POLÍTICA

Professor de Economia explica como surge a corrupção na política

O professor titular do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Luiz Renato de Oliveira Lima, analisa em novo artigo no Portal WSCOM, corrupção e política.

“O conceito de seleção adversa tem sido recentemente empregado em estudos de economia política para explicar o surgimento de políticos corruptos.”

Leia o artigo na íntegra:

Corrupção e Política

A seleção de políticos honestos é o principal ponto de governança pública, especialmente nos países em desenvolvimento onde grande parte da população sofre com a falta de saúde, educação e moradia de qualidade. No Brasil, observamos inúmeros casos de corrupção envolvendo políticos e não percebemos uma melhora neste quadro mesmo com a presença da operação lava jato. Diante desta situação nos deparamos com a seguinte pergunta: Por que nossos políticos são tão corruptos?

Em economia aprendemos que as nossas escolhas dependem da informação que temos sobre os bens e serviços que adquirimos. Por exemplo, no mercado de carros usados é normal que o vendedor saiba mais sobre a qualidade do carro do que o comprador. Essa diferença em termos de informação pode induzir o consumidor a adquirir um carro com qualidade muito abaixo ao que ele esperava, ao mesmo tempo que proporciona ao vendedor um lucro acima do que ele mereceria caso revelasse ao consumidor a verdadeira qualidade do produto. Assim, essa assimetria de informação gera um desequilíbrio econômico que acaba favorecendo vendedores desonestos, em detrimento dos vendedores honestos. Temos então um problema que os economistas chamam de seleção adversa, ou seja, os vendedores honestos são substituídos pelos desonestos.

O conceito de seleção adversa tem sido recentemente empregado em estudos de economia política para explicar o surgimento de políticos corruptos. A ideia é bastante simples: suponha que corrupção gere um alto retorno financeiro, mas ao mesmo tempo requer o conhecimento de práticas criminosas altamente sofisticadas para ser executada. Em outras palavras, para se ganhar muito dinheiro com a corrupção, o político precisa saber como esconder dinheiro em contas no exterior, propor leis de abuso de autoridade, influenciar a nomeação de pessoas em cargos do serviço público, entre outros ilícitos. Neste sentido, o alto retorno financeiro proporcionado pela corrupção acaba atraindo para a política indivíduos com conhecimento em práticas delituosas bem sofisticadas, ou seja, gera-se um problema clássico de seleção adversa semelhante ao ilustrado no mercado de carros usados.

O parágrafo acima deixa claro que enquanto a corrupção gerar um alto retorno financeiro no Brasil, haverá políticos, com capacidade delituosa suficientemente sofisticada, dispostos a praticar o crime de corrupção. Milton Friedman (ganhador do prêmio Nobel de economia em 1976) mostrou que a corrupção é lucrativa em países que possuem excesso de leis e de burocracia. Ou seja, quando você tem que esperar 1 ano para conseguir uma licença da prefeitura para construir sua casa, logo aparece alguém oferecendo serviços escusos para se conseguir esta licença num prazo mais curto. Claramente, o excesso de burocracia ajuda a criar um mercado para a corrupção. Da mesma forma, países onde o Estado é excessivamente grande, ou seja, carga tributária elevada, muitas empresas estatais, grande intervenção estatal na economia, proporciona motivos para a ocorrência de mais casos de corrupção do que em países onde predomina a economia de mercado, com pouca intervenção estatal.

Portanto, o conceito de seleção adversa nos ensina que a exitosa operação lava jato não é suficiente para extirpar a corrupção do nosso país. O fim da corrupção depende, em última instância, da nossa capacidade em reduzir o excesso de leis e de burocracia na administração pública. Enquanto a corrupção oferecer um alto retorno financeiro, haverá sempre políticos desonestos dispostos a praticá-la.

Luiz Renato Regis de Oliveira Lima – Ph.D. em economia pela University of Illinois-Estados Unidos e Professor Titular da UFPB.

 

WSCOM


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