RIO GRANDE DO NORTE

Audiovisual potiguar na mira da televisão

Inicialmente pensado para ser uma série, “Três Vezes Maria” virou um curta viabilizado pelo edital Cine Natal 2013. Três anos depois, a ideia original pode ser levada adiante para ser exibida não apenas na televisão brasileira, mas chilena também. O caminho é uma das novas apostas do audiovisual potiguar e vai na rabeira da Lei nº 2.485, de 2011, mais conhecida como a Lei da TV Paga, que há cinco anos tem ajudado a fomentar a produção independente brasileira obrigando a inserção de programas, filmes e séries documentais e de ficção na programação dos canais por assinatura. No caso da TV Chilena, a espera é para a realização e exibição primeiro na TV brasileira, quando só depois, poderia comprar adquirir os direitos de transmissão no Chile.

Se a lei abriu as portas para a televisão, o suporte financeiro para a produção veio com o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro (PRODAV), via Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), do Governo Federal. Mas para pleitear os recursos, é preciso o acordo de licenciamento com os canais. Coisa que a diretora de “Três Vezes Maria”, Marcia Lohss, está buscando com a TV Universitária. “Fechando o acordo com a TVU daremos entrada no FSA para conseguir o investimento”, diz.

A série, uma realização do coletivo Caboré, narra a história de três Marias que vivem num prostíbulo no interior do RN, onde dividem seus dramas pessoais com uma rotina de álcool e sexo, num local hostil. Segundo Marcia, é uma história de “lealdade e força de três mulheres”. Orçada em R$ 1 milhão, a série será de oito episódios. “Se a TV se resolver até o final de novembro, acredito que em março daremos início a pré-produção. Vamos utilizar praticamente o mesmo elenco do curta, mas teremos que ampliar com a entrada de novos personagens”, comenta.


DivulgaçãoMárcia Lohss: Curta vai virar série e desperta interesse de tv chilenaMárcia Lohss: Curta vai virar série e desperta interesse de tv chilena

A jornalista Dênia Cruz é outra realizadora potiguar que também pleiteia a verba do FSA e está com negociações avançadas com uma Programadora de TV nacional, que por motivos burocráticos, não pode revelar o nome. Seu projeto é de uma série documental sobre o cinema independente brasileiro. “Queremos mostrar o que é fazer cinema independente no país. A ideia é percorrer festivais em nas cinco regiões do Brasil”. O número de episódios nem o orçamento estão fechados porque tudo está sendo decido em conversas com o canal interessado. Além da série, ela está com um projeto local contemplado no edital Cine Natal (Leningrado).

Dênia é presidente da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas do Rio Grande do Norte (ABDeC/RN). Ela acredita que a aposta de realizadores potiguares na televisão é um caminho natural, tendo em vista os recursos federais para a área. “Dinheiro tem e não é usado todo. Atentamos para isso depois que estados vizinhos, como Pernambuco, Paraíba e Ceará”, comenta, lamentando o desconhecimento dos realizadores locais com relação ao mecanismo de financiamento. “O grande desafio é fazer mais produtores locais a ter acesso a esses recursos”.

Recursos para o Nordeste
A situação é tão oportuna, que Dênia cita uma situação que está acontecendo. “Como a concorrência no sudeste é grande e no nordeste está a maior fatia dos recursos, tem produtores do Rio e São Paulo abrindo filiais na região para concorrer aos recursos por aqui”, diz.

DivulgaçãoDênia Cruz Skaff: “O Nordeste está com a maior fatia de recursos”Dênia Cruz Skaff: “O Nordeste está com a maior fatia de recursos”


Para ela, ter acesso a esses recursos é também um passo adiante em amadurecimento que os realizadores locais dão. “O audiovisual tem um potencial econômico enorme. Envolve profissionais de várias linguagens. Impulsiona a cadeia criativa e dá para ser sustentável”, reflete. Nesse caminho, Dênia ressalta a importância de parcerias com produtoras locais, mais voltadas para o mercado publicitário, mas que podem entrar na história com estrutura. No caso da jornalista, a parceria é com a produtora Prisma, que além de Dênia, também tem parceria com outros três projetos e desenvolve um próprio.

Quem responde por essa área da Prisma é a jornalista Catarina Doolan. Ela explica que o interesse de trabalhar com realizadores locais parte da experiência própria dela, com a produção do curta “Vivi”. “Com meu curta constatei que existe mecanismo para viabilizar a produção. Entrei em contato com quem estava produzindo. E rolou essa aproximação”, diz.

Para ela, quem está no mercado publicitário não percebe a cena audiovisual crescendo. “A dinâmica do mercado está mudando. Há realizadores trazendo projetos fantásticos.  Passa pelo desejo da Prisma buscar novos mercados. E já há esses mecanismos de financiamento, então por que não?”, comenta.

Sob os cuidados de Catarina,  na Prisma estão cinco projetos de longa e série, sendo um seu. Com essa carteira ela tem participado de rodadas de negócios com programadoras de tv para fechar contratos de licenciamento, que permitiriam viabilizar o financiamento pelo Fundo Setorial Audiovisual. “O projeto tem que estar redondinho. Para tanto, temos unidos esforços, entre realizadores e produtora para desenvolver toda a parte de orçamento, logística. É investimento de tempo, não só de dinheiro”.

Ela conta que temos dois projetos em negociação a nível nacional – um é o de Dênia. “Estamos lidando com questões burocráticas então não podemos divulgar nada, só quando estiver tudo fechado”, diz. “Quero dar prosseguimento a outros projetos da carteira, para abrir espaço para que venham outros. É assim que dá para fazer a cena girar”.

Roteiro
Além dos recursos para produção de filmes, documentários e série, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro (PRODAV), do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) também destina verba para o desenvolvimento de roteiros. É o caso do realizador Andre Santos, do Coletivo Caboré, que foi contemplado pelo fundo para desenvolver o roteiro do longa de ficção “Todas as cores do branco”.

Tribuna do Norte


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