BRASIL

Acordo judicial pode ter abastecido caixa 2 tucano

A Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), estatal de São Paulo, pagou R$ 191,6 milhões a uma controlada da Odebrecht entre 2009 e 2011. A época da celebração do acordo, que colocou fim a uma longa disputa judicial, coincide com as menções feitas por dois delatores da empreiteira envolvendo pagamento de suposta propina de R$ 23 milhões para a liberação dos recursos. O ex-presidente da holding, Pedro Novis, e o ex-diretor superintendente Carlos Armando Paschoal afirmaram que a propina teria servido para abastecer a campanha presidencial tucana de 2010, à qual o então governador de São Paulo José Serra concorreu como cabeça de chapa.

As informações são de reportagem de Estevão Taiar, Luciano Máximo e André Guilherme Vieira no Valor.

"A dívida envolvia a empresa de companhia mista do Estado e a CBPO Engenharia, construtora da Odebrecht, pelas obras das rodovias Carvalho Pinto e Dom Pedro I. Os relatos estão no inquérito 4.428 das investigações da Operação Lava-Jato. Os documentos que podem corroborar a história constam do balanço de 2008 apresentado pela Dersa e do acordo judicial entregue por Novis e Paschoal no Ministério Público Federal.

'[A capacidade de doação da empresa estava] estava diretamente ligada às obras no Estado, sobretudo à regularidade dos pagamentos, que também era um problema", diz, em delação, o ex-presidente da Odebrecht Pedro Novis, que morava perto de Serra em São Paulo e apelidou o atual senador tucano de "Vizinho" nos registros de pagamentos ilícitos da empreiteira.

O acordo que terminou a batalha judicial foi fechado sob supervisão do juiz da 33ª Vara Cível do Foro Central da capital paulista, e foi assinado por representantes das duas empresas, entre eles Benedicto Júnior, o BJ, um dos protagonistas da Odebrecht na autorização e distribuição de caixa dois e propinas à classe política.

As demonstrações contábeis da Dersa de 2008 confirmam o fim da dívida, referente a obras nas rodovias Carvalho Pinto e Dom Pedro I com atrasos de pagamento de mais de 15 anos antes. "A companhia [Dersa] pagará o valor acordado em 23 parcelas, sendo as primeiras 12 no valor de R$ 8,33 milhões. Após 12 meses, as partes computarão correção monetária calculada pelo IGP-M e juros de 0,5% ao mês calculados sobre o saldo devedor."

Novis conta que o então presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), morto em 2014, teria pedido R$ 30 milhões para a campanha de Serra, mas teriam sido liberados R$ 23 milhões. Tanto ele quanto o delator Carlos Armando Paschoal, ex-diretor da Odebrecht, deixaram claro que o pacto tinha total anuência de Serra. "Não há discussão. Se o cara disser que não é dele… Cheguei a conversar [com Serra], que me confirmou tudo", garantiu Novis."


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