POLÍTICA

Estratégia da oposição é sangrar ainda mais Dilma

Se dependesse do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), a oposição apresentaria nesta segunda-feira, sob os ecos da delação premiada de Ricardo Pessoa, da UTC, um pedido de abertura de impeachment contra a presidente Dilma. Alegação: financiamento da campanha eleitoral com recursos derivado da corrupção na Petrobrás. Não imposta que a doação de R$ 7,5 milhões pela UTC tenha sido legal e declarada, que a campanha de Aécio Neves tenha recebido R$ 8,3 milhões da mesma fonte e que Ricardo Pessoa tenha espalhado brasas sobre políticos de dez partidos e sobre alguns catões do TCU.

Caiado, entretanto, terá que conter sua ansiedade. O alto comando da oposição, nas confabulações deste final de semana, avaliou que ainda não é hora de tentar o golpe final. Para que ele seja exitoso, no resumo de um deles, “Dilma ainda tem que sangrar mais, pelo menos até setembro/outubro”. Se a Lava Jato continuar fazendo jorrar lama e a produzir espetáculos como o das prisões de empresários, mesmo violando ordenações jurídicas, se a mídia continuar costurando a narrativa do descalabro moral, se o Congresso seguir minando o ajuste fiscal, se a economia já combalida continuar piorando, no final do terceiro ou início do quarto trimestre deste ano a situação estará em “ponto de bala” para o impeachment, um processo que exige povo da rua.

As manifestações já ocorridas, para estes pensadores da solução final, não demonstraram a consistência necessária. Foram capitaneadas por movimentos de traço ideológico muito nítido, como os direitistas VempraRua e Movimento Brasil Livre. Um impeachment exige mobilizações mais espontâneas, mais fortes, mais amplas e menos partidarizadas, como as que marcaram o impeachment de Collor. Mas com a economia piorando, elas podem voltar no segundo semestre com estas características.

Outro problema estaria na perspectiva de substituição de um governo petista por um do PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, que assumiria no lugar de Dilma. Itamar Franco, como vice de Collor, já havia deixado o PRN, estava sem partido e divergia publicamente do titular da Presidência. Não é o caso de Temer, que pode ter uma boa imagem pessoal mas é a maior liderança do PMDB, partido que é rejeitado pelas vanguardas formadoras de opinião. E até agora, Temer mantém-se comprometido com o governo Dilma, do qual é coordenador político. Esta situação não favorece o impeachment. Não sinalizaria uma ruptura capaz de inspirar um grande movimento de massas. A não ser, é claro, que se partisse para a criminalização da chapa Dilma-Temer, mas este seria um movimento mais complicado. Afora as dificuldades jurídicas para incriminar o vice, que nada teve a ver com arrecadação de fundos de campanha, como ainda não se teriam passado dois anos de governo, haveria nova eleição presidencial. E esta hipótese, é claro, não teria o apoio do PMDB.

Mas tudo isso poderia mudar até o final do ano com uma continuada sangria do governo Dilma. A substituição por Temer deixaria de ser vista como troca de seis por meia dúzia para soar como única saída. Em resumo: com o país no fundo do poço e o povo na rua, as condições políticas estariam criadas e os entraves jurídicos seriam mais facilmente contornados. Como foi com Collor. Iriam para o segundo plano questões formais, como o fato de que as doações da UTC e de outras empreiteiras para a campanha de Dilma foram oficiais, tanto quanto as doações para outros partidos e campanhas, inclusive a de Aécio.

Então, o roteiro é este. Se Dilma e o PT saírem da letargia em que se encontram, têm algum tempo para tentar sair do labirinto. Mas isso exige disposição para o confronto, inclusive com os algozes de dentro do próprio Estado, como a Lava Jato do Juiz Moro e a Polícia Federal em que ninguém manda. Pedalando sua bicicleta e elogiando as ações da PF Dilma não irá longe.


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