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Supermercados: a locomotiva do varejo para crescer mesmo na crise

Por Walter Santos

O presidente da Abras, o paraense Fernando Teruó Yamada, presidente do Grupo Y.Yamada, é o primeiro presidente nortista da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), entidade que este ano completa 47 anos de atividade. Nesta entrevista, Yamada fala do grande desenvolvimento do setor no Brasil, das perspectivas de vendas para este ano, das tendências de consumo, mesmo com a crise político-econômica atual. O presidente também revela todo o trabalho que está sendo desenvolvido pela entidade para fazer os supermercados e todos os setores de Comércio e Serviços evoluírem ainda mais neste e nos próximos anos. A ideia é contribuir para alavancar o desenvolvimento do Brasil a partir do setor supermercadista.

 

Revista NORDESTE: O setor de supermercados é um dos mais bem estruturados do Brasil e está na vanguarda da economia brasileira. Como o senhor resume o desempenho do setor nos últimos anos e qual a perspectiva de crescimento para este ano?
Fernando Yamada: O setor supermercadista brasileiro cresceu por 11 anos seguidos. No ano passado, o crescimento foi um pouco menor, mas ainda positivo, chegando a 1,8% real, com faturamento de R$ 294 bilhões. Este ano, a estimativa atual é um pouco menos otimista devido ao cenário político-econômico atual do país e, portanto, temos a previsão de fechar o ano com um crescimento no mínimo estável ante o ano anterior. Lembro que o setor de supermercados, como atividade essencial para o abastecimento de alimentos, é tradicionalmente dos últimos setores a sentir a crise e dos primeiros a sair dela.

NORDESTE: Qual a perspectiva de investimentos e geração de empregos neste ano?
Yamada: O setor supermercadista continua confiando no potencial do Brasil e, portanto, continua investindo em novas lojas e gerando empregos, principalmente com recursos próprios, pois há muitas oportunidades de crescimento pelo país afora, mesmo enfrentando os desafios atuais. Hoje o setor, com suas mais de 84 mil lojas em todo o país, emprega mais de 1,765 milhão de funcionários diretos. Somado empregos indiretos, esse número chega a cerca de 6,8 milhões de trabalhadores. Portanto, é um dos setores que mais empregam no País. E, neste cenário, ao contrário de outros setores mais afetados pela crise, nós trabalhamos para manter estáveis milhões de empregos, porque nosso setor é muito competitivo e atua pela fide

lidade de compra do consumidor, com cada loja, com sua equipe de pessoal, procurando oferecer sempre melhores opções de produtos e serviços.

NORDESTE: Como o senhor avalia o andamento da economia e o nível de confiança atual do consumidor brasileiro?
Yamada: Diversos eventos colaboraram para diminuir a confiança do consumidor brasileiro este ano. Está na hora de mudar. Sabemos que o mundo está em crise financeira porque o setor financeiro é um dos pilares da economia internacional e passa por um momento ruim. Como muitos países dependem demais do crédito para o estímulo ao consumo e à produção, o crescimento está comprometido, é o caso da Europa, por exemplo. O Brasil não era tão dependente do crédito, mas nos últimos anos caminhamos nesse sentido. Em grande medida, o poder de compra do brasileiro cresceu por causa da maior oferta de crédito ao mercado consumidor dos últimos anos. Agora, com a diminuição do crédito, com o aumento da taxa de desemprego e a consequente diminuição da massa salarial, o consumidor, mesmo que não tenha sua renda comprometida, fica com medo de consumir. É esse círculo vicioso que precisamos mudar. É preciso ativar o potencial de confiança do consumidor brasileiro no País.

NORDESTE: Quais são hoje as principais tendências de consumo no mercado brasileiro?
Yamada: O consumidor não quer perder o padrão de consumo adquirido no passado. Ao invés de deixar de comprar, ele passa a racionalizar as suas compras, mais atentos a preço e qualidade, e focados em promoções e ofertas. Independentemente da fase atual da economia, o consumidor brasileiro está aprendendo a consumir com mais qualidade e está cada vez mais exigente. Então, o que se vê são os brasileiros comprando produtos saudáveis, produtos com diferenciais, mais benfeitos, mais eficientes, enfim, produtos com maior valor agregado e essa é uma oportunidade e tanto para os supermercados e também para as indústrias investirem em produtos mais qualificados. Esses produtos de qualidade estão cada vez mais demandados porque o brasileiro está aprendendo a consumir o que tem qualidade, ele tem descoberto que vale a pena fazê-lo por causa do custo-benefício. Claro que um momento de piora da condição financeira ajuda a diminuir esse estímulo, mas há uma mudança de mentalidade que torna o consumidor brasileiro mais exigente do que era, independentemente da classe econômica a que pertença. Isso é muito bom e é fruto da maior educação para o consumo do brasileiro. A educação é mais importante para o consumo de qualidade do que o poder aquisitivo. Não é o poder aquisitivo que faz o consumidor optar por esses produtos, é a educação. O que tem impacto na rentabilidade do setor é a educação para o consumo.

NORDESTE: Como líder supermercadista, o senhor à frente da ABRAS tem trabalhado para obter uma série de reivindicações junto aos Poderes Executivo e Legislativo para que o setor possa se desenvolver ainda mais, quais são essas reivindicações?
Yamada: A ABRAS nesses anos todos de atividades consolidou um trabalho institucional forte em Brasília. Prova do que digo é que, antigamente, a Abras ia atrás dos órgãos governamentais para participar da solução de problemas relativos ao setor, ao consumidor, à sociedade. Hoje, esses órgãos vêm atrás de nós, eles procuram a ABRAS, muito em função de que a entidade se preocupa com o consumidor de fato e os órgãos governamentais reconhecem a preocupação da Abras com o cidadão. As entidades públicas têm o dever de promover o bem dos cidadãos e, por saberem que a entidade estuda, se dedica, se preocupa e entende o cidadão, como consumidor, elas nos procuram. Mas percebemos que podemos fazer mais, queremos participar de fato das grandes decisões do País. Por isso, no ano passado nos unimos com outras seis entidades do varejo e criamos a UNECS, União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços. A UNECS é fruto do movimento de mudança cultural com base na convergência, em que buscamos a união de todo o comércio e serviços. Entre nossos objetivos estão, por exemplo, a simplificação tributária e a regularização dos meios de pagamento. Da UNECS, além da Abras, fazem parte: a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD); a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco); a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB); a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel); e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

NORDESTE: Todo esse movimento levou a UNECS, sob a sua coordenação, a apoiar a criação da nova Frente Parlamentar na Câmara dos Deputados. Como se deu esse processo?
Yamada: Foram os próprios parlamentares, nas reuniões que tivemos na Câmara dos Deputados, em Brasília, que, percebendo a força da UNECS, resolveram criar a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Comércio, Serviços e Empreendedorismo, em 9 de abril deste ano. A Frente já nasceu com ampla participação dos parlamentares – 250 deputados e 21 senadores – e com uma plataforma de trabalho definida e estruturada, que busca objetivos como: Simplificação da carga tributária; Desburocratização; Regulamentação dos meios de pagamento; Estímulo à qualificação profissional; Estabelecimento de acordos bilaterais de comércio e Fomento do consumo, por meio do mercado de capitais. Propostas que nós apoiamos, porque unidos, nós e os parlamentares, deputados e senadores, podemos mudar esse cenário e fazer o Brasil crescer. A iniciativa de criação de uma Frente Parlamentar, para tratar dos assuntos concernentes ao setor de Comércio e Serviços que representa 67,4% do PIB nacional e mais de 70% dos empregos formais, surgiu dos deputados Manoel Junior (PMDB/PB) e Rogério Marinho (PSDB/RN) ao perceberem que, mesmo com os números que o setor vem apresentando, mostra-se necessário um esforço contínuo para apresentar ao Congresso Nacional seus anseios e eventuais demandas. Além disso, a Frente recebeu o forte apoio do deputado Laércio Oliveira (Solidariedade/SE), que abdicou da criação da Frente de Serviços, para que essa Frente fosse criada.

NORDESTE: No contexto de evolução do mercado de consumo brasileiro, o que significam os nove estados do Nordeste?
Yamada: Hoje, sem dúvida, as regiões Norte e Nordeste são o carro-chefe do crescimento do Brasil. A grandeza do Norte e Nordeste está na sua gente, na sua maravilhosa cultura, e também na força do empreendedorismo, com a geração de emprego e renda, para a melhoria da vida de todos os cidadãos, para que eles possam consumir mais e melhor. Independentemente do momento econômico atual, nós como varejistas sempre encontramos boas expectativas de crescimento. A crise é a nossa oportunidade para inovar e crescer, cumprindo o objetivo de atender cada vez melhor a nossos consumidores, do Norte e Nordeste ao Sul do País.

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