BRASIL

Deputados fiéis a Eduardo Cunha são avessos a Dilma e sentem saudades de Lula

A tarefa da presidente Dilma Rousseff de isolar o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), orientada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não é tão simples. No embate com o Planalto, seguidores fiéis de Cunha repetem como mantra que a bancada na Câmara nunca esteve tão coesa sob qualquer outra liderança anterior. Esta união se dá em torno da resistência à falta de “jogo de cintura” da presidente Dilma Rousseff e o consequente sentimento de que “no tempo de Lula não era assim”.

“Lula era mais habilidoso. Ele, pelo menos, ouvia a gente, ou fingia que ouvia”, ressente-se o deputado Osmar Terra(PMDB-RS), que no ano passado disputou a liderança do partido na Câmara com Cunha, mas depois se rendeu ao líder peemedebista. “Às vezes, Lula até modificava alguma coisa em seu pensamento. Dilma não modifica nada, ela impõe”, reclamou o deputado.

Ignorar Eduardo Cunha nas decisões sobre alianças, cargos e votações, para os seguidores do líder peemedebista, seria o maior erro do governo já que significaria também isolar a base na Câmara e comprar inúmeras brigas nas votações de matérias de interesse do governo e vetos presidenciais.

Alimentam o apoio ao líder, os arranjos políticos locais que não obedecem à parceria prioritária no plano nacional entre PT e PMDB para a reeleição de Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer.

Osmar Terra encampou a candidatura do ex-prefeito de Caxias do Sul José Ivo Sartori (PMDB) contra a candidatura à reeleição do governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro (PT). Na semana passada, o PMDB confirmou Sartori como pré-candidato.

Neste contexto, até o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), está inserido. Bastante próximo de Eduardo Cunha, enquanto a crise se avolumava, Alves trabalhava para consolidar sua candidatura ao governo do Rio Grande do Norte. Na aliança para a chapa majoritária, o presidente da Câmara exclui o PT e conversa para fechar com o PSB e o PSDB, partido dos adversários de Dilma na corrida presidencial, Eduardo Campos e Aécio Neves.

Na última terça-feira (18), após o líder peemedebista ter adotado uma atitude menos ofensiva em relação ao Planalto, Alves ofereceu um jantar para deputados peemedebistas e petistas, na residência oficial da Câmara, com o pretexto de “acalmar os ânimos”, com Eduardo Cunha.

Outro fiel escudeiro de Cunha é o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que está em seu primeiro mandato e não esconde que temia o líder do PMDB quando chegou à Câmara. “Ele tinha fama de bicho papão”, brinca o deputado.

Lúcio é irmão do ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que vem articulando sua candidatura ao governo do estado, em oposição à chapa apoiada pelo atual governador, o petista Jaques Wagner.

O deputado Danilo Forte (PMDB-CE) também se destaca no apoio ao líder peemedebista. No retorno do feriado do Carnaval, coube a Forte elaborar a nota de desagravo a Cunha, em reação aos ataques mútuos entre o líder peemedebista e o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Para o deputado, as ações do líder apenas refletem a total insatisfação da bancada com a forma com que a presidente Dilma tem conduzido a política. “Ele tem falado em nosso nome”, destacou.

Forte também enfrenta um ambiente de divergência com o PT no Ceará e ficou irado com a atitude da presidente Dilma de oferecer ao senador Eunício Oliveira o Ministério da Integração Nacional. O PMDB quer lançar no Ceará a candidatura de Eunício ao governo. Já Dilma quer apoiar a candidatura que será lançada pelos irmãos Cid e Ciro Gomes (PROS), por isso, ofereceu a pasta ao senador.

Já o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), outro aliado de primeira hora de Cunha, tem alimentado o rompimento do PMDB do Rio com Dilma e ajudado a levar o partido a montar o palanque do senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Ele encara o embate com o Planalto como uma questão de “sobrevivência política” dos deputados do PMDB e condena o tratamento dado pelo Planalto ao líder.

“É uma questão de sobrevivência política dos deputados do PMDB que não são chamados para discutir nada”, defende o deputado. “Eduardo Cunha sempre deixou claro que sua atuação era como bancada. Ninguém teve dúvidas disso”, destacou.

O mesmo argumento é defendido pelo deputado Colbert Martins (PMDB-BA). Ele reclama que a presidente Dilma Rousseff excluiu o PMDB de todas as decisões importantes do governo e que, nas eleições, será impossível para os candidatos apresentarem seus feitos ou defenderem projetos que foram implantados pelo governo.

Após as rusgas entre Cunha e o PT, que viraram bate-boca nas redes sociais durante o Carnaval, Martins liderou a articulação para convocar uma convenção do partido com o objetivo de desobrigar os diretórios estaduais e municipais a reproduzirem a aliança nacional entre PT e PMDB. Ele também não esconde a preferência por Lula. “Com Lula, havia outra forma de representação. O partido era ouvido, o que não acontece mais”, reclamou.


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