BRASIL

Transposição: “Nunca pensei que teria a felicidade de ganhar casa e terreno”

(Foto do sr. José Manoel da Silva, 76 anos, e a família foram beneficiados pelo Programa de Reassentamento do projeto São Francisco que recebeu um lote produtivo irrigado. Foto: Guilherme Rosa/Blog do Planalto)

José Manoel da Silva, 76 anos, morava de aluguel em um pedaço de terra, nos arredores de Penaforte (CE), quando ficou sabendo que os canais do Projeto de Integração do São Francisco (PISF) iriam passar pelo terreno em que ele plantava milho, feijão e arroz. A preocupação inicial deu lugar à alegria. José, assim como as famílias que trabalhavam nos terrenos desapropriados, foi um dos beneficiados por uma Vila Produtiva Rural (VPR), que faz parte do Programa de Reassentamento de Populações do projeto São Francisco.

Mesmo sem ser dono da terra antiga, José recebeu um lote urbano na Vila Produtiva Retiro, em Penaforte mesmo, com meio hectare (500m2) e uma casa construída de 100m2, além de um lote produtivo de, no mínimo, 5 hectares, com uma parte irrigada. Há poucas semanas na casa nova, o agricultor comemora a mudança em sua vida. “Coisa que eu nunca pensei na minha vida era eu chegar, depois de velho, a ter a felicidade de ganhar uma casa e um terreno para trabalhar. Eu trabalhava para os outros e agora vou trabalhar em cima do que é meu”.

O lote urbano já tem água saindo da torneira para uso diário e começar a produzir no quintal de casa, mas ainda não é suficiente para começar a cultivar no terreno produtivo. Por isso, José terá que esperar chegar água dos canais do PISF, o que deve ocorrer no ano que vem. O primeiro passo será dado nesta sexta-feira (21) quando a presidenta Dilma Rousseff entregar a primeira Estação de Bombeamento (EBI-1) do Eixo Norte, em Cabrobó (PE). Até lá, José e as outras famílias vão receber uma bolsa de um salário mínimo e meio para se manterem. “Essa ajuda está boa demais. Estou usando para fazer a feira, ajudar os filhos”, disse.

Ao lado de sua esposa, Rosa Maria da Conceição, e dois dos nove filhos, José faz planos para seu terreno novo. “Aqui vou plantar feijão e milho quando chover. Quando o tempo melhorar, tiver a água e criar pasto, eu vou comprar uma vaquinha boa de leite, comprar umas galinhas, fazer um quintalzão bem feito aqui”, planeja.

No total, 847 famílias serão beneficiadas entre 18 vilas, sendo que 80% delas não trabalhavam em terra própria. Nove vilas já foram entregues recentemente. O restante será finalizado até o final do ano. Toda as VPRs possuem rede de água, energia elétrica e esgoto, posto de saúde, escola, espaço de lazer e áreas destinadas ao comércio.

De acordo com a coordenadora geral de programas ambientais do Ministério da Integração, Elianeiva Odísio, a Vila Produtiva Rural, além de dar toda a infraestrutura para os moradores que estavam na área do PISF, diminui o impacto da seca nas famílias. “Se eles têm um lote que podem produzir com irrigação, eles não vão sofrer tanto o impacto da seca no Nordeste”. Elianeiva disse ainda que as famílias recebem acompanhamento social e capacitação para geração de renda e gestão ambiental, como cursos de técnicas de produção e uso racional da água.

Sonho realizado
A agricultora Jeane Gomes, 39, passou dificuldade com o marido e seus dois filhos quando o dono do terreno em que eles plantavam faleceu. Por conta disso, eles tiveram que ficar um período sem poder cultivar no terreno, deixando a família sem ter de onde tirar o sustento. Quando Jeane passou a ser uma das moradoras da Vila Produtiva Retiro, ela teve o seu sonho realizado.

"Ter uma casa, a possibilidade de trabalhar a terra para a nossa sobrevivência, é muito bom", diz Jeane Gomes. Foto: Guilherme Rosa/Blog do Planalto

“Ter uma casa, a possibilidade de trabalhar a terra para a nossa sobrevivência, é muito bom”, diz Jeane Gomes. Foto: Guilherme Rosa/Blog do Planalto

“Essa casa aqui, e tudo que vem junto, é um grande sonho realizado pra gente. De uma infância pobre, de uma vida de muita dificuldade, hoje a gente ter uma casa e ter qualidade para morar com a família, e ter a possibilidade de trabalhar a terra, de criar animais para a nossa sobrevivência, é muito bom. Um sonho realizado, um sonho de uma vida”, conta a agricultora.

Em seu terreno, Jeane pretende criar uma horta orgânica. Já no lote produtivo, ela tem vontade de plantar uva, tomate e coentro. “A gente espera realmente poder cultivar a terra. E as possibilidades de poder ter uma cultura diversificada para consumo interno e para a cidade, até para revender para fora. (…) Então isso faz com que a gente tenha um novo sonho agora”.

Quando a água chegar, Ronaldo quer cultivar verduras e vender na própria comunidade, além de gado e ovelha.  Foto: Guilherme Rosa/Blog do Planalto

Ronaldo quer cultivar verduras e vender na própria comunidade. Foto: Guilherme Rosa/Blog Planalto

Verdura barata
Nascido e criado no povoado de São Joaquim, Ronaldo Ferreira Rocha, 46 anos, já está acostumado com a nova casa na Vila Produtiva Retiro. “Lá a morada era boa, só que, no caso, como a gente mudou para cá, é bem melhor. Não é nem de se comparar. Eu estou muito feliz e acho que todos os moradores daqui devem estar muito felizes com isso”.

Quando a água chegar, Ronaldo quer cultivar verduras e vender na própria comunidade, além de gado e ovelha. “A verdura plantada aqui na Vila Retiro vai sair uma verdura bem melhor, mais barata e novinha, diferente da verdura que vem de longe, que vem muito sofrida. Aqui vai ser uma verdura bem mais produtiva e com melhor preço para todo mundo”.


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