BRASIL

Itaquerão pode ter prazo adiantado, mas atraso compromete teste pré-Copa

Danificada por conta da queda de um guindaste em parte da cobertura, no dia 27 de novembro, que vitimou dois operários, a Arena Corinthians teve seu prazo de conclusão esticado para 15 de abril, a menos de dois meses para o jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014, entre Brasil e Croácia, que será no local. Há, no entanto, a expectativa de entrega antes do previsto, já que o panorama das obras passado pela construtora Odebrecht é preliminar, segundo Ricardo Trade, diretor-executivo do Comitê Organizador Local (COL).

"Segundo os engenheiros que estavam lá essa é uma posição preliminar. Não foram feitos todos os estudos, então eu aguardaria para dizer, mas sou confiante de que isso possa mudar um pouquinho. Hoje trabalhamos com 15 de abril", disse Trade ao iG Esporte na Costa do Sauípe, resort que recebeu o sorteio dos grupos da Copa de 2014, na última sexta-feira.

Como concluir a obra antes de 15 de abril ainda não é realidade, o COL, os governos locais e os responsáveis pelo estádio do Corinthians acertam detalhes para realizar um evento-teste assim que possível. Mas o atraso no cronograma provocado pelo acidente pode fazer com que alguns ítens da logística não sejam ensaiados até a abertura. "Vamos testar a operação externa, transporte, segurança, utilização de trem e metrô, sinalização de acesso. Esse sistema nós temos de testar e vamos testar, vai dar tempo. O Maracanã foi entregue em junho para a Copa das Confederações, embora não seja o modelo ideal. Conseguiremos fazer um evento-teste em São Paulo, talvez não testando 100% das operações, mas a maioria delas", confirmou Trade, que destacou a tradição da cidade em receber eventos como fator positivo apesar dos contratempos.

"São Paulo tem experiência de operação de estádios, de jogos, de operação de grandes eventos, então para nós adaptar São Paulo não é muito difícil. Além disso, tem uma coisa que é impressionantemente boa: o gramado (da Arena Corinthians) está colocado faz três meses. Sem criticar, Brasília tem o estádio mais bonito por dentro na minha opinião, mas a entrega do gramado tardio atrapalhou um pouco o espetáculo na Copa das Confederações. Em São Paulo isso é uma vantagem enorme."

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Entre os outros cinco estádios ainda em obras, a Arena da Baixada, em Curitiba, só deve ficar pronta em fevereiro. Os demais – Arena da Amazônia, Arena Pantanal, Beira-Rio e Arena das Dunas, serão entregues em janeiro. Todos também passarão por eventos-testes visando a Copa de 2014. Como os locais ficam à disposição da Fifa a partir de 25 de maio, o COL trabalha com um prazo de 45 dias para simular situações de jogo nas seis arenas.

A responsabilidade de definir como serão esses eventos-testes é das sedes. Nenhum deles deve receber a seleção brasileira, que tem apenas um amistoso previsto antes da Copa, em março, contra a África do Sul, em Johanesburgo. "A ideia não é usar a seleção principal, mas ainda não está acertado isso. A gente quer tentar uma seleção brasileira sub 20 ou feminina, mas depende muito da atração que a cidade quer levar, com a data que achar a ideal. Cada um faz como quer, e a gente não interfere. Eles fazem e a gente dá o suporte", explicou o chefe do COL.

As outras seis sedes com estádios prontos, e já testadas durante a Copa das Confederações – Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Salvador, Recife e Rio de Janeiro – deverão passar por novo ensaio, focados na logística fora de campo, como fechamento de ruas, sinalização e acessos, entre outros.

O posicionamento de algumas autoridades após o acidente na Arena Corinthians, de parecer mais preocupadas com o atraso que isso pode gerar à Copa e com a imagem do Brasil no exterior do que com as vidas humanas perdidas, gerou críticas da opinião pública. Ricardo Trade discorda dessa impressão, e garantiu que não houve pressão por parte da Fifa ou do COL por agilidade nas obras, antes ou depois da fatalidade.

"São quatro acidentes de trabalho até hoje, um número que a gente não queria ter: um em Manaus, um em Brasília e dois em São Paulo. Temos um índice, se você parar para pensar, 12 estádios e mais ou menos 3 mil trabalhadores em cada um deles, e somente quatro acidentes… Não é somente, porque vida humana não é só, não tem jeito, sempre é muito, quatro é muito, você não está na pele da família que perdeu a pessoa e é muito, não podemos dizer isso", disse Trade, à frente do COL desde 2010, antes de concluir o raciocínio:

"Ouvi gente dizer que a Fifa mandou acelerar a obra e isso causou o acidente. Pelo amor de Deus, não houve nada disso em momento algum, as companhias são autônomas e fazem o que quiserem, são competentes. Não vi em nenhum momento preocupação com atraso, a primeira coisa que se falou sempre foi do falecimento das pessoas, com a construtora garantindo todo o suporte às famílias. A preocupação inicial era discutir as mortes, como foi. Garanto: da parte do COL, da Fifa, da CBF, da Odebrecht, das pessoas com quem dialoguei, dos governos, em nenhum momento vi preocupação maior com a Copa do que com as vítimas. O poder dessas construtoras não nos preocupa, elas têm capacidade de recuperação rápida, deslocam pessoas, têm recursos. Isso nos dá toda a tranquilidade para se preocupar em primeiro lugar com as vidas humanas, e não com prazos."

 

iG


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