BRASIL

Comunidade é erguida em área ferroviária do Recife

Onde antes havia apenas mato, lixo e animais decompostos, agora há estacas batidas, enxadas na mão e um desejo em comum: a garantia de uma moradia. Desde o dia 1º de maio, diversas famílias levantam barracos em um terreno localizado na Avenida Sul, na área central do Recife, sob o pontilhão do metrô. Maioria proveniente do Coque, as cerca de 450 pessoas se acomodam no local que é da União, de responsabilidade da Ferrovia Transnordestina Logística.

A emergente comunidade é orientada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). No início da invasão, a Polícia chegou a intervir, sem violência, mas logo a situação se abrandou, a partir do diálogo dos líderes dos moradores com representantes do Governo. “Encaminhamos, na última sexta (16), um ofício ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência). Estamos nos articulando com os órgãos competentes. Já tem gente dormindo aqui, alguns barracos já estão com energia e água. Só queremos moradia”, contou um dos representantes dos moradores, Max Brannyack, integrante do MLB.

Crianças, mulheres, idosos; todos ajudam, de algum forma, na construção de barracos erguidos em tábuas, cobertos muitas vezes apenas por lonas. A comunidade tem até nome: Vila Sul. Segundo o morador Marlon Macartny, também engajado no MLB, alguns espaços já estão direcionados para uma área de lazer, além de uma creche para as várias crianças da comunidade. O êxodo das famílias do Coque se deu, principalmente, pelo alto custo dos alugueis de barracos e casas.

“No Coque está muito caro. Eu pagava R$ 300 reais de aluguel num barraco. Agora minha mulher está grávida. Eu só quero ter um lugar para morar. Mesmo se não for aqui, que seja em outro local. O que eu não quero de jeito nenhum é auxílio-moradia. Um dia você recebe, no outro não. Eu quero ter garantia”, explicou Marlon. Ao caminhar por entre as novas habitações, o morador aponta as várias ossadas de animais encontradas no terreno. “Deviam fazer desova de animais por aqui. Aqui, por exemplo, tem um cheiro horrível. Deve ter coisa enterrada por aí”, diz ao indicar um ponto com lixo amontoado.

Há casas improvisadas embaixo do elevado pelo qual passa o Metrô do Recife e também ao lado de uma linha férrea. Segundo os moradores, após a chegada das famílias, a linha que estava inativa voltou a ser utilizada. “É para nos intimidar”, aponta um dos moradores. De acordo com os integrantes do MLB, o superintendente do Patrimônio da União em Pernambuco, Paulo Ferrari, está em contato com a comunidade para resolver a situação.

“A legislação diz que toda terra da União que não tem função social deve ser cedida para habitação da população. Estamos nos reunindo periodicamente para discutir a situação”, afirmou o coordenador do Movimento de Luta nos Bairros, Serginaldo Santos. Para encaminhar aos órgãos competentes dados organizados sobre a comunidade, todos os moradores serão cadastrados e os barracos enumerados.

Posicionamento – O Portal LeiaJá entrou em contato com a Ferrovia Transnordestina Logística e confirmou a responsabilidade contratual pela guarda e vigilância dos bens do terreno, através do contrato de arrendamento nº071/97. Em nota, a entidade afirmou que “tem a obrigação de adotar todas as medidas cabíveis para evitar a ocupação ilegal da faixa de domínio”. Segundo a Transnordestina, medidas judiciais já estão em andamento para garantir a integridade das áreas da União que estão sob sua responsabilidade. 


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