, uma tentativa de me tirar da eleição [presidencial], conseguiram me tirar da eleição”, lamentou o presidente Lula da Silva, referindo-se ao processo de corrupção que determinou a sua detenção por um período de 17 meses, acrescentando que nesse ano e meio aproveitou “para fazer um exercício de paciência, de consciência, para me preparar porque tinha muita certeza certeza que ia voltar a ser Presidente da República, e eu tinha essa vontade porque era precisa consertar o Brasil”.

Lula da Silva sublinhou que “o Brasil que tínhamos construído em três mandatos e meio do PT, um país com a maior inclusão social da história do Brasil, tudo isso foi desmontado. Então eu tinha de reconstruir isso e estou reconstruindo”.

Nesse novo projeto, Lula da Silva admite que a ausência de uma maioria parlamentar do seu partido, o Presidente fala da “arte de conversar” e a capacidade de extrair desse diálogo “o que é melhor para o povo brasileiro”. O contrário desta capacidade de negociar, sublinha, “é uma barbárie anti-democrática” onde se caminha para “um pensamento fascista e autoritário” típica dos negacionistas da política.

“Nós não podemos negar a política” porque “a política é a arte do exercício da democracia e é importante sermos capazes de negociar com os que pensam o contrário”.

Lula da Silva aponta o caminho de uma política de diálogo que combata a polarização e possa “fazer do povo brasileiro aquele povo generoso que sempre foi, que gosta de música, que gosta de futebol, que gosta de ser alegre, que gosta de ser educado e que perdeu isso por causa de um presidente fascista que governou o país durante quatro anos”.

Acabar com a fome no Brasil

O grande projeto político de Lula da Silva, segundo o próprio, assenta numa ideia simples, ainda que difícil de realizar: que todos os brasileiros possam fazer três refeições por dia.

À pergunta do jornalista Paulo Dentinho sobre a forma como pretende acabar com a fome no Brasil, o Presidente Lula, admitindo que atualmente 33 milhões de brasileiros se encontram nessa situação, diz que a questão é solucionar o problema do dinheiro – que existe – mal distribuído no orçamento.


“Cuidar dos pobres é investimento, aumentar o salário mínimo é investimento”.

Relativamente ao perigo de aumentar a dívida, Lula lembra o seu passado em que provou que era capaz de “fazer as coisas sem criar problemas”: “Quando assumi o cargo de Presidente em 2003 a inflação era de 12,5%, nós levámos para 4,5%, o desemprego era 12% e nós reduzimos para 4,3% gerando 22 milhões de empregos. Uma dívida interna de 67%, nós diminuímos para 37%”. Uma dívida ao FMI de 30 biliões de dólares e nós não só pagámos a dívida, como ainda emprestámos 15 biliões ao FMI e constituímos uma reserva internacional de 370 biliões”.

“Responsabilidade nós temos e vamos colocar em prática”, assegurou, falando de um governo e um Presidente que garanta credibilidade para gerar “a riqueza de que precisamos”.

“Esta é a sua casa”, diz António Costa. “O Brasil está de volta”, responde Lula da Silva

por RTP
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FOTO: Ricardo Stuckert

Terminou sem perguntas a sessão de discursos do presidente do Brasil, Lula da Silva, e do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, no final da XIII Cimeira Luso-Brasileira que decorreu no Centro Cultural de Belém este sábado.

Uma data, 22 de abril, escolhida por Lula da Silva, para retomar as cimeiras entre os dois Estados, interrompidas durante o Governo de Jair Bolsonaro e a pandemia de Covid-19, por ter sido nesse dia que, em 1500, os primeiros portugueses chegaram ao Brasil.

Após a assinatura de 13 protocolos e acordos em áreas tão diferentes como a ciência, o audiovisual e a Justiça, António Costa tomou a palavra para garantir que “viramos uma página”, prometendo que estes encontros passarão a ser anuais.

O primeiro-ministro português considerou ser uma “honra” receber Lula da Silva, agradecendo ao presidente brasileiro a primazia dada a Portugal na sua primeira visita à Europa desde que foi reeleito. “Esta é a sua casa” afiançou.

Lula da Silva respondeu que sai “muito feliz” da Cimeira aproveitando para frisar o papel central de Portugal nas relações brasileiras com a África lusófona, países a quem o Presidente demonstrou um profundo “agradecimento” por todo o legado.

“Como é possível não reconhecer a importância de Portugal”, porta “de entrada” na Europa, questionou Lula da Silva, ao fazer um balanço negativo do legado do seu antecessor, Jair Bolsonaro.

O presidente brasileiro frisou que “estamos a reconstruir” o que foi “destruído” pelo Governo de Jair Bolsonaro, que comparou a um bando de “gafanhotos num milharal”.

Agora, “o Brasil está de volta”, para melhorar a relação e “partilhar as oportunidades de crescimento”, prometeu o chefe de Estado brasileiro, cuja política futura com Portugal passa por “construir a política de compartilhamento, de sociedade, para que as empresas possam crescer juntos”.

Só assim será possível “dar ao Brasil um lugar no mundo que ele já devia ter conquistado”, acrescentou Lula da Silva. “Não é possível que em 500 anos o Brasil não tenha merecido uma chance de crescer”, lamentou.

Anunciando diversos pontos do seu programa de governo incluindo investimento em obras iniciadas que ficaram paradas no anterior mandato, Lula da Silva sublinhou que “nós provamos que é possível fazer o nosso país crescer”.
“Incentivar parcerias”
Antes, António Costa referira que “temos muita matéria para trabalhar em conjunto”, sobretudo no mais importante, “as pessoas”.

Os acordos assinados esta tarde estabelecem diversas vias-rápidas entre os dois países em matérias como o ensino, com a “concessão de equivalência do ensino básico e secundário”, a Justiça, desde o “reconhecimento mútuo das cartas de condução” à proteção de testemunhas e ao combate à xenofobia e o racismo.

António Costa lembrou simbolicamente os lados que unem Brasil e Portugal e frisou o “estreitamento das relações económicas entre Portugal e o Brasil”. “Entre Sines e Fortaleza que estão os cabos de amarração dos cabos de fibra ótica” que ligam o continente europeu e a América do Sul, referiu.

“Incentivar as parcerias”, em domínios tão variados como a energia e da geologia ou o turismo, foi o grande objetivo. O primeiro-ministro português lembrou mesmo que “as empresas portuguesas têm investido fortemente no Brasil” e revelou iniciativas futuras.

“A EDP e a Galp vão investir nos próximos anos 5.7 mil milhões de euros em projetos energéticos no Brasil” anunciou António Costa, lembrando o papel da EDP na investigação do hidrogénio verde que decorre no Brasil e antevendo grandes vantagens para ambos os Estados nesse setor.

Outras áreas beneficiam igualmente de novos acordos, como a cultura, com a assinatura de um protocolo na área cinematográfica, e a ciência, “quer entre as agências espaciais, quer para os projetos de investigação em bio-medicina”.

Reforçar a cooperação entre os países no âmbito da CPLP, da Mercosul e das Nações Unidas, sobretudo quanto à importância do idioma português no mundo, foram outras áreas focadas por António Costa.
O primeiro-ministro saudou “a nova vontade do Brasil de participação plena e efetiva no quadro da CPLP”, dizendo que esta comunidade “ficará sempre incompleta se não tiver o Brasil”.

“É um país fundamental, visto que é mesmo o país dominante da língua portuguesa à escala global”, apontou.


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