Por Edinho Barbosa

Em 2002, num momento de grande sensibilidade do meu sócio à época, Sérgio Guerra (pensador da vida, fotógrafo, produtor cultural, publicitário) a Link, nossa agência de propaganda, patrocinou a produção do disco de Elza Soares, “Do Cóccix Até O Pescoço”, com direção artística de Zé Miguel Wisnik e produção de Alê Siqueira.

O disco é considerado um marco inovador na produção fonográfica brasileira, por quem entende do assunto. Foi indicado ao Grammy, entre outros merecidos reconhecimentos de valor.

O lançamento dessa obra registrou, no meu modo de ver, uma restauração de Elza, como artista plural e ser humano, vista por si mesma. Encontrei-a no camarim, depois do show no Teatro da Casa do Comércio, em Salvador.

Ela rivalizou com todos os instrumentos naquele dia, estava siderada pela música, o canto, o sentimento. Foi como se todos nós, na plateia, nos transportássemos para dentro de uma tremenda  bolha de som, poderosíssima, uma catarse.

Seus  olhos me fuzilaram de alegria, dedo em riste, “…e aí baiano, goxxtou?”, aquele acento carióóca delicioso. Não me fiz de rogado, “…a mocinha tá aceitando convite de noivado”? Menina sapeca, num corpo de senhora, pulou,  enganchou-se na minha cintura, e agarrou-me pelo pescoço num abraço inesquecível, “…noivado não, que eu não tenho mais tempo pra perder” e soltou uma gargalhada deliciosa.

Extasiado, eu me senti o próprio motorista do filme “Conduzindo miss Dayse”, ao levá-la para o hotel, junto com Virgilio Carvalho, querido amigo e produtor do show na Bahia, num projeto conduzido pelo também produtor Cultural, Dalmo Perez.

Hoje, Elza foi encontrar-se com Garrincha no céu. Aqui na terra, batem os tambores, morreu uma das maiores, quem sabe a mais emblemática brasileira raiz da cultura popular em forma de musica, uma das grandes cantoras de todo o mundo, uma cidadã, negra, consciente da sua identidade amorosa e libertária, que eu tive a felicidade de conhecer tão de perto, naquele dia.